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A moda do “líder amigo” pode estar enfraquecendo o seu time

Foto: Mel Pacheco.

Por Roberto Vilela, consultor empresarial e estrategista de negócios.

O papel da liderança nas empresas tem passado por diversas transformações. A busca por ambientes de trabalho mais leves, empáticos e colaborativos trouxe ganhos importantes. Mas, em alguns casos, esse movimento tem escorregado para um extremo perigoso: o do líder que quer ser visto apenas como “amigo” da equipe. E aqui vale um alerta — a liderança que se confunde com amizade pode estar, silenciosamente, enfraquecendo o seu time.

Líder não é amigo, é referência. Um bom líder inspira pelo exemplo, direciona com clareza, toma decisões difíceis quando necessário e sabe dizer “não” sem culpa. Claro que empatia é essencial. Claro que devemos ouvir, acolher, entender. Mas isso não substitui a responsabilidade que o cargo impõe. A liderança exige posicionamento, decisões impopulares e, muitas vezes, carregar sozinho o peso do que precisa ser feito.

Quando o líder busca popularidade acima de tudo, corre o risco de perder a autoridade. E sem autoridade, não há liderança. Uma equipe madura não se desenvolve apenas com afagos. Ela cresce com limites claros, metas bem definidas e cobranças justas. Isso não é ser duro. Isso é ser responsável.

A verdade é que popularidade é volátil. Um dia você é o preferido da equipe, no outro, qualquer decisão impopular o transforma no “vilão”. Já o respeito é diferente: ele é construído no dia a dia, com coerência, com firmeza, com integridade. E o respeito é o que sustenta a liderança nos momentos de crise.

Outro ponto importante — e pouco falado — é a solidão que acompanha o cargo de liderança. Sim, ser líder é, muitas vezes, estar sozinho. Há decisões que não podem ser compartilhadas. Há estratégias que não podem ser debatidas com a equipe. Há momentos em que é preciso segurar a barra para que o time siga em frente com confiança. E essa solidão não é um defeito do sistema. Ela é parte da responsabilidade que o cargo exige. Entender isso evita frustrações e prepara emocionalmente quem escolhe liderar.

Infelizmente, esse peso da liderança tem se tornado cada vez mais impopular. Em um mundo onde muitos buscam validação constante e relacionamentos profissionais mais horizontais, o papel do líder (que precisa tomar decisões impopulares, estabelecer limites e assumir responsabilidades difíceis) vem sendo evitado, especialmente pelas novas gerações. Jovens talentos olham para a função e se perguntam: “vale a pena?”. Muitos preferem não assumir posições de liderança para evitar cobranças, exposição e decisões difíceis. O problema é que toda organização precisa de gente disposta a liderar de forma firme, ética e consciente. E isso requer preparo, maturidade emocional e coragem.

O papel do líder não é agradar, é conduzir. E, para conduzir, é preciso ter clareza de que empatia sem direção vira permissividade; liberdade sem cobrança vira desorganização; e amizade sem limites vira confusão. O mercado exige líderes firmes, humanos, mas conscientes do peso de sua função. Equipes precisam de referências, não de cúmplices. E uma liderança forte, ainda que solitária em certos momentos, é o que sustenta empresas saudáveis no longo prazo.

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