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Sem “aposentadoria”: os desafios e benefícios de empreender ou trabalhar depois dos 50 anos

Beth Navas, Cofounder da Pulses / Foto: Divulgação

Segundo dados do Sebrae, metade dos empreendedores brasileiros (49%) têm entre 25 e 44 anos. Mas isso não quer dizer que não há espaço e mercado para os empreendedores seniores. Inclusive, um levantamento feito pelo IBGE aponta que os empreendedores com 65 anos ou mais são os que mais empregam no país. 

O problema, na verdade, não é empreender, mas passar pelo preconceito em relação à idade, que, conforme pesquisa do Infojobs, 70% dos profissionais com mais de 40 anos já sofreram preconceito por essa causa.

Em Florianópolis, Beth Navas entra na estatística de empreendedores maduros. Aos 57 anos, fundou a Ágora Gestão de Pessoas ao lado do filho. Em 2016, decidiram dar mais um passo e fundaram a Pulses, no qual Beth optou por contribuir com sua expertise no time de People Science. Para saber mais dessa história e de como é se reinventar depois de aposentada, confira o nosso Economia SC Drops abaixo.

Quando e como foi que você percebeu que precisava se reinventar? 

Beth: Em 2008 eu já estava aposentada pelo INSS, mas continuei trabalhando na universidade como docente na graduação e no mestrado. No entanto, não estava satisfeita e feliz com o trabalho e com a organização. Preferia trabalhar somente no mestrado, mas eu não tinha essa opção. Fui diagnosticada com Burnout e, nesse momento, compreendi que era momento de pensar em outras possibilidades. Então, iniciei meu planejamento para me afastar definitivamente da universidade e me dedicar às atividades que realmente faziam sentido para mim.  Sempre atenta às demandas do mercado, fiz cursos diversos para atender as diferentes necessidades das organizações. Em conversa com meu filho, ele também entendeu que era o momento de sair da organização em que trabalhava para alçar novos voos e já estava em processo de aperfeiçoamento contínuo. Em 2010, abrimos uma consultoria especializada em treinamentos comportamentais, coaching, mentoria, programas de formação de equipes e gerenciais, dentre outros, e eu, além de atuar em programas pontuais, continuei trabalhando na universidade até agosto de 2012, quando pedi demissão. Para que a consultoria pudesse crescer e expandir suas intervenções, fizemos parceria com uma escola de negócios. Criamos a Ágora Entertraining, contratamos consultores e profissionais capacitados, diversificamos e desenvolvemos outros negócios, dentre eles a Pulses, onde trabalhamos atualmente.

Quais foram os desafios em empreender sendo mulher e depois dos 50 anos?

Beth: Eu era muito conhecida no mercado de RH, pois fui docente por 22 anos no curso de graduação em psicologia organizacional e do trabalho. Acompanhei muitos estágios e pesquisas em diferentes segmentos. Meu filho sempre foi muito respeitado na área em que atuamos. Planejamos a abertura da empresa com muita antecedência, estudando as demandas do mercado, aperfeiçoando com cursos diversos. Trabalhamos arduamente para dar sustentação ao negócio que foi se transformando e crescendo durante esses 12 anos. Procurei cobrir todos os possíveis riscos e mesmo que tudo desse errado, ainda teria uma renda. 

Profissionais acima dos 40 anos ainda sofrem grandes dificuldades em recolocação no mercado. Por que existe esse “receio” em contratar profissionais maduros? 

Beth: O grande desafio continua sendo lidar com o preconceito etário e promover a confiança e autoestima dos profissionais acima dos 40 anos, para que consigam desenvolver o seu melhor potencial. Existe uma crença limitante, que coloca as pessoas em determinadas caixinhas, com determinadas características e que a partir de certa idade têm dificuldades irreversíveis para acompanhar, principalmente o desenvolvimento tecnológico que tem sido exigido em grande parte das organizações. Muitas atitudes discriminatórias das pessoas são reforçadas por normas e políticas sociais e organizacionais extremamente preconceituosas. No entanto, dados do IBGE apontam para transformações significativas em nossa pirâmide etária e, consequentemente, dentro de nossas organizações: há um aumento da idade média da força de trabalho e uma diminuição no número de trabalhadores mais jovens, requerendo uma mudança de mentalidade. Com a necessidade de contar com uma mão de obra mais envelhecida, as empresas deverão repensar como melhorar as habilidades destes profissionais de forma contínua e não tradicional, para navegar em ambientes formais e informais de aprendizagem. Ainda temos um longo caminho a percorrer.

Quais as vantagens ao contratar profissionais acima de 40, 50 e 60 anos?

Beth: Estudos apontam diversos benefícios da implantação de um programa de diversidade etária, e estão positivamente associados a uma melhoria de desempenho organizacional através da mediação do capital humano e social (LI et al, 2021). Além disso, como os demais pilares da diversidade, ela traz inovação, melhorias no clima organizacional, maior engajamento nos times de trabalho, aumento de produtividade e melhores resultados.

As pessoas ainda têm medo de se arriscar e recomeçar depois de uma certa idade. Quais conselhos você pode dar a quem está pensando em dar esse passo?

Beth: Para mim foi, e continua sendo, uma libertação. Trabalhar com atividades desafiadoras, aprender coisas novas diariamente, superar meus receios, ter contato com diferentes pessoas, de diferentes idades e formações, tem sido uma experiência muito gratificante. Eu me planejei com muita antecedência, inclusive financeiramente, fiz vários exercícios de prós e contras determinadas decisões. Anotava tudo o que iria ganhar e perder ao deixar um emprego fixo e partir para um mundo até então desconhecido. Não me arrependo! A atenção às demandas do mercado foram, e continuam sendo, fundamentais para orientar na decisão de realizar diversos estudos de aperfeiçoamento. Ainda hoje continuo aprendendo, pesquisando e lendo temas que são relevantes para a empresa, no atual estágio de desenvolvimento. Não dá para achar que sabemos tudo, pois o cenário está em constante mudança.

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