“Imagina o William Bonner fazendo publicidade. Quanto será que ele não iria ganhar?” Essa foi a pergunta que minha namorada me fez enquanto passávamos de carro por Florianópolis e vimos um outdoor do Galvão Bueno promovendo uma franquia.
Ela comentou que hoje em dia vê mais o narrador do que na época das transmissões na Globo, e isso faz sentido. Antes, como jornalista, não podia fazer propaganda. Agora, está aproveitando.
E por mim, quanto mais Galvão, melhor, mal posso esperar para vê-lo no reality show de novos narradores na Globo.
Agora, essa pergunta sobre o Bonner me fez pensar em várias coisas. E nada do que vou trazer aqui é uma previsão. Vai ser só uma reflexão sobre jornalismo, publicidade e o que acontece quando essas duas esferas se encontram. Para previsões, recomendo uma bola de cristal.
Por que Bonner – e nenhum jornalista da Globo – não pode fazer publicidade?
O motivo pelo qual William Bonner (e qualquer outro jornalista da Globo) não pode começar a fazer publicidade é simples: a Globo não deixa, e com razão. Jornalistas têm o compromisso de informar o público com a verdade, sem interferências comerciais.
Se você coloca uma marca no meio, já abre brecha para um possível conflito de interesses. Não é que cause um problema imediatamente, mas a confiança pode ser afetada.
Imagine um repórter, no meio de uma matéria sobre o calor no verão, dizendo: “Nossa, tá quente, né?! Deixa eu pegar uma latinha de Coca-Cola gelada aqui“. Seria algo leve e divertido, mas problemático.
Em 2017, o César Tralli marcou fornecedores do seu casamento com Ticiane Pinheiro em uma postagem. Uma coisa que, na boa, qualquer um de nós pode fazer por conta da alegria de ver o casamento acontecendo. No dia seguinte, a Globo proibiu essa prática.
Hoje vivemos na era dos influenciadores digitais, que potencialmente ganham mais dinheiro promovendo marcas do que o valor que é repassado por redes sociais.
Mesmo que eles aleguem que são sinceros em suas avaliações, todos sabemos que uma crítica negativa poderia cortar aquele contrato gordo. Por isso, as regras de transparência exigem que essas postagens sejam sinalizadas como publicidade.
Se há um disclaimer num jornal, afinal, há credibilidade?
Fátima Bernardes e o caso do presunto
Quando jornalistas célebres deixam a Globo, eles logo se tornam cobiçados pelas marcas. Se você ainda não reparou, é só começar.
Às vezes, não precisa nem sair da Globo. É só trocar de área, indo do Jornalismo ao Entretenimento. O caso mais clássico foi a Fátima Bernardes, que deixou o Jornal Nacional e logo estava em um comercial do presunto Seara. Nem o Tony Ramos falando de picanha da Friboi foi tão impactante.
Hoje em dia, só de mencionar Fátima ou Seara, você já deve pensar no outro como consequência. Como ela nunca fazia publicidade, a primeira se tornou inevitavelmente simbólica. Era muita credibilidade ali – e é por isso que as marcas pagam.
Mas voltando a falar do ex-marido da Fátima, é claro que a Globo não quer perder o cara. Ele é mais que apresentador do Jornal Nacional, é também o editor-chefe, o que significa que ele não aparece só para ler o teleprompter, mas para comandar diariamente os bastidores da notícia.
E vamos ser sinceros, esse trabalho de hard news cansa. Só que o Bonner já é um idoso e, nos seus 60 anos, já deve estar no mínimo cogitando uma aposentadoria.
Alguns já especulam mais longe e estão buscando sucessores. Muitos apostam justamente no marido da Ticiane. Minha Mamis, inclusive, consumidora voraz de Globo News, diz que acha o César Tralli “muito simpático“.
Talvez o fator da simpatia seja mais importante do que você pensa, afinal, é isso que vai ou não fazer com que você responda o “boa noite” proferido no começo do Jornal Nacional – já parou para pensar quantas milhares pessoas respondem o Bonner todas as noites?
Mas deixando os rumores de lado e indo para as hipóteses.
Bonner garoto propaganda
Agora, e se William Bonner realmente decidir fazer publicidade quando sair da Globo? As marcas pagariam uma fortuna para tê-lo como garoto propaganda. Afinal, existe mais credibilidade em cada fio de cabelo da mecha grisalha do Bonner do que qualquer texto publicitário poderia sonhar em conquistar.
Foi o rosto dele que esteve à frente de grandes momentos da história do nosso país. Seja no Olimpo do Jornalismo que é a bancada do JN para falar dos acontecimentos mais incríveis ou in loco para mostrar as piores tragédias que poderíamos imaginar. Ele fez transmissão direto do Rio Grande do Sul este ano e, em 2008, apresentou o Jornal Nacional da prefeitura de Blumenau para relatar a situação provocada pelas enchentes.
Por isso, é claro que seria interessante também se ele decidisse nunca fazer publicidade. Imagine o William Bonner, aposentado, mantendo-se eternamente como a voz da verdade, sem se envolver com marcas. Seria um gesto heróico à profissão de jornalista.
Mas, dos grandes bancos e instituições financeiras até o copão “Bebeu, Bateu, Caiu” no centro da cidade, não existe empresa que não se beneficiaria da credibilidade de Bonner. Até porque se o Bonner fala que um determinado investimento é o mais seguro ou que não existe bebida melhor do que vodka, energético e gelo de coco, quem é você para duvidar?
Ainda mais se fosse uma propaganda com o “Bonner garoto”, recém descoberto por nós, que é mais soltinho e que acha graça em explicar que estava tomando água na latinha e não uma cerveja durante as eleições.
Agora, se um copão nunca vai ter dinheiro para pagar o cachê do Bonner – o que é bom, porque periga a minha Mamis começar a frequentar já na sua avançada idade – talvez uma marca de whisky mais caro possa. Ou alguma empresa que vende para a classe A algo que tem um grande valor de sofisticação agregado.
A escolha que Bonner fizer será impactante, não por ele ser quem é apenas, mas pela imagem construída por anos de Jornalismo e credibilidade a ele associada – que talvez seja a mais alta que tenhamos no país.