Nesta sexta-feira, dia 23 de junho, comemora-se o Dia Internacional da Mulher na Engenharia. Instituída em 2014 pela Women’s Engineering Society, sociedade britânica que reúne entidades acadêmicas e profissionais para promover o relacionamento entre engenheiras, cientistas e tecnólogas, a data reforça e celebra a presença das mulheres na engenharia, profissão majoritariamente masculina até os dias atuais.
No Brasil, o panorama não é diferente: as mulheres representam apenas 20% do total de profissionais engenheiros cadastrados nos 27 conselhos regionais de engenharia e agronomia (CREAs), segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) divulgados em fevereiro deste ano.
Foi a situação encontrada por Paula Lunardelli, engenheira civil e CEO da Prevision, ainda na universidade: segundo a profissional, em uma sala de 50 alunos apenas 5 eram mulheres.No entanto, apesar de defender a carreira ativamente, Paula revela que essa não era a sua primeira opção de curso.
“Na minha época de formação, a engenharia não tinha nem um pouco de charme. Eu era muito nova, e achava que eu queria cursar arquitetura. Prestei o vestibular e acabei passando em engenharia, que era a minha segunda opção”, explica.
Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (USFC), a profissional conta que o desequilíbrio entre os gêneros continuou por todo o curso e, das 5 mulheres, somente 3 se graduaram como engenheiras civis.
Cenário que não mudou muito: segundo o último Censo de Educação Superior, referente ao ano de 2021, apenas 36% dos alunos que concluíram o ensino superior nas áreas de engenharia, produção e construção eram do público feminino, de acordo com a divulgação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
“Sem dúvida alguma as coisas foram mais difíceis pelo fato de eu ser mulher. Eu sempre defendi que todo mundo era importante para o processo, do servente ao dono da obra. Mas o fato de eu ser mulher fez com que eu tivesse uma sensibilidade maior diante dos desafios do setor e na busca de equiparação entre os profissionais envolvidos na cadeia produtiva. O respeito à posição de cada um me colocou em um papel de colaboração e, também por isso, os valores e a cultura da Prevision são a nossa principal força”, revela Paula, que atualmente lidera um time 50% feminino na Prevision, plataforma especialista em lean construction que faz parte da Softplan.
Apesar da dificuldade inicial na construção, ela encontrou na sustentabilidade e no planejamento o propósito de fazer a diferença por meio da engenharia:
“No final da faculdade, eu quase desisti do curso, pois não enxergava propósito na engenharia, as pessoas não falavam sobre transformação, de impacto, de sustentabilidade. Na época, falar de sustentabilidade ainda era algo muito inédito para a construção civil. E esse foi o fator que me fez ficar. Fiz meu trabalho de conclusão de curso sobre isso e comecei a entender que, justamente por ser um setor com pouca transformação e visão, eu poderia gerar uma maior contribuição”
Já atuante no mercado de trabalho, em 2015 a executiva foi desafiada a reduzir 75% do custo de obra em 4 meses, perante o cenário de crise vigente. Ao observar que as ferramentas já existentes não trariam o resultado necessário em tão pouco tempo, criou uma plataforma que usa a metodologia de Linhas de Balanço (Lean Construction) para prever o melhor cenário de planejamento da obra. Conectada ao orçamento, a tecnologia garante redução de desperdícios e otimização da alocação de recursos.
A Prevision, então, foi fundada para resolver um problema real da construção no Brasil. Em março deste ano, a empresa foi adquirida pela Softplan e passou a integrar o Ecossistema Tecnológico da Indústria da Construção, liderado pelo Sienge e formado também por CV CRM, Collabo e eCustos.
De acordo com Alejandra Nadruz, diretora de gente & cultura do Grupo Softplan, a diversidade de gênero leva mais resultados para as empresas:
“Quando falamos da participação das mulheres no mercado de tecnologia ou engenharia, temos que trabalhar mais a equidade de gênero, pois se excluirmos as mulheres neste cenário, teremos um grande retrocesso, não só como sociedade, mas na parte de transformação digital, proporcionando melhores soluções para as pessoas e países”.