A semelhança entre os mercados de tecnologia italiano e brasileiro, somada à cultura da Zucchetti de envolver talentos locais na entrada em novos mercados, foram alguns dos segredos do sucesso da expansão da multinacional italiana para o Brasil, iniciada há 12 anos.
Hoje, o mercado local já é o segundo maior em número de clientes, ficando atrás apenas da Itália, e é um dos mais importantes para a gigante, que está em 12 países e já fatura mais de R$ 10 bilhões por ano.
O vice-presidente executivo da multinacional, Dirk Schwindling, em visita recente ao Brasil, falou sobre a importância do país para a estratégia da empresa e sobre a necessidade de adaptação e mudanças rápidas para enfrentar cenários econômicos instáveis.
Como foi a chegada da Zucchetti no Brasil e quais os principais desafios?
Dirk: A entrada da Zucchetti no mercado brasileiro começou com a chegada do executivo italiano Alessio Mainardi, que hoje é o CEO das operações no Brasil. Naquela época, não havia um plano definido para o país, mas Alessio tomou a iniciativa de dar os primeiros passos. Justamente por não termos um plano, buscamos iniciar as operações aqui da forma mais segura possível para a Zucchetti. Iniciamos estabelecendo o negócio no ramo de ERPs, onde já somos consolidados na Itália. Mostramos ao headquarter que éramos capazes de sair da Europa, construindo também uma estratégia de negócios sustentável para o mercado brasileiro. Nos últimos anos, e isso é algo especial na cultura da Zucchetti, ficou claro que era necessário adaptar nossa filosofia e cultura originais para os outros mercados. É por isso que, para nós, é importante ter pessoas locais na construção dos novos negócios. Quando percebemos o potencial do mercado brasileiro, decidimos expandir nossas operações para além da nossa especialidade inicial em sistemas de ERP. Atualmente, 80% da companhia no Brasil é movida por tecnologias voltadas para o varejo e automação comercial, o que também nos traz a oportunidade de crescer com produtos complementares em torno do ponto de venda.
A Zucchetti atua no setor de tecnologia há muitos anos. O que diferencia o mercado brasileiro em termos de oportunidades e desafios?
Dirk: A grande oportunidade para nós, como uma companhia italiana, é o fato do mercado brasileiro ter muitas similaridades com o da Itália, que também é construído e impulsionado principalmente por pequenas e médias empresas. Ou seja, esse cenário é conhecido para nós. O desafio é que, como uma empresa europeia, temos que fazer mudanças. Somos uma companhia já bem sucedida e as mudanças sempre podem ser vistas como algo um pouco desconfortável. As pessoas locais nos impulsionam fortemente para implementar essas mudanças e construir algo fora da zona de conforto: novos processos, novas mudanças e assim por diante.
A Zucchetti já investiu mais de R$ 300 milhões em fusões e aquisições no Brasil. Como está o desempenho da empresa após essas aquisições e quais os próximos planos de crescimento em território nacional?
Dirk: A Zucchetti tem investido principalmente em empresas que já estão maduras o suficiente e naquelas que estão construindo negócios sustentáveis. Então, na primeira fase explicamos a elas a nossa cultura e as integramos, de forma a convidá-las para construir uma gestão estendida junto conosco. Não tentamos assumir o controle ou mudar a cultura original da empresa, uma vez que nossos investimentos são direcionados principalmente pelo crescimento por meio do capital humano. Precisamos ter sangue novo a bordo, talentos locais, com experiência local, boas competências e uma mistura entre hard e soft skills. Isso é um ponto chave para nós. Eu venho de uma empresa na qual entrei em 2001 e, em 2018, nós vendemos 100% do negócio para a Zucchetti. E eu continuo a bordo, com a minha atividade de origem, mas agora tenho mais responsabilidades porque a Zucchetti tenta sempre fazer com que as pessoas cresçam junto com ela e construam algo diferente.
Qual é a sua avaliação do cenário atual do setor de tecnologia no Brasil e quais perspectivas, oportunidades e desafios estão surgindo para as empresas brasileiras de tecnologia que buscam uma expansão bem-sucedida na Europa?
Dirk: Eu diria que a situação é bastante semelhante à situação da Europa. Há um cenário de soluções e aplicações já estabelecidas e é necessário investir em tecnologias novas e mais modernas, como a Inteligência Artificial e Big Data. O desafio está na modernização considerando também todo o cenário de clientes já existente. Afinal, não estamos começando do zero, o que significa que temos que desenvolver produtos para modernizar nossa solução da maneira mais inteligente possível.
Recentemente, ocorreram acontecimentos relevantes, como a Guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, juntamente com outras questões, como a chamada Crise do Custo de Vida. Como avalia o impacto potencial destes eventos no cenário macroeconômico global?
Dirk: A Zucchetti foi fundada há 45 anos e, em todo esse tempo, sempre fizemos investimentos com equilíbrio entre risco e uma abordagem conservadora. É praticamente impossível prever os acontecimentos, basta olhar para os últimos cinco anos, com a pandemia de Covid e todos esses eventos mencionados. O que significa que, no futuro, nós precisamos ser ainda mais capazes de fazer mudanças, mais capazes de agir de maneira dinâmica. Não diria que da noite para o dia, mas em um período mais curto. Nós buscamos desenvolver nossas soluções considerando sempre o cenário global. Por exemplo, com a pandemia da Covid, nós imediatamente levamos nossos produtos ao segmento de healthcare, ajudando a gerir a situação de lockdown em muitas regiões. Como empresa, imediatamente fornecemos equipamentos e infraestrutura para que nosso time pudesse trabalhar de maneira remota. É uma missão impossível prever o que acontecerá no futuro, mas eu diria que, como empresa, nós precisamos ser muito mais flexíveis que antes.