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Os planos da SalesHunter após a aquisição da Connect Sales

Foto: divulgação.

A SalesHunter, empresa manezinha de recrutamento para vendas B2B, acaba de anunciar a aquisição da Connect Sales, solução de IA para times de vendas.

Gustavo Salles, CEO da SalesHunter, destaca que a empresa encontrou um produto que é complementar para seus clientes. A previsão de faturamento para 2025 é de R$ 3 milhões.

“Nós já estávamos estruturados com recompra e continuidade, mas faltava algo para estar no dia a dia do cliente e ter receita recorrente mensal, e é a partir dessa necessidade que entra a aquisição da Connect Sales, que chega para somar e oferecer esses serviços e tecnologias para a nossa base”.

Na prática, a SalesHunter aportará à Connect Sales sua equipe de tecnologia, além de estruturas nas áreas de comercial, marketing, recursos humanos, financeiro e jurídico.

Com a movimentação, Franky Neto, CEO da Connect Sales, assume como CPO da SalesHunter. A projeção é atingir o faturamento de R$ 1 milhão já no primeiro ano.

A conexão entre as duas empresas surgiu de forma orgânica, por meio de uma profissional que já havia atuado com Franky em outra organização. Foi ela quem percebeu o potencial de sinergia entre os negócios e promoveu a ponte com Gustavo.

“Ela entendeu o momento do meu projeto e disse que poderia nos conectar com alguém que fizesse sentido para impulsionar o crescimento. Foi assim que conheci o Gustavo”, relembra Franky.

A aproximação aconteceu no início deste ano, quando foi realizada uma prova de conceito, prática que valida a viabilidade de uma solução antes de um investimento maior, que durou 2 meses e apresentou resultados expressivos. A partir de então, iniciaram as negociações que culminaram na união oficial das empresas.

“O match se deu justamente porque a SalesHunter, que é uma empresa de recrutamento para times de vendas, entra com o capital humano e a gente entra com um capital tecnológico. O cliente contrata a SalesHunter porque precisa de profissionais para o time de vendas e eles já levam as ferramentas que a Connect Sales desenvolve. A SalesHunter potencializa uma operação comercial com capital humano e nós precisamos ter acesso a esse capital humano para poder potencializar eles com capital tecnológico”, pontua Franky.

NA PRÁTICA

Enquanto a Connect contribui com o produto e com o sócio especializado em desenvolvimento, a SalesHunter entra com a base de clientes, força de trabalho e os recursos estratégicos necessários para impulsionar vendas, marketing e gestão da operação.

Gustavo explica que os serviços se complementam diante de uma mudança significativa no mercado de SDRs e que as empresas estão desenvolvendo sistemas agênticos de IA para operações comerciais.

“Antes, era comum as empresas apostarem em profissionais juniores, com pouca experiência, para atuar no atendimento de leads inbound. No entanto, esse processo está cada vez mais fácil de ser automatizado. Em parceria com a Connect, desenvolvemos um SDR de IA capaz de assumir parte do trabalho de pré-vendas. É importante destacar que essa solução ainda não substitui etapas como prospecção ativa e geração de demanda”.

A expectativa da SalesHunter agora é ampliar a presença na jornada dos clientes, oferecer novas soluções, fortalecer o relacionamento e desenvolver estratégias que agreguem valor tanto ao produto quanto à experiência do cliente.

Já a Connect Sales busca trabalhar com médias e grandes contas e atingir um ticket médio maior para depender menos de investidores externos. A ideia é que os clientes atuem como parceiros para fazer a distribuição da solução.

O Economia SC conversou com os dois empresários para entender como os negócios surgiram e como a parceria foi fechada. Confira abaixo:

Gustavo, conte um pouco sobre a sua trajetória e como nasceu a SalesHunter?

