Por Lúcia Mees, gerente de tecnologia e inovação na IPM Sistemas.
O Brasil foi reconhecido pelo Banco Mundial como o segundo país do mundo em maturidade do Governo digital. Dizer que essa conquista choca muita gente é, como dizem por aí, “chover no molhado”. Afinal, lideramos em tecnologia a nível federal, mas vivemos em um país de estatísticas alarmantes que já não são novidade para ninguém. A pesquisa por “ineficiência na gestão pública” traz mais de 16,2 milhões de resultados apenas no Google, enquanto na saúde pública, da qual 7 em cada 10 brasileiros dependem, a fila de espera por cirurgias superou 1 milhão de pessoas em junho de 2023. Com um impacto de dimensões continentais e adversidades na mesma proporção, as urgências no serviço público são recorrentes no dia a dia dos brasileiros, causa de desperdício de dinheiro público, e grave ameaça ao desenvolvimento do país.
A explicação é mais simples do que parece: o ranking do Banco Mundial mostra que investimos em tecnologia a nível federal, mas é nítido o quanto esquecemos da espera municipal, onde a vida – e os desafios – acontecem. Como consequência, boa parte da nação segue vivendo em realidades preocupantes, tendo a inacessibilidade do serviço público como regra: 44% das pessoas não conhecem ou nunca utilizaram algum serviço público digital, segundo o BID. O resultado desse descompasso não poderia ser diferente: não conseguimos resolver nossos desafios principais no setor público.
A resposta a isso tudo, claro, começa pela gestão pública, e precisa ir além da esfera nacional. No setor responsável pelos serviços mais essenciais do país, como a saúde e a educação, o desenvolvimento segue em descompasso com as necessidades da população. Muita coisa ainda é feita da mesma forma que era nos anos 80 e 90, com processos em papel, sistemas manuais e acessíveis somente localmente, e gestão fragmentada. Em minha experiência em liderança na IPM Sistemas, empresa de tecnologia e inovação para gestão pública, não é incomum iniciarmos projetos de transformação digital em Prefeituras com mais de 300 sistemas de gestão e ferramentas de dados coexistindo. É ingênuo pensar que há administração eficiente ou inteligente diante desse contexto. Independentemente de como se observe a situação, a transformação da realidade de urgências para uma de eficiência e resultado começa pela tecnologia e inovação na administração pública.
O setor precisa inovar, e para isso precisa de ferramentas adequadas, time engajado, e foco total no cidadão, seu público final. Ou seja, é um processo de fortalecimento e atualização até de cultura, reconhecendo o foco no serviço à população e criando um espaço de eficiência, melhoria contínua, e evolução tecnológica, o que requer engajamento e comprometimento com a inovação. Estamos falando de gestão pública. Portanto, estamos falando de pessoas, legislações, órgãos e regiões impactados pela inovação, e que dela devem ser cocriadores. O trabalho de desfazer o nó burocrático por trás das organizações requer um nível de engajamento compatível com a magnitude do impacto final, trazendo para a ação gestores públicos, pesquisadores, e especialistas das áreas pública e privada. Afinal, a especificidade e o intrincamento da operação requerem engajamento coletivo, seja ele espontâneo ou potencializado pela liderança.
Na gestão pública, em especial, a complexidade de processos e excesso de fiscalização de órgãos reguladores criam incentivos contrários à inovação, pois qualquer ideia diferente acaba sendo alvo de questionamento ao sair do caminho já conhecido e validado. É o processo correto, mas que também recompensa a obsolescência: não se inova fazendo as coisas da forma como elas sempre foram feitas. Assim, as parcerias com a área privada e compras públicas de soluções padrão de mercado, como os SaaS em tecnologia, são dois caminhos que aproveitam a velocidade e competição corporativa, colhem os benefícios de práticas validadas em um contexto mais amplo, e preservam o tempo e recursos públicos para suas atividades de maior impacto (seu core business), a serviço da sociedade.
Os resultados dessa missão de evolução e transformação do setor público permitem criar realidades que surpreendem. Só em 2022, aqui, na IPM, facilitamos mais de 150 milhões de atendimentos digitais ao cidadão, sem filas, e sem precisar de deslocamento. Em algumas cidades, o investimento em tecnologia na saúde pública levou a redução de 80% nas filas de espera nas Unidades Básicas de Saúde. Em outro estado, uma cidade reduziu em 94% o tempo do trâmite interno de seus processos – e centenas hoje seguem o mesmo caminho. Onde quer que se olhe, a criação de uma cultura de inovação com foco no cidadão e na eficiência, e pautada pelo investimento em tecnologia moderna, dá resultado e faz a diferença para a sociedade.
O segredo de tudo isso é estruturar uma organização que visa cocriar o futuro, e não apenas ser plateia da transformação, e trabalhar junto ao setor público nessa jornada. Na IPM, temos nos reinventado ano após ano, e transformado o setor público conosco. E entendemos, em conjunto, que não basta tecnologia. O foco bilateral é em inovação e tecnologia para o presente e o futuro de cidades e pessoas, em uma jornada contínua de evolução. E é esse propósito singular que nos permite seguir redefinindo os limites da imaginação e da realidade, construindo um Brasil que já deu certo.