O setor de tecnologia no Brasil deve aumentar significativamente as contratações nos próximos anos. Só em Santa Catarina, um dos estados em que o mercado mais cresce, deve-se ultrapassar 100 mil postos de trabalhos ativos até o final de 2025.
O dado é projetado pelo Mapeamento de Vagas 2023, realizado pela Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e divulgado em maio deste ano.
A expansão já comum nas últimas décadas, com aumento significativo das contratações e alterações frequentes nas equipes, exige das empresas uma estruturação consistente da área de gestão de pessoas sobre segurança psicológica para atrair e reter talentos.
Mesmo o engajamento e a cultura organizacional podem estar comprometidos caso não recebam atenção especial, principalmente em momentos de expansão.
Este foi um dos desafios percebidos pelo Impact Hub Floripa, que é parte de uma rede global de empreendedorismo de impacto e está em 110 cidades e 60 países ao redor do mundo.
“A gente sempre teve um engajamento alto dos funcionários, mas em um momento de crescimento e durante a pandemia notamos diminuir, tanto o engajamento quanto nas percepções de clima organizacional. Pessoas importantes pediram para sair da empresa e isso mostrou que precisávamos olhar para esses movimentos de forma estratégica”, explica Luiza Melo Haubert, coordenadora de gestão de pessoas da Impact Hub Floripa.
Foi então que começou uma parceria com a Floway, que já dura três anos. A startup, fundada pela psicóloga Iara Sobrinho, faz mapeamentos sobre felicidade, bem-estar e segurança psicológica em organizações de pequeno, médio e grande porte:
“Um ponto interessante que descobrimos no diagnóstico é que o hub tem alta segurança psicológica”, conta.
Ou seja, colaboradores sentem-se livres para serem eles mesmos e atuar com autonomia. Por exemplo, nas conversas sobre bem-estar e saúde mental, as interações ocorrem entre eles no sentido de compreender o colega, com frases como “sinto muito que isso aconteceu com você” ou “eu queria ouvir mais” ditas um para os outros com frequência.
Resultados que geram ações
No mapeamento do Impact Hub Floripa em 2021, mesmo com os gargalos percebidos pela empresa na permanência de talentos, os resultados em segurança psicológica foram excepcionais, mas a saúde mental da equipe precisava de acompanhamento e ações específicas.
“As pessoas estavam estressadas. Isso considerando também que esses resultados são do final da pandemia, em um momento de traumas externos à organização, mas que influenciou no dia a dia do hub”, explica Iara.
Os dados do diagnóstico mostraram que fatores como sobrecarga, estresse e desalinhamento de comunicação precisavam ser melhorados por meio da gestão de pessoas. Mas, ao mesmo tempo, o indicador de governança e confiança nos líderes eram muito positivos.
“Essas eram questões que estavam relacionadas diretamente ao rápido crescimento da empresa. A gente entendeu [no diagnóstico] que uma das questões era que as pessoas precisam ter clareza e nitidez sobre onde elas precisavam chegar, em um momento em que nós mesmos começávamos a descobrir novas responsabilidades e atuações de uma empresa de maior porte”, conta Luiza.
Com isso, ambos definiram a estratégia de treinar as lideranças para que estas tivessem mais repertório e soluções para engajar a equipe, equilibrar as demandas do dia a dia, diminuir o estresse e alinhar a comunicação, tanto estratégica quanto tática e operacional. O pensamento era que, se as pessoas confiam nas lideranças, é mais fácil desdobrar boas ações por meio dos líderes para impactar toda a empresa.
Para melhorar os índices, desenvolveram em parceria com a startupuma série de ações, como o treinamento de líderes, uma consultoria para desenvolvimento dos OKRs de maneira mais clara e objetiva e uma roda de saúde mental e bem-estar quinzenal para falar sobre temas como ansiedade, estresse, felicidade e outros.
No ano passado, depois de aplicadas as ações, os números tiveram mudanças significativas. O engajamento se manteve alto, o indicador de felicidade subiu sutilmente e o de saúde mental melhorou consideravelmente, com menos sinais de estresse na equipe.
“O Hub sempre apresentou bons indicadores no geral, mas tinha algo acontecendo que não estava claro até então. O mapeamento de 2021 permitiu que entendêssemos onde estavam os pontos importantes e tomássemos ações assertivas que resolvessem os problemas de estresse e melhorassem a retenção de talentos entre as lideranças”, conta Iara.