Gustavo: Eu estou no mercado de startups desde 2013, quando comecei no marketing. Tenho pais jornalistas e sempre gostei das áreas de marketing e comunicação. Nessa época, comecei a descobrir a parte de geração de leads, a área de growth, geração de demanda e prospecção. A área comercial acabou aparecendo na minha carreira logo no início da jornada e eu me adaptei muito rápido. A primeira startup em que atuei em Florianópolis foi adquirida pelo Mercado Livre, e então fui para São Paulo e trabalhei como Head de Vendas em outros negócios. Passei por algumas empresas em um curto espaço de tempo, trabalhei como head em startups investidas que estavam contratando, montando times de vendas muito rapidamente e com urgência, e esse era o meu desafio. Ao ir para São Paulo, percebi que toda startup que captava investimento precisava de um perfil como o meu, alguém que consegue olhar para cima na estratégia e desdobrar isso em ação, ou seja, contratar, treinar, vender e organizar processos. Fui percebendo o tamanho do desafio que era contratar bons profissionais. Em 2019, eu tinha ido para Curitiba em um desafio que acabou não sendo como o planejado e eu fui desligado. E então ao voltar para Florianópolis, com aquela rescisão no bolso e a vontade de fazer algo diferente, eu comecei a SalesHunter. Eu trouxe um amigo para ser meu sócio, o Guillermo Wagner Massena. No início eu comecei fazendo consultoria de vendas e contratação, e naquele momento eu percebi que tinha um potencial muito grande de nichar na contratação de vendas B2B e abraçar todas essas startups que captam investimento. Nos primeiros seis meses que decidimos focar na contratação, o negócio começou a dar certo, a escalar, a ter mais clientes e clientes maiores, e então estruturamos a empresa. Desde então são quase sete anos de história em que construímos tecnologia, processo, equipe, uma base de clientes sólida e uma marca muito forte no mercado. A empresa não tem nenhum real de investidor, é uma empresa 100% bootstrap, e nós trabalhamos bastante com serviços e projetos. Apesar de ser um negócio com tecnologia própria, que possui um produto tecnológico com uma plataforma de gestão, nós vendemos o serviço, que é entregar o candidato final preparado para aquele processo, os melhores nomes possíveis para aquela vaga. Esse é o nosso negócio em si. A empresa nasceu de uma dor do mercado, de contratar bons vendedores, e de vendedores e líderes encontrarem boas vagas de emprego, com transparência, salários abertos e informações claras.

Qual é a sua percepção do mercado no momento?

Gustavo: A inteligência artificial veio para transformar várias coisas dentro da esteira do comercial, desde como encontramos leads, como criamos abordagens, como preparamos o time, qualificamos essas oportunidades e esses profissionais. Nesse momento, a nossa visão é: empresas de venda relacional, que dependem de criar um relacionamento de longo prazo com o cliente, vão precisar cada vez mais da SalesHunter para encontrar pessoas realmente diferenciadas no mercado. Enquanto isso, empresas que têm clientes menores, que vendem para pessoa física, empresas de software de ticket baixo, que têm as vendas mais automatizadas, estão passando por um processo radical de transformação das operações. Quem contava com várias ferramentas integradas, quem fez muitas automações costuradas em outras ferramentas, neste momento procura ferramentas de inteligência artificial para automatizar por completo ou parcialmente o processo de vendas inbound. Eventualmente, uma venda transacional, de um ticket muito baixo, que não tem como colocar um vendedor focado porque a conta não fecha, faz mais sentido ter um agente bem construído para tocar esse processo de ponta a ponta. Então, a Connect, por exemplo, é capaz de criar esse agente para receber uma oportunidade que chegou pelo site, conversar, qualificar, entender documentos, enviar áudios, receber áudios e até direcionar para links de pagamento. Porém, é importante que as empresas estejam muito antenadas no seu próprio modelo de venda e não tentem colocar IA em processos que são de venda consultiva. Essas vão precisar ainda mais de excelentes vendedores e é aí que entra essa parceria da SalesHunter e Connect Sales.

Franky, conte um pouco sobre a sua trajetória e como nasceu a Connect Sales?

Franky: Eu sempre tive perfil de negócios, esse é meu perfil profissional. Sempre fui a pessoa que era chamada para participar de um projeto naquele momento em que a situação está caótica. Com 17 anos eu queria ser professor, e então fui para Curitiba estudar licenciatura na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Já no primeiro ano da faculdade trabalhava em dois colégios como professor de português, o que foi ótimo, porque vi que não era isso que eu queria para mim. Então, um ano depois, tranquei o curso e me mudei para os Estados Unidos, onde vivi cinco anos e meio. Nesse período no exterior morei por um tempo em São Francisco, berço do Vale do Silício, e foi lá que conheci e entrei no mercado em que atuo hoje. Ao retornar para o Brasil em 2020, minha intenção já era atuar por conta própria e abrir uma agência full service, só que fui pego de surpresa pela pandemia. Acabei retornando para o mercado de trabalho, onde entrei em um grupo empresarial no time de marketing, rapidamente me tornei head e então sócio, liderando toda a parte de operações. A Connect Sales surgiu inicialmente como uma ideia de produto que tive em 2023, já com base em Inteligência Artificial, que quis implementar nessa empresa em que atuava. Como eu não era o único tomador de decisões, foi um desafio tirar do campo das ideias, então em 2024 tomei a decisão de sair do grupo e de começar a construir o projeto da Connect Sales. Em 2025, iniciei o ano oficialmente 100% focado na minha empresa. Fiz um evento com alguns empresários da região, que batizei de Connect Day, onde fiz um workshop das ferramentas de processo comercial para apresentar a ideia, o produto e engajar o pessoal. Busquei ligar minha imagem à minha nova marca e levar o nosso nome para o mercado. Foi assim que nasceu a Connect Sales.

