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Pivotar ou morrer tentando

Renata Vidal, 30 anos, ambientalista por vocação e empreendedora por teimosia, fundou a VerdeComVocê com uma missão clara: reduzir o uso de embalagens plásticas no varejo alimentício brasileiro. A ideia era inovadora — desenvolver estações inteligentes de refill (refil) de produtos como grãos, cereais e temperos em mercados de bairro. O consumidor levaria seu próprio pote, escanearia, abasteceria e pagaria sem contato humano.

Nos primeiros testes, em feiras e eventos de sustentabilidade, o projeto foi ovacionado. Ganhou prêmio de inovação, matéria em blog verde, convite para apresentar no Congresso de Economia Circular. Parecia o negócio perfeito: impacto ambiental, propósito nobre e tecnologia aplicada ao consumo consciente.

Renata acreditava com todas as forças que era só uma questão de tempo até o mercado entender o valor. Então ela fez o que muitos fazem: acelerou antes de validar.

Investiu tudo que tinha em três totens inteligentes. Fez parceria com um mercadinho de bairro, instalou as máquinas, treinou a equipe. E esperou.

Nos primeiros 30 dias, foram 4 recargas. Em um bairro com mais de 10 mil habitantes.

Desesperada, fez vídeos explicativos, gravou tutoriais com influenciadores sustentáveis, distribuiu folders, mudou o sistema de pagamento. Nada parecia surtir efeito.

As máquinas estavam lá, modernas, silenciosas — e vazias.

Renata decidiu passar um dia inteiro no ponto de venda, observando. Entrevistou clientes. Descobriu que muitos não sabiam usar. Outros achavam caro. Alguns nem sabiam que poderiam levar potes de casa. E o mais duro: alguns funcionários do mercado desencorajavam o uso por preguiça de explicar.

Foi ali que ela entendeu: o produto era bom, mas o modelo de negócio não parava em pé.

Ela tentou resistir. Adaptou o layout. Mudou o app. Tirou a parte do autoatendimento. Mas os números não mentiam. Era hora de escolher: mudar ou fechar.

Com dor, coragem e muito choro, Renata tomou a decisão: pivotou.

Desligou os totens e criou uma nova proposta — um sistema B2B de logística reversa e fornecimento de refil inteligente para marcas que vendem a granel. Ao invés de tentar mudar o comportamento do consumidor final, focou em apoiar empresas que já estavam no jogo da sustentabilidade, oferecendo tecnologia, rastreabilidade e gestão de estoque limpa.

Três meses depois, fechou contrato com duas marcas nacionais de produtos naturais. A VerdeComVocê não era mais a startup da máquina bonita — era a startup que ninguém via, mas resolvia um problema real.

Aprendizados do episódio:

  • Uma ideia pode ser linda e premiada — e ainda assim, não ser viável no formato original.
  • Pivotar não é desistir. É transformar insistência cega em inteligência de negócio.
  • O ego do founder é um dos maiores inimigos da sobrevivência. Saber mudar é mais corajoso do que seguir no escuro.

No próximo episódio: cresci, mas virei refém do cliente errado. Como um contrato com um grande cliente quase destruiu uma startup promissora, e o que ela fez para recuperar sua liberdade.

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CEO da Sapienza.

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