Preciso confessar: assistir reality show é meu guilty pleasure. Nem sempre consigo um tempo ocioso, mas de vez em quando gosto de espairecer vendo Sugar Rush e RuPaul´s Drag Race.
Eu não sou a única que gosta de um reality. O Big Brother Brasil está no ar há mais de duas décadas, retém praticamente todos os recordes de audiência da Globo. Os brasileiros gostam tanto de BBB que o nosso é o de maior audiência do mudo, ultrapassando a edição americana.
Ninguém passa ileso ao BBB. Mesmo que você não goste, você vai falar dele, nem que seja para criticar.
Em resumo, cerca de 20 pessoas, entre famosos e anônimos, são confinados numa casa, filmados 24 horas por dia, durante 3 meses.
Os participantes fazem provas que geram prêmios e semanalmente alguém é eliminado. O último levará o prêmio de R$1,5 milhão, mas há muito mais do que isso em jogo.
Queira ou não, você vai ouvir o nome dos participantes, vai saber quem não lava a louça ou tem preguiça de tomar banho, quem está de olho em quem.
Somos seres sociais, não há entretenimento melhor para um ser humano do que outro ser humano. Que dirá 20!
Como pode algo tão trivial, gerar tanto engajamento e até mesmo vendas? O Big Brother não vende produto ou serviço. Pode ser assistido de forma gratuita a qualquer hora do dia ou da noite. Rendeu à emissora um valor estimado em R$v1 bilhão em patrocínio, que claro, as marcas que investem esperam o seu retorno.
O fator chave em comum tanto para o entretenimento quanto para vendas é capturar a atenção das pessoas.
ATENÇÃO = VENDAS
O modelo de reality show é desenhado para manter o espectador preso à tela, e envolvido emocionalmente com o programa. Um reality pode ser de competição, transformação ou confinamento, e o BBB é um híbrido dos três modelos.
Narrativas irresistíveis, conflitos entre pessoas de perfis diferentes, histórias de vida emocionantes, paixões, festas. É imprevisível, cheio de altos e baixos, de heróis e vilões, que permite que praticamente todo espectador consiga se identificar com alguém, dar audiência à emissora e juntar-se ao buzz das mídias sociais. São 90 dias de uso de muitas estratégias de psicologia e marketing para manter o hype.
Dias antes da estreia do BBB, o Google já apontou buscas como “BBB23 participantes”, pessoas comuns copiando o vídeo de anúncio e tutoriais de como bloquear o assunto. “Fale bem ou fale mal, mas fale de mim”, pode facilmente ser o lema do Big Brother.
VENDE PORQUE É SIMPLES
Como profissional de marketing, uma das principais funções do meu trabalho é buscar entender o ser humano. E eu acredito que as pessoas gostam de coisas fáceis.
Na minha opinião, a baixa complexidade do BBB é um dos segredos do sucesso. O programa é fácil de entender. A qualidade pode dividir opiniões, mas é inegável que prende a atenção. Entretém sem exigir esforços.
VENDE PORQUE CONECTA
O ser humano não consegue resistir a uma boa história. Especialmente se tiver intrigas, alianças, vitórias, derrotas, reviravoltas.
Participantes “gente como a gente” geram identificação. É inevitável acompanhar e escolher seus preferidos. Ou mesmo, escolher seus heróis e cancelar seus inimigos.
Os participantes se emocionam com frequência, e a emoção é de certa forma, contagiante. O público se emociona junto. Defendo a teoria que toda venda é emocional. O racional só é desenvolvido para justificar a compra.
E comprar um produto igual ao de alguém que se admira gera uma sensação de conexão, o que explica porque o marketing de influência é tão poderoso
VENDE PORQUE É VISTO
Após patrocinar uma prova de líder, em 2021, a Samsung esgotou as vendas do aparelho exibido no BBB em 24 horas.
Só a conta oficial do BBB no Tiktok tem mais de 4.7 milhões de seguidores e mais de 100 milhões de curtidas, o que permite muita exposição de produtos.
VENDE PORQUE PERMITE SONHAR
Na última edição, 16 participantes ganharam mais de um milhão de seguidores em redes sociais. É muito mais do que quinze minutos de fama. É o potencial de uma pessoa comum se tornar a próxima Juliette.