Nos últimos dias se tornou popular a publicação de um investidor que criou o Deadlift ETF, um grupo de ações de empresas americanas que foram escolhidas com um critério fundamental: o CEO deveria ser fisicamente ativo, fazendo musculação e/ou esportes de luta.
O mais chamativo da iniciativa é que a performance dessas empresas, no acumulado dos últimos 4 anos, supera em 2,4x o rendimento das empresas do S&P 500.
Ainda que não seja um critério estatisticamente comprovado, ele incita uma discussão crescente no mundo dos negócios: pessoas engajadas com sua saúde e seu bem-estar são melhores profissionais?
Em 2018, Nizan Guanaes, um dos maiores nomes da propaganda brasileira, publicou um artigo chamado “Correr é o novo MBA”. Ele destacava que, já naquela época, empresários colocavam o símbolo do IronMan em seus cartões de visitas. Aparentemente mostrar que completaram 3,8 km de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida passa alguma imagem positiva no ambiente de negócios.
Nizan destacou Alexandre Birman (CEO da Arezzo&Co) que, além de ter completado diversas provas de IronMan em marcas históricas, criou grupos vitoriosos de Triathlon. Hoje são inúmeros os exemplos.
Provavelmente, enquanto lê esse artigo você deve ter lembrado de outros líderes-atletas, como Abílio Diniz (Pão de Açúcar), Mark Zuckerberg (Meta), Ariana Huffington (The Huffington Post), Cristina Junqueira (Nubank) ou mesmo líderes anônimos, de seu círculo profissional.
O fato é que, nos últimos anos, ter uma intensa rotina de treinos e autocuidado é um fator decisivo para demonstrar resiliência, foco, superação, inteligência emocional e ambição, características essas que são fundamentais para bons profissionais, e que isso não é apenas buscado pela altíssima liderança.
Talentos em todos os níveis das organizações passaram a valorizar o autocuidado para aumento do desempenho profissional. As redes sociais estão inundadas de posts de treinos e provas. Mesmo o Linkedin, uma rede profissional, tem fotos virais de pessoas comemorando realizações de grandes feitos esportivos.
Processos seletivos passaram a perguntar sobre as agendas de treinos dos candidatos. Comitês de promoção passaram a questionar sobre as rotinas dos futuros promovidos. A prática esportiva e o cuidado com a saúde mental são, na nossa década, o equivalente ao que foi o curso de datilografia dos anos 80, ao curso de informática dos anos 90: algo que destaca candidatos e talentos na busca pelas melhores vagas do mercado de trabalho.
Entretanto, ainda estamos muito distantes de dizer que temos uma sociedade fisicamente ativa, mentalmente equilibrada e de alta performance profissional.
No Brasil, 70% das pessoas não realizam o mínimo de atividades físicas recomendado pela OMS, 55% têm sobrepeso ou obesidade, e nosso povo representa o 3º pior no ranking global de saúde mental.
Muitos líderes já entenderam que em um mercado de pessoas não-saudáveis, ter um time mais saudável passa a ser um diferencial competitivo. Reduzir esses índices pode significar o ponto de virada para um time superar metas, desbravar novos mercados e até superar a concorrência.
Então, a questão fundamental é: como formar novos atletas corporativos?
Se para alguns sedentários as histórias de um IronMan podem inspirá-los a mudar sua vida, para muitos outros essa demanda por hiper-performance também no esporte os afasta ainda mais do início da ação.
Muitos cidadãos comuns se identificam mais com seus colegas próximos, também sedentários e com recursos limitados, que não conseguem encaixar 2 ou 3 horas por dia de treinamento em uma rotina já demandante pessoal e profissionalmente, do que com o CEO que está se preparando para escalar o Everest.
Aqui mora o principal desafio de líderes que já aprenderam o valor de um time mais saudável para suas empresas: entender como engajar verdadeiramente seus colaboradores e colegas numa rotina mais saudável.
Eles são pais, mães, muitas vezes com mais de um trabalho, que acumulam anos de rotinas não-saudáveis e que talvez precisem achar alguma atividade física que lhes dê prazer e que caiba no bolso e na rotina.
Alguns vão decidir caminhar, fazer yoga ou hidroginástica. Talvez 2 vezes por semana. E isso significará um avanço. Outros vão perder 40 kg, mas não da noite para o dia.
O papel do líder formador de atletas corporativos é ajudar cada um de seu time a dar o próximo passo para uma vida mais saudável e produtiva. E para que isso aconteça é fundamental entender motivações, desejos e barreiras individuais.
Em uma das campanhas publicitárias mais marcantes da história, Bill Bowerman, co-fundador da Nike, disse nos anos 70 que “se você tem um corpo, então você é um atleta”. Ela foi criada justamente para democratizar o conceito de atleta, em um mundo que ainda valorizava apenas a elite do esporte. Esse posicionamento está escrito até hoje no site da marca esportiva, e ajudou a Nike a inspirar (e vender para) todos, mesmo que estivessem apenas começando a se exercitar.
Vejo que esse é o próximo passo do entendimento das empresas sobre seus atletas corporativos. Todo colaborador pode ser um atleta, cada um dando o seu próximo passo rumo a uma vida mais saudável e produtiva.
O Santo Graal do atleta corporativo é a fixação do hábito saudável, uma vida mais prazerosa e produtiva em todos os sentidos.
Nosso desafio é, portanto, acabar com o sedentarismo corporativo. Aquele praticado por empresas que seguem negando a importância e urgência desse tema, apesar da quantidade de evidências que insistem em mostrar a oportunidade imensa logo diante de seus olhos.
Afinal, o mercado é o único esporte sem uma linha de chegada. Mais vale um time que corra de forma coesa, firme e consistente, do que um ou outro que desponte e deixe o restante todo do grupo para trás.