Search

No board, finanças é o perfil número 1

Foto: AdobeStock

Por Artur de Castro Frischenbruder, sócio e headhunter da Evermonte Executive Search.

O perfil predominante nos conselhos brasileiros, de acordo com a pesquisa Board Trends Brazil, do Evermonte Institute, é o de homens com trajetória em Finanças e idade entre 51 e 60 anos. Outro estudo produzido neste ano pelo Instituto, o Women at the Top, não deixa dúvidas sobre a principal área de origem dos membros do board no Brasil: segundo a pesquisa, 32,7% dos conselheiros brasileiros vêm da área de Finanças.

Os dados retratam uma mudança de perfil nos conselhos e uma preferência que, mesmo antiga, tem ganhado novos contornos em um cenário de complexidade crescente. A pergunta é inevitável: por que Finanças segue no centro das decisões estratégicas das empresas — especialmente nos momentos em que o risco aumenta e a margem aperta?

Menos discurso, mais precisão

Durante muito tempo, a composição dos boards era guiada por reputação, rede de relacionamentos e cargos de prestígio, como o de CEO. A vivência corporativa era considerada suficiente para ocupar a cadeira de conselheiro. Mas o contexto mudou — e, com ele, as exigências também.

Hoje, os conselhos procuram algo diferente: precisão técnica, leitura de cenário e capacidade de dizer “não” com responsabilidade. O profissional de Finanças passou a ser visto não apenas como alguém que entende de números, mas como uma referência de racionalidade e sustentabilidade de decisões.

As pesquisas confirmam esse movimento. Segundo a Women at the Top, entre os homens que hoje ocupam posição em conselhos, Finanças aparece como a origem funcional mais comum, seguido por Negócios (30,2%) e Operações (20,4%). São áreas diretamente ligadas à geração de valor, controle e eficiência — pilares fundamentais da governança em tempos de pressão e transformação.

Técnica, política e contexto

O protagonismo de Finanças vai além da análise técnica. Há uma leitura política nesse movimento: quando há incerteza, as empresas priorizam vozes que trazem solidez e visão de risco. Conselheiros com esse background costumam ter experiência em ciclos de crise, reestruturações, auditorias e gestão de capital — e sabem como posicionar a empresa de forma realista diante de cenários adversos.

Mas aqui entra uma segunda camada de análise — muitas vezes ignorada: a composição homogênea dos conselhos pode limitar a qualidade das decisões. Não por falta de competência, mas por escassez de contraste.

O equilíbrio entre técnica e diversidade de visões

O Women at the Top também mostra que, enquanto os homens que ocupam conselhos vêm majoritariamente das áreas de Finanças, Negócios e Operações, as mulheres conselheiras têm backgrounds mais diversos, com passagens por áreas como Jurídico, Comunicação, RH e Sustentabilidade.

Esses perfis não competem com a técnica. Eles a complementam. Permitem que o conselheiro com formação financeira vá além da leitura fria de números e incorpore outras camadas à análise — como impacto social, reputacional, humano e ambiental.

Essa pluralidade de perspectivas amplifica o poder estratégico do board, tornando as decisões mais robustas e conectadas com a realidade do negócio e da sociedade.

A pergunta não é “se”, mas “como”

O perfil de Finanças continuará sendo um dos mais relevantes dentro dos conselhos. Mas a questão central passa a ser outra: como garantir que esse perfil técnico influencie com ainda mais impacto?

A resposta está na construção de conselhos que promovam diálogo entre especialidades, combinem capacidade analítica com visão de contexto e, principalmente, saibam extrair o melhor de cada conselheiro — sem sobreposição de discursos, mas com complementariedade de papéis.

Em um ambiente de governança onde resultados, riscos e reputação andam juntos, ninguém governa sozinho. E nenhum número, por mais preciso que seja, explica tudo.

Compartilhe

Referência em recrutamento executivo na Região Sul do Brasil, a Evermonte tem como propósito garantir a evolução da governança corporativa por meio do recrutamento de lideranças estratégicas. Com escritórios em Porto Alegre, São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Joinville, o grupo conta com uma equipe de headhunters especialistas, com vasta experiência nas áreas para as quais recrutam. Seus processos seletivos são conduzidos a partir de uma metodologia própria, que inclui a utilização de ferramentas de Inteligência Artificial, people analytics e avaliação cognitiva para garantir os melhores resultados aos seus parceiros.

Leia também