Todo negócio nasce de um encontro. E muitos desses encontros acontecem entre amigos, em mesas de bar, cafés de coworking ou grupos de WhatsApp cheios de emojis, piadas internas e promessas de mudar o mundo. Foi assim com André e Tiago.
Amigos desde a faculdade de Engenharia, eles se reencontraram anos depois em um evento de inovação. Um bate-papo sobre o caos da mobilidade urbana se transformou em horas de conversa. “E se a gente criasse uma plataforma para integrar bicicletas elétricas compartilhadas com o transporte público?”, sugeriu André. “Mas sem ser igual aos apps que já existem, algo mais integrado com os dados da cidade”, completou Tiago. Naquela noite, a ideia parecia genial.
Nas semanas seguintes, vieram os cafés animados, os rascunhos no guardanapo, o nome da startup, o domínio comprado, o primeiro pitch num meetup local. Empolgados, começaram a dividir tarefas de forma informal: André, mais técnico, assumiria o desenvolvimento; Tiago, mais comunicador, ficaria com vendas e parcerias. Sem documento, sem contrato, sem muitas perguntas. Afinal, eram amigos. E amigos confiam um no outro.
O que eles não sabiam — e poucos sabem — é que sociedade é um casamento jurídico com obrigações emocionais. E quando isso não é claro, as rachaduras aparecem rápido.
Com o tempo, os conflitos começaram. André queria seguir o plano original, focando em parcerias com prefeituras. Tiago via oportunidades em empresas privadas e delivery. Os horários também começaram a divergir. Um queria dedicação integral; o outro, manter o emprego por segurança. E aí veio o dilema financeiro: investir do próprio bolso ou buscar um investidor-anjo?
As reuniões antes leves viraram embates. O grupo de WhatsApp virou campo de indiretas. As piadas desapareceram. Quando uma aceleradora pediu o contrato social para avançar com o processo, eles travaram. Nunca tinham formalizado a sociedade. Nenhum dos dois sabia o percentual que realmente teria. E, pior: nenhum dos dois tinha certeza se ainda queria seguir junto.
Foi nesse momento que decidiram parar. Não por falta de potencial da startup, mas por falta de clareza entre eles. Passaram semanas conversando. Buscaram mentoria jurídica. Formalizaram um acordo para encerrar a jornada com respeito e transparência. A amizade, com o tempo, se reaproximou — mas a startup não passou do MVP.
Hoje, os dois reconhecem: começaram uma empresa como quem monta uma banda de garagem. Mas o mercado exige um pacto profissional, não apenas afinidade.
Aprendizados do episódio:
- Amizade é um ótimo ponto de partida, mas não substitui contratos, papéis e alinhamento de expectativas.
- Sócios precisam discutir temas difíceis desde o início: tempo de dedicação, divisão de tarefas, investimento, saída.
- Um bom contrato não atrapalha relações — protege elas. E evita que uma startup promissora morra por falta de combinados.
No próximo episódio: Ideia não vale nada? A reflexão de uma empreendedora que teve sua ideia “roubada”, e descobriu, na prática, o que realmente vale em uma startup.
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