Por Reynaldo Goto, diretor de compliance da BRF, com colaboração de Lucas Espíndola, analista de Compliance da BRF.
A tecnologia pode ser uma grande aliada ou um sério desafio para os profissionais da área de compliance.
As constantes mudanças tecnológicas, grande volume de dados e a variedade de temas exigem cada vez mais uma migração dos sistemas analógicos ou semiautomáticos para soluções ágeis e aderentes às realidades desafiadoras das empresas.
Empresas de tecnologia, cujo principal bem comercializado é a informação, estão no topo do ranking das marcas mais valiosas do mundo.
Essas empresas não produzem bens tangíveis como celulares ou geladeiras, mas formas de se conectar, de encurtar distâncias e de remodelar os relacionamentos sociais.
Por outro lado, além do avanço econômico dessas empresas, também são constantes e crescentes os casos de fraudes no ambiente digital, com grandes desvios e prejuízos para as empresas.
Em 2006, o matemático Clive Humby cunhou a famosa expressão “Os dados são o novo petróleo”, alertando para a importância relacionada a valorização das informações.
A utilização da infinidade de dados disponíveis nas redes, bem como dos softwares e ferramentas tecnológicas necessárias para sua organização e manipulação, permitiram que as empresas atendessem aos consumidores com demandas por produtos e serviços personalizados, quando, onde e como quiserem.
O fluxo financeiro global também se intensificou, assim como o interesse de grandes fraudadores e, adicionalmente, o aumento da participação das pessoas nas redes sociais tornou possível o desenvolvimento de novos modelos de negócios, que também devem ser objeto das matrizes de risco das empresas e, consequentemente, dos seus Sistemas de Integridade.
Mesmo assim, muito profissionais da área de Compliance ainda não se adaptaram a essa realidade, limitando o uso de tecnologias para atividades simples, como treinamentos virtuais ou sistemas para captura de assinaturas digitais.
É neste cenário de um mundo interconectado, onde novos desafios surgem na mesma velocidade das tecnologias que os acompanham, que a área de compliance está inserida, sendo demandada por um fluxo enorme de dados que podem gerar os mais variados tipos de risco para a empresa.
Fica evidente a necessidade de se adaptar a esta nova era, com a contratação de softwares de ciber security, de data loss prevention e, primordialmente, da remodelação do programa de compliance, dedicando novos capítulos dos códigos de conduta, das políticas e normas corporativas e da análise de risco que as transformações digitais trazem.
Não se espera que profissionais de compliance se tornem experts em tecnologia, porém algumas provocações são necessárias para que se tenha uma atenção à esta realidade.
Temos ferramentas com base em tecnologia big data para os processos de análises reputacionais, fundamentais não apenas para aumentar a efetividade, mas também para reduzir o tempo médio de análises.
Soluções com sistemas de workflow garantem aos compliance officers não apenas o adequado registro e rastreabilidade, mas também o atendimento das normativas internas como alçadas de aprovação para transações consideras de risco como brindes, presentes, doações, patrocínios, controle de treinamentos e interações com órgãos governamentais.
Soluções tecnológicas de monitoramento igualmente protegem as empresas de temas relacionados a vazamento de informações e aumentam a efetividade dos processos de investigação.
A adoção dessas tecnologias seguramente requer investimentos e muitas vezes pode se tornar inviável economicamente para muitas empresas.
Por isso um bom planejamento, análise de integração e interação com os sistemas existentes e uma criteriosa análise de sua operacionalização é fundamental para o sucesso de sua adoção.
Uma fronteira ainda pouco explorada, mas que já apresenta grandes discussões, é a relacionada aos sistemas com base em tecnologias de Inteligência Artificial.
As decisões são baseadas na ética e moral das pessoas, porém quando esse processo decisório é atribuído à uma máquina nova discussões surgem com relação aos critérios de programação e forma de aprendizado ou replicação das máquinas de erros humanos ou vieses inconscientes programados tecnicamente.
A seleção de um candidato a emprego, o atropelamento por um carro autônomo ou o bloqueio de crédito com base em sistemas a base de inteligência artificial são alguns exemplos visíveis de um novo campo de atuação ainda pouco discutido pelos profissionais da área de Compliance.
Em um mercado ainda em franca expansão, as tecnologias voltadas para os Sistemas de Integridade também apresentam uma série de oportunidades para aqueles que querem investir e se desenvolver em um segmento com grande potencial e com crescente demanda frente aos grandes desafios de melhoria contínua exigidos não apenas pelos profissionais da área, mas também pelos órgãos reguladores que monitoram os Sistemas das empresas.