Resumidamente, a Majority é uma fintech cujo público alvo são imigrantes. Fundada em 2019, ela já arrebatou 93,3 milhões de dólares em investimentos em menos de 12 meses. A última injeção, de $37,5 milhões, veio livremente em julho por parte de quem já era investidor.
Isso chamou a minha atenção e eu refleti sobre a proposta e atuação da Majority. Seja você pertencente a uma fintech, uma techfin, empresa financeira ou nenhuma destas opções, a existência e sucesso da Majority pode trazer lições para o seu negócio.
LIÇÃO 1: Problemas complexos não se resolvem facilmente
A vida de um imigrante não é fácil. Sair de um lugar para outro, muitas vezes, significa dar adeus não só a sua casa, mas ao seu mundo. Família, amigos, profissão… Tudo é deixado para trás – talvez para sempre. Requer coragem e disposição para começar do zero em todos os sentidos.
A Majority faz algo que muitas fintechs não pensariam: Agências. Ou melhor, não “agências”, mas meetups ou “pontos de encontro”. O mais recente foi em Laredo, Texas, lançado com o objetivo de atender imigrantes do México no que tange o financeiro e também prestar auxílio comunitário.
Consegue entender o poder disso? Apenas por sua proposta, a Majority já teria que lidar com um difícil problema de prestar serviços financeiros a um público que, por exemplo, precisa muito de crédito, mas não tem histórico para pontuar nos sistemas de score. Isso, claro, sem considerar que são pessoas que muitas vezes nem tem qualquer tipo de documento.
Mas foram além. Ao fornecer esse espaço físico, conseguem resolver o verdadeiro problema, algo muito maior do que os processos burocráticos: o medo.
A agência/ponto de encontro se torna um espaço para que imigrantes possam compartilhar experiências, tranquilizar um ao outro, enquanto são atendidos por consultores que falam a língua deles e vão atendê-los no que for necessário, seja possuir um cartão de crédito ou até mesmo tirar a carteira de motorista.
LIÇÃO 2: Para chegar a um público, você deve ir até o público
Mais de mil imigrantes chegam a Laredo todos os dias e logo dão de cara com o meetup da Majority. É um ponto de entrada de México-Texas importantíssimo.
O que está lá é o ponto de encontro. Não um cartaz com QR Code dizendo para as pessoas baixarem um app.
LIÇÃO 3: Traga as pessoas de fora da sua bolha para a sua bolha
Quando você está num centro urbano, numa grande cidade, é difícil pensar em alguém que não tenha uma conta num banco. Aliás, é difícil pensar numa pessoa que tenha conta apenas em UM banco. Tem gente que tem conta em todos!
Mas essas pessoas existem, são os desbancarizados, gente que não está ligada a bancos, não tem cartão e não tem conta. Os motivos para isso podem ser vários. Por exemplo, a falta de informação, o analfabetismo, a distância física de uma agência, a desconfiança ou, claro, a pobreza.
Naturalmente, são pessoas que estão excluídas das discussões que tomam a maior parte do noticiário econômico, não estão na agenda de influenciadores e os bancos tentam muito, mas não conseguem se conectar.
É muito mais fácil falar de investimentos para um público em ascensão social com dificuldades em crer num mundo justo do que com pessoas que precisam de dinheiro para sobreviver.
Imigrantes, o público alvo da Majority, claro, são pessoas que tendem a ser desbancarizadas. Pensar neles só poderia ter vindo da mente do CEO e idealizador da empresa, Magnus Larsson, que migrou da Suécia para os Estados Unidos há 20 anos.
Ou seja, a melhor forma de pensar fora da bolha é trazer pessoas que fogem ao seu mundo para participar das reuniões e tomadas de decisão. Mas não como só uma pesquisa de público, mas realmente participante da empresa, com cargos importantes e relevância.
Garanto que é muito mais assertivo e rápido do que o processo de ficar pensando em como é fora da bolha enquanto não se sai da sua bolha.
LIÇÃO 4: Nem tudo é altamente escalável, mas vários negócios podem crescer
Novamente, a proposta da Majority é ousada por natureza. O que me chamou atenção foi que ia muito além de um “subtítulo”, eles realmente querem atender da melhor forma os imigrantes. Até porque “dinheiro” é como a gente regula o acesso ao bem estar na nossa sociedade.
Só que isso implica num trabalho bem personalizado e que coca um pouco com o mantra de escalabilidade ao máximo que muitas vezes é repetido como lei do ecossistema de inovação. Porque cada imigrante traz uma história diferente do outro, mesmo tendo dores em comum.
A Majority tem, em seu portfólio, serviços “padrão”, como mobile banking e cartão de débito. Só que vai muito além, facilitando a transferência internacional de dinheiro, oferecendo ligações telefônicas internacionais mais baratas e orientando sobre finanças.
Basicamente, se fosse resumir todas essas lições seria para olhar o seu negócio levando em consideração propósito, atuação, impacto e pertinência. Talvez o que fez a Majority ganhar tanto investimento foi isso mais do que o apelo de ser uma fintech.
Seja o que seu cliente precisa que você se torne.