Por César Costa, CEO da Semente Negócios.
A cultura do empreendedorismo, baseada na simples imagem de uma pessoa com uma ideia inovadora de negócio ficou bastante conhecida nos últimos anos. No entanto, a realidade é muito mais diversa e complexa em termos de oportunidade e necessidade.
Uma pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostra que 49% dos novos negócios no Brasil são abertos ou mantidos pela necessidade de complementar a renda do trabalho para arcar com as despesas de casa, e pela falta de oportunidades no mercado de trabalho formal.
Já uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2021, aponta que os negócios periféricos possuem 37 vezes menos capital e 21 vezes menos receitas do que os empreendimentos de fora de comunidades, favelas e bairros periféricos. A pesquisa também demonstra que ao longo de suas jornadas empreendedoras, as pessoas da Base da Pirâmide (BdP) enfrentam quatro principais desafios: i) acesso à capital financeiro; ii) acesso à capital humano; iii) apoio e fortalecimento psicológico e iv) conexões sociais.
Nesse contexto, a discussão entre empreender por oportunidade e por necessidade muitas vezes destaca a motivação por trás do empreendedorismo. Contudo, é essencial ir além e explorar como superar as barreiras para aqueles e aquelas que enfrentam limitações significativas de recursos.
O cerne da questão deve ser como criar um ambiente empreendedor que seja verdadeiramente inclusivo, proporcionando oportunidades equitativas para todo mundo, independentemente das circunstâncias iniciais. Logo, é importante abordar não apenas as razões para iniciar um negócio, mas as condições que perpetuam a falta de acesso a recursos.
Uma crítica construtiva envolve reconhecer que a mera categorização entre empreendedorismo por oportunidade e por necessidade pode simplificar demais a complexidade dessas realidades.
Em vez disso, devemos buscar estratégias específicas para eliminar obstáculos tangíveis, o que normalmente inclui: i) o desenvolvimento de programas de capacitação; ii) acesso a financiamento inclusivo; iii) criação de redes de mentoria; iv) o apoio público e/ou privado em projetos para a criação de um ecossistema empreendedor mais equitativo, entre outras possibilidades.
Ao pensar em como apoiar pessoas empreendedoras com pouco acesso a recursos, é fundamental concentrar-se em soluções práticas. Isso pode envolver o estabelecimento de programas de microfinanciamento, programas de aceleração e incubação, parcerias entre empresas e organizações sem fins lucrativos, organizações da sociedade civil, a promoção de políticas que fomentem a igualdade de oportunidades etc.
Tudo isso também ressalta a necessidade de uma abordagem mais holística, centrada em soluções que verdadeiramente abordem as disparidades no empreendedorismo. O que implica não apenas em reconhecer as diferenças motivacionais, mas comprometer-se ativamente a remover as barreiras que limitam o acesso e a oportunidade a diferentes pessoas empreendedoras, independentemente de suas circunstâncias iniciais. Assim, é possível trilhar um caminho capaz de driblar as incertezas.