Por Juan Hugo Pereira, especialista em investimentos da Unicred Central Conexão.
Essa pergunta é um tanto complexa, mas pode ser respondida de diversas formas e de fato, não existe uma resposta certa ou errada. A felicidade é relativa e muitas vezes uma medida de comparação, ou seja, somos observadores e tomamos como base a felicidade associada ao contexto social.
A primeira associação de felicidade das pessoas está ligada ao aparato financeiro, ou seja, o sucesso financeiro é um fator que contribui para a felicidade. Na economia uma das medidas de bem-estar da população é o consumo. Vejamos, se nós temos maior capacidade financeira, maior poder de compra, consequentemente nós vamos ter possibilidade de consumir em maior quantidade. Então pronto, consumindo mais, seremos mais felizes? Não, porque a felicidade não está ligada somente ao consumo propriamente dito. E será que o consumo puro e excessivo realmente contribui para a felicidade? Ou deveríamos considerar o consumo que gera bem-estar? Neste caso, falamos de usar o dinheiro para o que realmente importa para cada um de nós.
Nesse sentido, precisamos diferenciar o conceito de gasto supérfluo que cabe no orçamento e gera bem-estar, daquele outro tipo de gasto, muitas vezes por impulso, que se torna um desperdício financeiro. Segundo Paul Dolan, PhD em ciências do comportamento e professor da London School of Economics, por meio de anos de estudo nas áreas de saúde e felicidade, definir o que é felicidade também é relativo, mas de uma forma simples, felicidade são experiências de prazer e propósito ao longo do tempo. Pois bem, com esta afirmação podemos determinar que a felicidade de certa forma pode ser construída. Mas como assim? Ao longo da nossa vida temos diversos momentos de alegria e tristeza, são partes de um ciclo de aprendizado humano e muitas vezes está fora do nosso controle, ou seja, sofremos com armadilhas das externalidades.
O que quero salientar é que o objetivo intrínseco dos seres humanos é ter momentos de prazer, sendo determinados muitas vezes de forma simples com aquelas pessoas que amamos. E isso mostra que a felicidade em si não depende de dinheiro. Esforçar-se ao longo dos anos para proporcionar momentos felizes em família geram maiores graus de felicidade coletiva, que muitas vezes não estão ligados ao consumo e sim a momentos geradores de utilidade social. Podemos ver que existe uma correlação com propósito ao longo do tempo citado por Paul Dolan em seu livro felicidade construída. Onde a determinação de propósito nos induz para um caminho de continuidade, podemos associar com um plano de longo prazo que é usado em planejamento financeiro por exemplo, ou seja, saber para onde seu navio deve apontar e aonde é seu destino.
Tomando como base o que construímos até aqui, pergunto, será que estamos totalmente à frente de nossas decisões? Eu diria que não! Por quê? Simplesmente porque somos seres emocionais e suscetíveis às externalidades, ou seja, somos altamente influenciados. A influência ocorre desde que nascemos, em nossa família fortemente e culturalmente de acordo com a nossa realidade geográfica. Diante de um contexto de decisões, é importante ressaltar a importância da arquitetura de escolhas. Ou o termo utilizado de forma unânime dentro da economia comportamental, Nudge.
Richard Thaler, economista e vencedor do Nobel de economia em 2017, também pesquisador conjunto com o grande expoente da economia comportamental da atualidade, Daniel Kahneman, escreveu o livro Nudge, exemplificando modelos de tomada de decisão, onde as escolhas sofrem influência direta da disposição das ideias e do meio que são expostas, podemos colocar isto como um efeito enquadramento, onde ideias podem ser induzidas por um padrão. Na busca por compreender como as pessoas trocam custos e benefícios ao longo de suas vidas, entra o contexto metodológico da ciência comportamental, abrangendo as escolhas intertemporais, envolvendo psicologia e economia. Muitas de nossas escolhas não fazem sentido, entram no contexto da irracionalidade, por exemplo, um custo momentâneo que nos gera uma sensação de prazer de curto prazo, como compras que muitas vezes não geram um benefício de longo prazo.
Nesse caso temos uma analogia com miopia e hipermetropia, só que no âmbito financeiro, onde respectivamente uma nos impede de enxergar o longo prazo, sofrendo com o viés do presente e a outra o movimento contrário, nos impedindo de agir no presente. O ponto de reflexão que quero trazer, é que as pessoas formam suas características ao longo de suas vidas, com isso tem suas preferências reveladas e influenciadas por um contexto social. Dessa forma, os estados de felicidade sofrem variações de acordo com o nosso propósito de longo prazo, que quando trazidos para a consciência – um comportamento racional – nos faz abrir mão em determinados momentos das experiências de prazer em prol de um objetivo maior.
Já parou para pensar, quais são as escolhas que determinam seu estado de prazer e quais determinam o destino do seu propósito de vida? Deixo mais esta reflexão e o convite para que avalie suas escolhas intertemporais!