Por Ionita Lunelli, gerente regional do Sebrae/SC.
Segundo dados do Sebrae, os pequenos negócios brasileiros atingiram um nível de digitalização recorde neste ano, com 76% dos empreendedores usando computadores nas atividades, além de 47% utilizando softwares ou programas para integrar as demandas, o que representa um crescimento de 20 pontos percentuais em comparação com 2018.
Em recente missão empresarial à China, pude observar que o futuro dos negócios passa pela integração entre tecnologia, experiência do cliente e eficiência nas entregas.
Mas como as micro e pequenas empresas (MPEs), que são tão relevantes para a economia brasileira, podem usar esses aprendizados de forma prática e investir ainda mais em tecnologia?
1. Logística inteligente e acessível
Na visita à SF Express e à Meituan, observamos o uso de drones e veículos elétricos para entregas rápidas. Embora essa tecnologia ainda pareça distante para os pequenos negócios brasileiros, o conceito central é aplicável: investir em logística eficiente.
Para as MPEs, isso pode significar desde parcerias com aplicativos de entrega até a organização de rotas inteligentes e uso de ferramentas de rastreamento para melhorar a experiência do cliente.
2. Tecnologia como parceira da gestão
Empresas como Tencent e Tezign mostraram como a inteligência artificial já é parte do dia a dia dos negócios na China, seja em atendimento ao cliente, pesquisa ou marketing.
No Brasil, as MPEs podem se beneficiar de soluções acessíveis de IA, como assistentes inteligentes para atendimento do cliente no WhatsApp, ferramentas de análise de dados e plataformas de automação de marketing digital.
3. Inovação como ecossistema
A visita ao polo de inovação InnoX Academy, localizado na cidade de Shenzhen reforçou que a inovação floresce quando há colaboração entre academia, governo, novos talentos e empresas já estabelecidas.
Para os pequenos negócios, o paralelo é buscar integração em redes locais, como associações, cooperativas, instituições e projetos coletivos que ampliem a capacidade de inovação sem exigir altos investimentos individuais.
4. Indústria 4.0 também para os pequenos
Em Guangzhou, conhecemos indústrias têxteis altamente automatizadas, como a Hengyue Zhizao, que com apenas 100 funcionários já atinge a marca impressionante de 200 mil metros de tecido por dia, podendo expandir rapidamente para 500 mil metros, além de empresas que oferecem esse serviço, como a Jack Technology, maior empresa de automação para o setor têxtil do mundo.
Embora aderir a esse tipo de tecnologia ainda não faça parte da realidade de uma pequena confecção brasileira, o negócio pode adotar ferramentas digitais de modelagem, corte sob demanda e gestão de estoque, que já estão acessíveis a custos viáveis e aumentam a competitividade.
5. Experiência do cliente no centro
Seja na Starbucks Reserve ou na loja-conceito da Louis Vuitton, a mensagem foi clara: o consumidor quer mais do que um produto, deseja experiências.
Para as MPEs, isso pode ser traduzido em atendimento diferenciado, lives de vendas com interação, personalização e storytelling das marcas.
A grande lição que a China nos deixa é que inovação não é exclusividade das grandes empresas. Micro e pequenos negócios podem adaptar tecnologias, ferramentas e práticas para fortalecer a competitividade.
O desafio é não esperar o futuro chegar, mas agir agora. Como disse Jensen Huang, CEO da Nvidia: “Ou você corre atrás da comida, ou corre para não virar comida”.
No Brasil, as MPEs têm algo que nenhuma tecnologia substitui: a proximidade com o cliente. Quando essa essência se une à inovação, os negócios ficam prontos para competir em qualquer cenário.