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O uso do soft power para o posicionamento de negócios e carreiras

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Foto: divulgação.

Vivemos em uma era em que a capacidade de influenciar pessoas, mercados e comportamentos vai muito além da força ou do dinheiro. Em um mundo cada vez mais conectado, o verdadeiro poder está na habilidade de atrair, engajar e inspirar, e é aí que o conceito de soft power ganha espaço. Mais do que um termo da ciência política, o soft power tornou-se uma ferramenta estratégica para negócios e carreiras que desejam se destacar com autenticidade e relevância.

Antes de nos aprofundarmos nesse conceito, é importante entender seu contraponto: o hard power. Este termo, também popularizado pelo cientista político Joseph Nye, se refere ao poder de coerção, ou seja, à influência exercida por meios diretos como força militar, sanções econômicas ou imposição de regras. Na geopolítica, por exemplo, os Estados Unidos utilizam o hard power ao mobilizar tropas em conflitos ou ao aplicar barreiras comerciais a países concorrentes. Já a Rússia, em alguns momentos, impõe sua influência por meio do controle energético. O hard power é direto e visível, mas muitas vezes gera resistência ou desgaste.

O soft power, por outro lado, opera de maneira sutil. Ele é baseado na capacidade de atrair e persuadir, em vez de forçar. A cultura pop americana, por exemplo, com filmes, música e estilo de vida, influencia milhões de pessoas ao redor do mundo, isso é soft power em ação. Da mesma forma, países como o Japão e a Coreia do Sul exercem esse tipo de influência por meio da tecnologia, educação e da exportação de valores culturais. Quando levamos esse conceito para o universo corporativo ou profissional, entendemos que é possível exercer poder sem precisar dominá-lo pela força — basta inspirar.

O que é soft power no contexto de negócios e carreiras

O soft power se aplica ao universo profissional como a capacidade de influenciar comportamentos, decisões e percepções de maneira positiva e não invasiva. Uma empresa que conquista consumidores por causa de sua causa social ou um profissional que atrai oportunidades por sua postura ética estão, de forma consciente ou não, utilizando esse poder simbólico.

Marcas com propósito claro, narrativa coerente e comunicação empática conseguem gerar engajamento real. O mesmo acontece com profissionais que inspiram confiança, promovem conexões humanas e são reconhecidos por sua integridade. O soft power é a soma de reputação, consistência, valores e a maneira como tudo isso se manifesta nas ações cotidianas.

Exemplos como a Patagonia, Apple e Natura mostram como o soft power pode ser traduzido em resultado de negócio, fortalecendo a relação com o público. Em carreiras, nomes como Brené Brown e Simon Sinek exemplificam o uso de influência baseada em ideias, vulnerabilidade e propósito, em vez de autoridade formal.

Esse tipo de poder, diferente do hard power, não impõe, mas atrai. E é justamente essa atração espontânea que abre portas e fortalece a presença no mercado de forma orgânica e duradoura.

Aplicando o soft power no seu negócio

Incorporar o soft power à estratégia de uma empresa não é algo restrito a grandes marcas ou organizações com verbas milionárias. Negócios de todos os tamanhos podem se beneficiar dessa abordagem mais sutil e eficaz de influência. Trata-se de gerar valor real para o público e, com isso, conquistar sua confiança e admiração. Não é sobre forçar uma venda, mas sobre criar conexões verdadeiras que, no médio e longo prazo, se traduzem em preferência e fidelidade.

Uma marca que sabe inspirar e comunicar bem sua identidade transmite segurança. E segurança é o primeiro passo para gerar engajamento, compra e recomendação. Para isso, é necessário entender que o soft power está diretamente ligado à prática constante de seus valores. Empresas que são admiradas por seus clientes não são, necessariamente, as que têm os melhores preços — mas sim aquelas que se posicionam com coerência e respeito, seja na comunicação, seja no atendimento.

