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Obsolescência profissional percebida: 1 em cada 3 brasileiros já não se sente competitivo

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Foto: divulgação.

O mercado de trabalho mudou, e continua mudando em velocidade acelerada. Tecnologias emergentes, novos modelos de negócio e transformações nos hábitos de consumo estão remodelando o que significa ser um profissional qualificado. No meio de tantas mudanças, cresce um sentimento preocupante: o de não conseguir acompanhar esse ritmo. É o que chamamos de obsolescência profissional percebida, uma sensação cada vez mais comum entre trabalhadores brasileiros.

Segundo uma pesquisa do Instituto Cetelem divulgada em 2024, 1 em cada 3 brasileiros afirma não se sentir mais competitivo em sua área de atuação. Esse dado é reforçado por um levantamento da DataCamp, que mostra que 8 em cada 10 brasileiros já sentiram que estavam ficando para trás em suas carreiras. Esses números revelam que a obsolescência percebida não é um problema pontual ou individual — ela está se tornando uma experiência coletiva, especialmente em países em desenvolvimento.

Neste artigo, vamos explorar o que está por trás desse fenômeno, quais são seus impactos emocionais e profissionais e, principalmente, o que pode ser feito para enfrentá-lo. Em vez de um alerta pessimista, este texto quer ser um convite à reflexão e à ação, mostrando que é possível resgatar a confiança e a relevância profissional mesmo em tempos de mudanças rápidas.

O que é obsolescência profissional percebida?

A obsolescência profissional percebida ocorre quando um profissional sente que suas habilidades, conhecimentos ou experiências não estão mais alinhados com as exigências do mercado de trabalho. Esse sentimento pode surgir mesmo que a pessoa ainda tenha muito a contribuir, pois está mais relacionado à autopercepção de inadequação do que à obsolescência real de suas competências.

Esse fenômeno é diferente da obsolescência objetiva, que ocorre quando uma tecnologia, método ou profissão de fato deixa de existir. No caso da percepção, o impacto é principalmente emocional e psicológico, afetando a motivação, a produtividade e a autoestima. A pessoa pode começar a se auto sabotar, evitar novas oportunidades ou simplesmente parar de investir em si mesma.

O problema é agravado pelo ritmo atual das transformações. Tecnologias como inteligência artificial, automação e plataformas digitais estão mudando o perfil de praticamente todas as profissões. De acordo com o World Economic Forum (2023), 44% das habilidades consideradas essenciais para os profissionais de hoje estarão ultrapassadas até 2027. Nesse cenário, é compreensível que muitos se sintam inseguros e até perdidos.

Mas é importante lembrar: sentir-se ultrapassado não significa que você realmente esteja. Em muitos casos, o que falta é um estímulo ao aprendizado contínuo, uma orientação clara sobre o que desenvolver ou, simplesmente, um ambiente mais acolhedor à transformação profissional.

O cenário brasileiro e o impacto emocional

O Brasil apresenta uma situação particularmente delicada. A pesquisa da DataCamp aponta que 78% dos profissionais brasileiros acreditam que suas habilidades estão ficando obsoletas, e 59% têm medo de perder seus empregos nos próximos anos devido à falta de preparo técnico. Esses números colocam o país entre os que mais sentem os efeitos da obsolescência percebida, à frente de países como Estados Unidos, Alemanha e Japão.

Outro estudo, da LinkedIn Learning, mostra que 46% dos brasileiros acreditam que suas empresas não oferecem suporte suficiente para desenvolvimento de novas competências. Isso cria uma lacuna perigosa entre o que se espera dos profissionais e o que se oferece para que eles evoluam. Sem investimento em educação corporativa, muitos acabam ficando para trás não por escolha, mas por falta de oportunidade.

O impacto disso não é apenas econômico. A obsolescência percebida também gera ansiedade, baixa autoestima e sentimento de fracasso. De acordo com a PwC Brasil, 37% dos trabalhadores entrevistados relataram ter medo constante de perder relevância, o que afeta sua saúde mental e até mesmo seus relacionamentos pessoais. Quando a pessoa sente que não é mais útil ou desejada profissionalmente, isso repercute em todas as áreas da vida.

Além disso, a desigualdade de acesso à educação e tecnologia agrava o problema. Profissionais de regiões com menos infraestrutura, ou com menor grau de escolaridade, têm mais dificuldade para acessar cursos, certificações e redes de apoio. Isso faz com que a obsolescência percebida também seja um problema social e estrutural, não apenas individual.

Por que esse sentimento cresce tão rápido?

Existem diversos fatores que explicam o crescimento da obsolescência profissional percebida. O primeiro é, sem dúvida, o avanço tecnológico. A cada ano surgem novas ferramentas, linguagens, softwares e processos. A OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estima que mais de 1 bilhão de empregos — quase um terço dos empregos no mundo — serão transformados pela tecnologia até 2030. Isso significa que o aprendizado contínuo deixou de ser um diferencial e se tornou uma exigência.

