Quando comecei minha trajetória assessorando empresas em operações internacionais e, depois, construindo a Flow Vista para apoiar negócios a escalar globalmente, percebi um movimento silencioso, porém poderoso: o Brasil estava, e está, pronto para ser muito mais do que um exportador de commodities ou um celeiro criativo isolado. Estamos diante da maior oportunidade de transformação da nossa história recente: consolidar o país como uma potência criativa global por meio da exportação de serviços digitais.
As plataformas e soluções brasileiras já começam a conquistar mercados altamente competitivos, como Estados Unidos e Europa, em áreas como mercado financeiro, marketing digital, educação, saúde e Web3. Esse movimento reflete não apenas a força técnica do nosso ecossistema, mas também a nossa capacidade de criar narrativas autênticas, entender dores globais e entregar soluções com agilidade.
Para que a expansão se torne sólida e escalável, é preciso ir além do impulso criativo. É fundamental construir modelos de negócios preparados para operar em múltiplos mercados, respeitando legislações locais, demandas culturais e especificidades tributárias. Um caminho estratégico cada vez mais utilizado é a adoção de contratos inteligentes (smart contracts), que automatizam cláusulas, garantem execução transparente e reduzem significativamente riscos em transações internacionais. Esses instrumentos permitem que empresas brasileiras negociem com players globais de forma ágil, segura e sem intermediários desnecessários, tornando a operação mais eficiente e confiável.
Outro ponto determinante é a escolha de hubs e ecossistemas estratégicos para entrada. Ao longo dos anos, acompanhei de perto empreendedores que se consolidaram em Miami, Lisboa, Barcelona, Cidade do México e Dubai, por exemplo. Cada mercado exige um entendimento profundo das regulamentações, uma adaptação de linguagem e, principalmente, a formação de parcerias locais. Não basta apenas “vender para fora”; é preciso “pertencer” ao mercado de destino, absorver seus códigos culturais e estabelecer raízes.
Há ainda um grande potencial em explorar novos mecanismos de financiamento e atração de investimentos, usando estruturas globais, holdings e veículos internacionais, facilitando captação e reinvestimento em inovação. Essa engenharia jurídica e estratégica é essencial para startups que desejam não apenas sobreviver, mas liderar fora do Brasil.
Nosso maior ativo não é apenas o código que escrevemos ou os produtos que entregamos, mas a nossa capacidade de pensar diferente. No exterior, muitas vezes, o brasileiro é traduzido como adaptável, resiliente e criativo, características fundamentais para qualquer empresa que queira disputar espaço em mercados maduros.
O Brasil tem, hoje, a chance de se consolidar como exportador de inovação, tecnologia e valor cultural. Para isso, é necessário fomentar uma mentalidade global desde o início, investir em governança robusta, fortalecer a proteção de dados e propriedade intelectual, e preparar fundadores para negociar em mesas internacionais.
Transformar essa visão em realidade não é apenas uma questão de estratégia de negócios, mas um convite a redesenhar a imagem do Brasil no mundo. Quando conseguimos provar que podemos exportar inteligência, criatividade e tecnologia com a mesma força com que exportamos café e soja, abrimos um novo capítulo para a nossa economia e para nossa identidade enquanto nação.