Por Artur de Castro Frischenbrude, sócio e headhunter na Evermonte Executive Search.
Um levantamento da Crist|Kolder Associates demonstrou que, em 2022, 16% dos CEOs das 500 maiores empresas dos Estados Unidos tinham origem na área financeira. Os números corroboram a percepção de que, cada vez mais, os diretores financeiros são demandados para a posição de CEO na linha sucessória das companhias.
Mas será que o CFO, tradicionalmente visto como o guardião das finanças, está preparado para liderar a organização como um todo? Será que ele é, de fato, o melhor sucessor para o CEO?
A resposta é ampla e envolve vários aspectos. Uma primeira característica de um CFO preparado para ser um CEO é a adoção de um posicionamento estratégico voltado ao crescimento contínuo. Isso envolve desenvolver e implementar estratégias que alavanquem a receita da empresa sem depender exclusivamente de reduções de custos – afinal, um CEO precisa ser criativo e pensar fora da caixa, muitas vez com decisões arrojadas.
Outro aspecto fundamental é a capacidade de enxergar o negócio sob uma ótica sistêmica. Enquanto a maioria dos CFOs tende a se concentrar em resultados financeiros, aqueles que aspiram à diretoria executiva precisam ter uma compreensão profunda dos diversos setores da empresa, expandindo a atuação para áreas como estratégia e operações.
Comunicação e gestão de pessoas
Segundo um estudo da PwC, a comunicação é uma das áreas mais críticas para que os CFOs possam se destacar em cargos de liderança. Via de regra, os profissionais que chegam ao cargo de CEO costumam se destacar pela competência em gestão de pessoas – e essa habilidade, que muitas vezes não é associada à área financeira, faz toda a diferença em sua atuação.
Um CFO que deseja se tornar CEO precisa ser capaz de inspirar e engajar seu time, construir relacionamentos sólidos e criar uma cultura organizacional positiva. Uma verdadeira liderança deve fazer com que as conquistas da área sejam coletivas, e isso exige uma comunicação clara, empática e, principalmente, a capacidade de ouvir e entender as necessidades e motivações de todos aqueles que impulsionam o negócio no dia a dia.
Orientação a dados
Uma das grandes competências de um CFO é sua familiaridade com dados e análises financeiras. No entanto, essa habilidade precisa ser levada para além dos relatórios financeiros tradicionais. O CFO que pretende se tornar CEO deve usar dados de maneira estratégica para fundamentar decisões que impactem todas as áreas do negócio – isso significa pensar nos impactos de curto, médio e longo prazo para diferentes setores.
Se houver uma diminuição no orçamento do RH, quais seriam as possíveis decorrências? Na área de operações, um investimento assertivo também pode mudar o jogo. Por isso, quem ocupa a diretoria financeira, além de pensar em como resolver as demandas específicas relacionadas às finanças da companhia, precisa colocar na balança os efeitos de suas decisões. E, sem dúvidas, fazer isso pode representar um passo à frente na disputa pela diretoria executiva.
Relacionamentos sólidos com outras áreas
Um CEO bem-sucedido sabe que não pode agir sozinho e que o sucesso da empresa depende da colaboração entre todas as áreas – ou, mais especificamente, de sua abordagem intersetorial. Por isso, o CFO que almeja a posição de CEO deve investir no desenvolvimento de relacionamentos sólidos e de confiança com outros departamentos, como marketing, vendas, operações e tecnologia.
Uma pesquisa da Harvard Business Review demonstra que 82% dos CEOs de sucesso têm um forte relacionamento com seus times de liderança, especialmente durante períodos de transformação organizacional. Logo, quando o CFO assume um papel de liderança colaborativa, ele não só melhora o desempenho geral da organização, mas também se posiciona como um líder capaz de mobilizar e unificar toda a equipe em torno de objetivos comuns.
O CFO é o melhor sucessor?
Em suma, o CFO que deseja se tornar o sucessor ideal para o CEO precisa estar presente, atuante e disposto a sair da sua zona de conforto. Ele deve ir além da gestão financeira, adotando uma visão holística do negócio, desenvolvendo competências de gestão de pessoas, utilizando dados de maneira estratégica e construindo relacionamentos sólidos com todas as áreas. Quando essas habilidades estão presentes, o CFO é, com toda certeza, o melhor candidato ao cargo de CEO.