Aos 15 anos, a jovem empresária e confeiteira Júlia Cherem, de Florianópolis, começou a vender brigadeiros feitos em casa durante o intervalo das aulas do colégio.
O que começou como um hobby acabou se transformando em um negócio que conquistou reconhecimento na cidade e que hoje movimenta milhões de reais anualmente.
Hoje, aos 26 anos, ela comanda a Júlia Cherem – Doces Momentos, marca que cresceu a partir de um modelo artesanal, com foco em bolos e doces personalizados.
Nesta entrevista, ela fala sobre os desafios do início, o papel das redes sociais, a importância do apoio familiar e das amigas, e os planos para o futuro do negócio. Confira abaixo:
Como você começou?
Eu tinha 15 anos, estava no colégio e comecei a fazer brigadeiros em casa. Já era um hobby, fazia vários sabores para minha família e amigos e gostava muito. E desde pequena sempre tive o sonho de ser empreendedora, gostava de brincar de loja, fazer as pessoas comprarem as minhas coisas, e eu pensei: “já que eu faço brigadeiros em casa e o pessoal gosta, posso vender”. Inicialmente meus pais achavam que eu deveria focar nos estudos, mas depois concordaram. No fim, com a venda dos brigadeiros consegui comprar um celular novo, e o que começou como uma ideia divertida acabou se tornando um negócio, algo que eu nem imaginava.
Você já tinha essa paixão específica por doces ou também cozinhava outras coisas?
Eu já cozinhava outras coisas, mas desde pequena sempre me interessei mais por doces. Quando minha mãe e minha avó preparavam sobremesas, eu ficava mais envolvida com os doces do que com qualquer outra coisa.
Quando os brigadeiros se transformaram na marca “Doces Momentos da Júlia”?
Logo que comecei a vender no colégio, criei um Instagram, mas no início era só brigadeiro. Só depois de cerca de um ano e meio que comecei a vender outros doces.
Na época, já surgiram encomendas para festas?
Sim, já fazia encomendas de Natal, caixinhas de quatro ou seis docinhos, e para presente também.
Você sofreu algum tipo de bullying por vender doces na adolescência?
Nunca tive vergonha. Teve um boato de que eu vendia porque meus pais precisavam de dinheiro, mas não era verdade; todo dinheiro ficava comigo. Minhas amigas sempre me defendiam, então sempre tive apoio.
Teve algum primeiro grande montante de dinheiro que te marcou?
Sim, um amigo do meu pai encomendou muitos doces para uma festa. Ele pagou tudo em dinheiro e fiquei surpresa com o quanto se podia ganhar. Fazia tudo em casa, de madrugada, sem espaço adequado.
O nome da marca sempre foi o seu?
Não. Comecei com “Santo Brigadeiro”, mas o pessoal chamava de “docinho da Júlia”. Quando fiz o rebranding, decidi usar meu próprio nome, acabou fazendo mais sentido.
Onde era esse primeiro espaço?
Na rua José Boiteux, uma transversal da Mauro Ramos, também no centro de Florianópolis. Era uma cozinha de produção pequena, com recepção para entregar encomendas, mas sem espaço para consumo.
Como era o volume de demanda nessa época?
Aumentou muito. Antes de sair de casa, já tinha que recusar encomendas. Após o espaço próprio, o faturamento aumentou cerca de 50%. Entrei no mercado de casamentos, formaturas, encomendas maiores que não conseguia fazer em casa.
A abertura do café em 2022 aumentou o faturamento?
Sim, mais do que dobrou. A loja física funciona como vitrine: clientes que experimentam acabam fazendo encomendas também.
Há planos de abrir novas unidades?
Queremos crescer, mas com foco na qualidade. Não temos um plano específico de quantidade, apenas queremos manter o padrão do negócio.
As vendas online são expressivas?
Aproximadamente 30% das encomendas vêm pelo site ou iFood. O tráfego pago e stories com link ajudaram a impulsionar as vendas este ano.
Como você vê o negócio a médio e longo prazo?
Em breve estaremos lançando um curso online de confeitaria para iniciantes e quem já faz doces em casa e quer se profissionalizar. O curso ensina receitas, organização financeira, produção, marketing e contato com clientes. A ideia é ajudar as pessoas sem que passem pelos mesmos desafios que eu enfrentei.
E a atualização na confeitaria, você busca aprender?
Sim, online e presencial, viajando para aprender tendências. Mantemos o cardápio sempre renovado, com novidades a cada seis meses.
O faturamento sazonal, como a Páscoa, é importante?
Sim. Em 2020, numa semana de Páscoa, faturei R$ 120 mil, mesmo durante a pandemia. Em 2025, quase o dobro.
E o faturamento anual recente?
Em 2024, quase R$ 1,9 milhão. Para 2025, estimamos 15% a mais, ultrapassando R$ 2 milhões.