Franky, a partir de agora você assume como CPO também. Como vai ser esse novo desafio?

Franky: Discutimos algumas possibilidades do que poderia ser feito a partir dessa parceria. O cargo de CPO veio como um convite do Gustavo. Planejamos unificar produto e tecnologia dentro da SalesHunter sob uma única liderança. Esse será meu desafio, unir tecnologia com a frente de produto dentro da empresa, com a ideia de trazer inovação no processo de recrutamento. A SalesHunter é muito forte e muito conhecida na parte de serviço, no carinho e na proximidade do time de recrutamento com o cliente. E isso é muito bom, porque isso fez com que a marca e a empresa se tornassem o que são hoje. Buscamos otimizar e melhorar o processo. Como eu tenho um background em operações, essa união faz sentido. Queremos manter a integridade da marca e esse contato com o cliente otimizando a folha de pagamento. Por enquanto temos mais perguntas que respostas, mas esse é o desafio. Estamos rodando várias hipóteses, eu rodei um discovery em toda a equipe e estou fazendo o mesmo processo com alguns clientes-chave da empresa para entender melhor a perspectiva deles. Já definimos algumas ações que estão sendo implementadas, mas ainda é bem early stage. No momento estamos com foco em tirar a Connect da inércia, pois é um projeto promissor, com um produto bem interessante. Estamos estruturando equipe de desenvolvimento e de vendas, além do produto. Minha parte como CPO é algo que vamos acelerar possivelmente no primeiro semestre de 2026. Por hora, estou levantando hipóteses, rodando testes, fazendo pequenos ajustes, mudando a arquitetura de como a equipe lida com tecnologia e produto, preparando o terreno para a gente poder acelerar essa parte no próximo ano.

Qual é a sua percepção do mercado no momento?

Franky: A tecnologia do GPT que vem com essa inteligência generativa em linguagem humana começou em 2020, teve o seu boom em 2022 com o chat GPT e começou muito forte em 2024 com o lance dos agentes de IA. Então, é novo, é muito recente e é difícil ter uma resposta sobre para onde o mercado vai. Eu não acredito na ideia de que a inteligência artificial vai eliminar a função do humano, ela é muito mais um copiloto, independentemente do processo que tem que ser feito. Chamamos isso de human in the loop, em que o humano tem o poder de supervisionar, guiar e trabalhar ao lado da inteligência artificial. Então a IA não vai eliminar a mão de obra, e sim potencializar. Somos mais uma startup em um mercado em que ninguém tem respostas e todo mundo tem perguntas. Somos bem orientados a dados, trabalhamos lado a lado com o nosso cliente e ajustamos rápido. Por sermos uma startup que já nasceu na era da IA, os nossos processos já são todos formatados com base nela. Então, diferente do que muitas empresas estão tendo que fazer, que é inserir IA em algo que elas já possuem, nós já estamos criando os nossos processos com base em IA. Por exemplo, nós viemos do zero a uma interface completa com duas funcionalidades prontas e uma API externa conectada para poder fazer chamadas para outros serviços em 60 dias. Desde o dia zero, o nosso planejamento já foi pensar em como a IA vai nos ajudar a desenvolver mais rápido, com mais segurança e de modo modular e escalado. Somos ágeis para construir soluções. Conseguimos sentar ao lado do cliente, ver o que ele precisa e rapidamente desenvolver, porque o nosso processo já está formatado para isso, essa é uma das nossas vantagens no mercado: já nascemos desenvolvendo todo o processo e a lógica de negócio formatados para atuar com IA, diferentemente de outras empresas que estão tendo que se adaptar.

Diante da aquisição, a perspectiva é de crescimento estratégico para ambos os lados. SalesHunter e Connect Sales seguem trabalhando na integração das operações e da equipe, validando soluções e aprimorando processos internos com foco total na expansão dos negócios nos próximos meses.

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