O Chile cresceu mais e arrecadou melhor quando decidiu tributar menos. Enquanto isso, o Brasil ainda aposta no modelo inverso: cobra muito, arrecada mal e comprime salários. A comparação entre os dois países revela que a carga tributária ideal não é a mais alta possível, mas a mais inteligente.
Nas últimas décadas, o Chile adotou uma política de carga tributária moderada e estrutura simples. A alíquota padrão do IVA (Impuesto al Valor Agregado), principal tributo sobre o consumo, é de 19 % — mantida nesse patamar desde 2003. Não há cumulatividade nem regimes substitutivos complexos. O país também conta com um número reduzido de tributos e estabilidade normativa.
Esse modelo sustentou, ao longo do tempo, um crescimento consistente: entre 1990–1998, crescimento médio de 7,3 % ao ano; entre 2000–2009, média de 4 % ao ano; entre 2010–2019, média próxima a 3,3 % ao ano; e, em 2021, alta de 11,3 % no pós‑pandemia. Entre 2024 e 2025, a expectativa é de aproximadamente 2,5 % anuais (reflexo de uma economia que arrefeceu em meio aos impasses econômicos mundiais, ou seja, um ciclo econômico conjuntural, sem relação com a política tributária do país).
Enquanto isso, o Brasil optou por um caminho oposto.
A Reforma Tributária aprovada em 2023 substituiu cinco tributos (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) por outros cinco: CBS, IBS, Imposto Seletivo, IPI/ZFM e Contribuição estadual sobre produtos primários. Embora tenhamos uma lei instituidora, a dualidade federativa na tributação do consumo persistirá: União cobrando CBS, Estados/Municípios cobrando o IBS. Ou seja, não diminuiremos o número de tributos nem a complexidade do sistema.
A alíquota projetada de IBS e CBS, combinados, não será inferior a 26,5 % —a segunda mais alta do mundo. Isso significa que parte significativa dos rendimentos e salários recebidos pelos brasileiros será absorvida por esses dois novos tributos (sem falar no inédito Imposto Seletivo).
O modelo brasileiro penaliza o consumidor, sobretudo aquele das classes média e baixa. Os efeitos são previsíveis: preços elevados, compressão salarial e retração do consumo. Alíquotas altas premiam a sonegação e geram uma base de tributação estreita, informal e saturada.
A lição chilena é clara: alíquotas mais altas diminuem o número de operações, enquanto alíquotas mais baixas têm o resultado inverso, movimentando a economia e gerando empregos.
Tributar menos pode, sim, significar arrecadar mais — desde que se estimule o crescimento e a formalização. Com alíquotas moderadas e regras estáveis, o Chile ampliou a base de arrecadação, sustentou o crescimento do PIB e elevou os salários reais. No Brasil, a insistência em manter uma das maiores cargas tributárias do mundo sobre o consumo — sem aliviar a folha de pagamento ou respeitar a diversidade contratual de setores produtivos — é um atalho para o fracasso fiscal e social.
O futuro da arrecadação está menos na intensidade da cobrança e mais na inteligência da tributação.