Outro fator é a cultura da comparação constante. Em redes como LinkedIn, vemos atualizações frequentes sobre promoções, novos cursos, conquistas profissionais. Isso pode gerar um sentimento de inadequação, especialmente para quem está em um momento de transição, ou para quem não tem condições de investir em formações caras ou tempo integral de estudo.

A ausência de políticas públicas voltadas à requalificação profissional também contribui para o problema. Embora existam iniciativas como o PRONATEC ou as ofertas do SEBRAE e do SENAI, elas ainda não alcançam de forma massiva e contínua os trabalhadores mais vulneráveis. O desafio está em tornar o acesso à educação técnica e digital mais democrático e eficiente.

Por fim, há um componente geracional. Profissionais com mais de 40 anos, por exemplo, muitas vezes enfrentam preconceitos no mercado e têm mais dificuldades para se adaptar ao uso de novas tecnologias. Isso intensifica o sentimento de inadequação, mesmo quando a experiência e a inteligência emocional ainda são grandes diferenciais.

Caminhos para enfrentar a obsolescência percebida

Apesar de ser um sentimento comum, a obsolescência profissional percebida não precisa ser permanente. O primeiro passo para enfrentá-la é assumir o protagonismo do próprio desenvolvimento. A boa notícia é que nunca houve tantas oportunidades acessíveis de aprendizado. Plataformas como DataCamp, Coursera, Udemy, edX, Fundação Bradesco e Alura oferecem cursos de qualidade com preços acessíveis — ou até gratuitos.

Além disso, é essencial adotar uma mentalidade de aprendizagem contínua. Não se trata mais de fazer uma graduação e “encerrar” os estudos. O profissional moderno precisa estar em constante atualização, mesmo que em pequenas doses. Reservar 15 minutos por dia para leitura técnica ou assistir a uma videoaula já faz uma diferença significativa ao longo de meses.

Mas atenção: antes de entrar em pânico com cada nova tendência ou buzzword que surge, é fundamental separar o hype da realidade. Nem todo sentimento de defasagem reflete uma obsolescência real. Para não se desesperar com modismos, busque evidências concretas de resultados. Observe se, no seu setor, a adoção de novas abordagens, tecnologias ou métodos está realmente gerando ganhos consistentes de desempenho, produtividade ou inovação. Se isso estiver acontecendo, sim — é um sinal legítimo de que talvez seja hora de se atualizar. Mas se as inovações são apenas discursos vazios, ostentações em redes sociais ou mudanças que não se sustentam na prática, cuidado: você pode estar diante de frivolidades disfarçadas de evolução. A crítica e o discernimento são ferramentas tão valiosas quanto qualquer curso técnico.

Outro caminho poderoso é o fortalecimento de redes de apoio e aprendizado coletivo. Participar de grupos de discussão, comunidades profissionais, eventos e mentorias pode ajudar a trocar experiências, descobrir novas ferramentas e até abrir portas no mercado. O aprendizado em grupo também reduz a sensação de solidão que muitas vezes acompanha esse sentimento de obsolescência.

Por fim, é importante que empresas e gestores assumam a responsabilidade de criar ambientes que incentivem o desenvolvimento contínuo. Oferecer trilhas de aprendizado, valorizar competências comportamentais e criar espaços seguros para testes e erros são formas de garantir que os colaboradores evoluam com a empresa — e não sejam deixados para trás.

A obsolescência profissional percebida é um reflexo direto do mundo em que vivemos: veloz, tecnológico e em constante transformação. Sentir-se desatualizado ou ultrapassado é cada vez mais comum — mas isso não precisa ser encarado como um fracasso. Pelo contrário: reconhecer essa sensação pode ser o primeiro passo para uma grande virada.

Mais do que acumular certificados, o desafio está em manter a curiosidade viva e a vontade de aprender. A competitividade do futuro não será medida apenas por habilidades técnicas, mas pela capacidade de adaptação, colaboração e reinvenção. Isso significa que todos podem ser protagonistas da própria jornada, desde que estejam dispostos a seguir aprendendo.

Como sociedade, também precisamos repensar o que valorizamos no ambiente de trabalho. Apoiar o desenvolvimento contínuo, reduzir barreiras de acesso ao conhecimento e criar culturas mais humanas e inclusivas são passos essenciais para um futuro mais justo e preparado. Afinal, ninguém deve se sentir ultrapassado — especialmente em um mundo que precisa tanto de experiência, diversidade e resiliência.

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CEO da Drin Inovação, TEDx speaker, mentor, conselheiro e Linkedin TOP Voice.

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