Cresci em um ambiente onde errar era dolorido. Trazia vergonha, peso, punição. O certo era acertar. E ponto.
Depois, como muitos da minha geração, fui apresentada a uma nova visão: errar é bom, errar é parte do processo, errar é aprendizado. E, de fato, diversas literaturas e pesquisas apoiam isso. Um estudo da Universidade da Califórnia, por exemplo, demonstrou que o cérebro aprende mais com os erros do que com os acertos, especialmente quando refletimos sobre eles de forma consciente. Outra pesquisa, publicada na Psychological Science, mostrou que quando o erro é acompanhado de análise e correção, o aprendizado é mais profundo e duradouro.
No mundo dos negócios, essa filosofia ganhou força. Os murais de inovação estamparam frases como “Fail fast, learn faster” e os líderes começaram a repetir em looping que o erro é uma etapa do sucesso.
Mas, como boa observadora que sou, comecei a perceber um fenômeno curioso: a banalização do erro.
Criamos profissionais que usam o discurso do “errar é bom” como cortina de fumaça para justificar atitudes inconsequentes. Pessoas que erram com frequência e não sentem o peso disso. Que transformaram um conceito saudável em desculpa. E isso é perigoso.
Porque errar, por mais humano que seja, precisa ter consequência. Precisa ter aprendizado. Precisa gerar ação.
Na prática, tenho visto empresas que evitam demitir pessoas por receio de parecerem intolerantes. Preferem manter profissionais que repetem os mesmos erros sob o argumento de que “aqui é permitido errar”. Em alguns casos, insistem em produtos que claramente não funcionam — não por estratégia, mas por pura vaidade ou apego emocional à ideia. Mas será que isso é mesmo saudável para o negócio? Ou estamos terceirizando a responsabilidade com um discurso bonito?
Errar só é bom se vier acompanhado de três elementos:
- Reflexão — O que aconteceu? Por que aconteceu?
- Comprometimento — O que eu assumo que não farei mais?
- Ação — O que vou construir para evitar que aconteça de novo?
Isso vale para tudo: da vida pessoal à gestão de times e negócios. Quando não criamos processos, não documentamos aprendizados e não tomamos decisões, o erro deixa de ser aprendizado e vira descuido.
A cultura do erro saudável é um convite ao amadurecimento. É sobre entender que errar é natural, mas que aprender com ele é opcional — e precisa ser intencional.
O que não dá é para romantizar o erro e esquecer da responsabilidade que ele carrega. Porque, no fim do dia, gestão boa é aquela que erra menos. E quando erra, sabe exatamente o que fazer.