O primeiro passo é trazer o soft power para o centro da estratégia, entendendo que ele vai além do marketing, pois influencia desde a cultura interna até o relacionamento com fornecedores. Abaixo, destacamos formas práticas de começar a aplicar o soft power no seu negócio:

  • Defina e pratique seus valores: Não basta escrever uma missão bonita. É preciso que ela esteja viva nas decisões, na liderança e na comunicação.
  • Invista em cultura organizacional: Ambientes positivos e colaborativos geram bons porta-vozes da marca, seus próprios colaboradores.
  • Seja transparente: Marcas que mostram o que estão fazendo para melhorar são mais admiradas do que as que tentam parecer perfeitas.
  • Use o conteúdo como ponte: Blog, redes sociais e eventos são espaços valiosos para compartilhar conhecimento e gerar valor sem pedir nada em troca.
  • Associe-se a causas coerentes: Ações de impacto social ou ambiental precisam estar alinhadas com a identidade da empresa. Do contrário, soam como oportunismo.

Empresas que aplicam essas estratégias se tornam mais atrativas para clientes, talentos e parceiros. E, com o tempo, passam a influenciar o ecossistema em que estão inseridas.

Como aplicar o soft power na sua carreira

O soft power também é uma ferramenta valiosa no crescimento profissional. Ao contrário de quem tenta se destacar apenas por títulos ou números, quem aposta em influência simbólica constrói uma reputação mais sólida e humana. É a diferença entre ser conhecido e ser respeitado. E esse respeito se constrói com ações que mostram empatia, conhecimento e coerência entre discurso e prática.

Um profissional que exerce soft power costuma ser lembrado por sua postura, por como ajuda os outros, por sua capacidade de inspirar confiança. Em ambientes colaborativos, essas pessoas tendem a ser procuradas para liderar, opinar ou resolver conflitos. Não porque têm poder formal, mas porque são reconhecidas como referências positivas. O soft power profissional é a soma de pequenas atitudes que, com o tempo, constroem uma imagem admirável.

Cultivar esse tipo de influência demanda intencionalidade e autoconhecimento. É possível, sim, estruturar o desenvolvimento do seu soft power com ações práticas no dia a dia da carreira. Veja algumas delas:

  • Desenvolva sua presença digital com autenticidade: Compartilhe aprendizados, ideias e histórias reais. Isso cria empatia e conexão.
  • Seja generoso com seu conhecimento: Ao ensinar, você se torna referência. Quanto mais você entrega, mais reconhecimento espontâneo recebe.
  • Pratique escuta ativa e empatia: Profissionais que inspiram são aqueles que respeitam e valorizam os outros.
  • Construa relações verdadeiras: Networking não é troca de favores, é construção de confiança ao longo do tempo.
  • Cuide da coerência entre discurso e ação: Nada prejudica mais a reputação do que incoerência. Seja consistente no que você fala e no que você faz.

E será que você já exerce soft power?

Muitas pessoas ou marcas exercem o soft power sem perceber — e por isso, nem sempre sabem como potencializá-lo. A influência simbólica pode estar presente no jeito como você se comunica, se comporta, resolve conflitos ou se relaciona com clientes e colegas. Ao identificar que você já possui esses traços, pode passar a cultivá-los com mais clareza e estratégia.

Reconhecer os sinais do soft power ajuda a entender por que certas portas se abrem, por que as pessoas o procuram para conselhos ou o indicam sem que você peça. Isso não acontece por acaso — é fruto de um histórico de atitudes que transmitem confiança, inspiração e valor. A seguir, veja alguns dos principais indícios de que você ou sua marca já estão operando sob a lógica do soft power:

  • Recebe recomendações espontâneas: Pessoas indicam seu nome ou sua marca sem que você tenha pedido.
  • Sua opinião é buscada: Mesmo fora da sua área direta de atuação, outros querem saber o que você pensa.
  • Você inspira comportamentos: Seus colegas, seguidores ou clientes se espelham na sua postura ou ideias.
  • É lembrado por valores, não apenas por produtos ou funções: Sua marca ou sua carreira é associada a princípios, causas ou propósito.
  • Cria engajamento genuíno: Pessoas interagem com seus conteúdos, eventos ou projetos com interesse real.

Ao identificar esses sinais, é possível fortalecer essa influência com mais consciência e consistência.

Como saber se você está sob a influência de alguém?

Além de exercermos influência, também somos constantemente influenciados — muitas vezes sem perceber. O soft power opera de forma tão sutil que é comum sermos impactados por ideias, marcas ou pessoas sem notar o quanto isso molda nossas decisões, opiniões e comportamentos. Identificar esses agentes de influência é essencial para manter a autonomia nas escolhas e refletir criticamente sobre o que consumimos ou admiramos.

