Por Guilherme Abdala, sócio da Evermonte Executive Search.
Independentemente do modelo de gestão adotado por uma empresa de controle familiar, é provável que, ao longo do tempo, a companhia enfrente desafios sensíveis, como conflitos internos entre a própria família, disputas pelo poder e divergências entre gerações. Para mitigar esses problemas, é substancial adotar e investir em boas práticas de governança, fortalecendo seis pilares estratégicos centrais: confiança, propósito, protocolos, comunicação interna, plano de sucessão e qualificação da administração.
O primeiro pilar é um dos maiores responsáveis por uma estimativa amplamente conhecida no contexto das empresas familiares, segundo a qual apenas 30% das companhias sobrevivem até a segunda geração. A falta de confiança e comunicação são responsáveis por 60% dessa taxa de fracasso, conforme o Family Business Institute. Por isso, construir confiança é fundamental: os membros da família devem comprometer-se com base em sua competência, facilitando a execução de planos e promovendo um ambiente propício ao sucesso empresarial.
O propósito, segundo pilar estratégico das empresas familiares, é um aliado importante para a perpetuidade dos negócios. Mais do que simplesmente gerar lucro, as empresas que prosperam possuem um propósito claro que guia suas decisões e engaja seus colaboradores. Quando bem comunicado e praticado, inspira confiança e compromisso, tanto internamente quanto externamente.
Um terceiro pilar fundamental é a existência de protocolos capazes de evitar conflitos de interesse e disputas de poder – especialmente durante processos de sucessão. Protocolos claros evitam mal-entendidos e promovem um ambiente onde as divergências são tratadas de maneira construtiva, em prol do bem maior do negócio. Nesse sentido, a implementação de práticas robustas de governança corporativa garante transparência e prestação de contas, fundamentais para a sustentabilidade a longo prazo.
A comunicação interna, por sua vez, é essencial para sustentar o funcionamento integrado de todas as áreas de uma organização. Quando a comunicação é enfraquecida, surgem ruídos, desalinhamentos e confusões entre questões familiares e empresariais. Com a implementação de um sistema comunicacional, problemas de assimetria informacional e conflitos podem tornar-se menos frequentes.
Já o plano de sucessão, quinto pilar estratégico, é essencial para coibir disputas entre membros da família, incertezas e inseguranças. Recentemente divulgada pela Evermonte Executive Search, a pesquisa “Planejamento sucessório: como as companhias estão se preparando para o futuro” mostra que quase metade das companhias (49,2%) não possui um plano formal para a sucessão de lideranças. Nesse sentido, a sucessão é um dos maiores desafios para as empresas familiares, e gerenciá-la de forma eficaz pode determinar o futuro do negócio, já que uma transição bem planejada e executada pode garantir a perenidade da companhia.
O sexto e último pilar estratégico das empresas familiares é a qualificação da administração, ou seja, a profissionalização da gestão. Estabelecer o alinhamento adequado com a cultura organizacional e oferecer oportunidades de capacitação aos gestores torna a administração mais qualificada e profissional, assegurando a sustentabilidade e capacidade de crescimento da companhia.
Seja qual for a dinâmica do negócio, fortalecer esses pilares dentro de uma empresa familiar não só torna os processos operacionais e administrativos mais fluidos e eficazes como também otimiza recursos e aumenta a produtividade dos colaboradores. É possível alcançar esse cenário preservando o legado da família fundadora e mantendo a identidade única do negócio através de diálogo constante e respeito à trajetória já percorrida pela organização.