O South by Southwest (SXSW 2025), maior festival de inovação do planeta, chegou ao fim. Como sempre, o evento trouxe um bombardeio de tendências tecnológicas, novos conceitos e promessas de revolução nos negócios e na sociedade.
Amy Webb, referência global em futurismo, apresentou um relatório de mil páginas sobre as inovações que podem moldar os próximos anos.
Mil páginas de tendências! Algumas já começam a ganhar tração, mas a maioria ainda está no chamado Horizonte 3, ou seja, são promissoras, mas distantes da realidade da maior parte das empresas.
E aqui entra um alerta fundamental: de que adianta se deslumbrar com essas inovações se elas nunca saírem do papel?
O Brasil, país que adora um “oba oba” quando o assunto é inovação, segue na 50ª posição no ranking global de inovação (Global Innovation Index 2024).
Enquanto o mundo avança com patentes, pesquisa de base e desenvolvimento real, por aqui ainda confundimos presença em evento com transformação.
A lógica muitas vezes parece ser: “fui ao SXSW, logo, sou inovador”. Mas inovação de verdade não acontece em painéis de palestrantes nem em posts empolgados no LinkedIn, ela acontece no chão de fábrica, no código que roda, no produto que chega ao mercado e resolve problemas reais.
E se tem algo que precisamos evitar, é cair nos dois extremos perigosos do discurso da inovação:
- O primeiro extremo: a ilusão de que tudo que é novo e “disruptivo” precisa ser adotado imediatamente. (Spoiler: nem tudo é aplicável agora).
- O segundo extremo: a rejeição total da tecnologia e a resistência ao novo, como se inovação fosse sinônimo de desperdício de tempo. (Spoiler: sem tecnologia, ainda estaríamos vivendo em tribos na floresta).
Mas então, como separar o que é real do que é só barulho? Como transformar tendências em ação sem cair na armadilha do “futuro fácil”? Aqui vão três diretrizes fundamentais:
Enxergar além do hype e focar no que é relevante agora
Nem tudo que brilha é ouro. Muitas tendências parecem revolucionárias, mas nem todas são aplicáveis ao seu modelo de negócio.
Antes de embarcar em tecnologias futuristas, é essencial entender o que realmente faz sentido para sua empresa no curto e médio prazo.
Se uma empresa ainda está digitalizando processos básicos, será que faz sentido falar em inteligência artificial generativa para tomar decisões estratégicas? Ou em blockchain para supply chain sem uma base mínima de digitalização dos processos?
Provavelmente não. Mas investir em automação de tarefas, análise de dados e melhoria da experiência do cliente já pode gerar impacto imediato.
O segredo é separar o hype do que realmente pode impulsionar o negócio hoje.
Construir um roadmap de inovação por etapas
Inovação não é um botão que se liga e pronto: “agora somos inovadores”. Ela precisa ser estruturada por etapas. O ideal é adotar um modelo de três horizontes:
- Horizonte 1: O que já pode ser aplicado agora? (Eficiência operacional, automação, melhorias incrementais).
- Horizonte 2: O que precisa ser testado antes de escalar? (Novas tecnologias em fase de validação).
- Horizonte 3: O que são apostas futuras? (Tecnologias emergentes, ainda distantes da realidade prática).
Inovação não pode ser um salto no escuro. Precisa ser feita de forma sustentável, sem comprometer a operação atual. A empresa precisa fomentar a ambidestria organizacional.
Uma empresa que quer adotar inteligência artificial para personalização de atendimento pode começar com pequenas automações antes de tentar um modelo complexo de IA generativa. Um e-commerce pode testar recomendações inteligentes antes de investir milhões em um sistema avançado.
O importante é fazer um planejamento realista, não um wishful thinking de inovação.
Testar, aprender e ajustar constantemente
Empresas realmente inovadoras não apenas acompanham tendências — elas experimentam, validam hipóteses e ajustam rapidamente o que não funciona.
O erro mais comum? Achar que inovação nasce pronta. Na prática, a inovação real é um processo de tentativa e erro, de pequenos experimentos e ajustes constantes.
Startups não lançam produtos perfeitos. Elas fazem MVPs (mínimo produto viável), testam, coletam feedback e aprimoram. Empresas grandes também precisam aprender a pensar como startups nesse sentido, criando protótipos rápidos antes de escalar qualquer ideia.
Se uma inovação só existe na teoria, no PPT ou no post empolgado do LinkedIn, ela não é inovação.
A pergunta que importa agora
Então, depois do oba oba do SXSW, fica a questão:
Qual tendência você pode colocar em prática agora para gerar valor real para o seu negócio?
Porque acompanhar tendências é fácil. O difícil – e o que realmente importa – é transformar o futuro em resultado concreto, desde já.