Por exemplo, você já comprou um produto sem pesquisar preço só porque a marca “passava confiança”? Ou já seguiu a opinião de alguém por se sentir inspirado por sua postura, mesmo que ele não seja especialista técnico no tema? Essas são manifestações típicas do soft power. Ele não te força, mas te atrai — e é por isso que é tão poderoso.

Com mais consciência sobre esse tipo de influência, é possível fazer escolhas mais alinhadas aos seus próprios valores e evitar cair em narrativas sedutoras, mas vazias. A seguir, veja alguns sinais de que você está sob a influência do soft power de alguém:

  • Você admira alguém pelo comportamento, e não pelo cargo: O respeito vem pela atitude, postura ou visão de mundo, não apenas pela autoridade formal.
  • Você repete ideias ou conceitos sem lembrar a fonte: A influência simbólica muitas vezes planta ideias que passam a fazer parte da sua linguagem.
  • Você consome produtos ou conteúdos só porque “conectam com seus valores”: Mesmo que haja opções mais baratas ou práticas, você opta pela identificação emocional.
  • Você se sente inspirado a mudar comportamentos por conta de uma marca ou pessoa: O exemplo do outro gera transformação em você, sem pressão ou cobrança.
  • Você defende uma marca, causa ou pessoa em conversas espontâneas: Isso mostra que a mensagem chegou ao coração — não só à razão.

A força das narrativas e da reputação

A construção do soft power está profundamente ligada à narrativa. Empresas e pessoas que sabem contar bem sua história, com verdade e emoção, criam identificação com seu público. Uma boa narrativa não precisa de exageros, apenas de autenticidade e coerência.

A reputação, por sua vez, é a base sobre a qual o soft power se sustenta. Não é possível influenciar positivamente se a confiança estiver abalada. Por isso, é preciso cultivar credibilidade diariamente, tanto nos pequenos gestos quanto nas grandes decisões.

Segundo o estudo Edelman Trust Barometer 2023, 63% das pessoas preferem marcas que se posicionam com clareza sobre causas sociais. Esse dado reforça que reputação e valores importam — e muito — na hora de decidir com quem consumir, trabalhar ou se associar.

Construir essa influência exige consistência e visão de longo prazo. Mas o retorno vem em forma de oportunidades, parcerias, admiração e diferenciação no mercado.

O sociólogo Pierre Bourdieu definiu o conceito de capital simbólico como a reputação e o prestígio que geram valor social e econômico. O soft power é, em essência, o uso estratégico desse capital. Quando bem construído, ele se torna um recurso valioso e duradouro.

Empresas com forte capital simbólico conseguem atravessar crises com menos danos, pois contam com a confiança do público. Da mesma forma, profissionais com boa reputação têm mais chances de serem promovidos, convidados para projetos ou mesmo indicados para oportunidades.

É possível medir esse capital por meio de indicadores como engajamento, recomendações, menções orgânicas e participação em espaços de visibilidade. Usar ferramentas como Google Alerts, LinkedIn Analytics e plataformas de gestão de reputação pode ajudar a acompanhar esses dados.

O importante é lembrar que esse capital não se compra — ele se constrói, com verdade, consistência e propósito.

O soft power é, acima de tudo, uma forma de exercer influência com ética, empatia e inteligência. Em um mundo saturado de informação e ofertas, quem inspira tende a ser lembrado. Negócios e profissionais que constroem sua presença com base em valores genuínos, narrativa consistente e conexão real com as pessoas conseguem se posicionar de forma duradoura, sem precisar gritar para serem ouvidos.

Ao contrário do hard power, que impõe, o soft power convida. Ele transforma relações comerciais em parcerias, audiência em comunidade e clientes em defensores da marca. Para isso, é necessário olhar para dentro, entender qual valor você entrega ao mundo e como pode comunicar isso com verdade. A influência mais poderosa é aquela que nasce do respeito e da admiração.

Portanto, se você deseja crescer de forma sólida, comece agora a refletir sobre sua identidade, sua comunicação e seu impacto. O soft power é uma ferramenta acessível, democrática e profundamente humana. Seja você um empreendedor, um líder ou um profissional em transição, lembre-se: inspirar é o novo liderar — e essa é a força mais transformadora dos novos tempos.

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CEO da Drin Inovação, TEDx speaker, mentor, conselheiro e Linkedin TOP Voice.

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