Por Maicon Dias, CEO da Gampi Casa Criativa.
O varejo brasileiro atravessa um dos anos mais desafiadores da última década. As vendas cedem, o crédito segue caro e o consumidor está ainda mais cauteloso. Segundo o IBGE, houve recuo de 0,3% em julho. No acumulado do ano, a alta é de 1,7% e, em 12 meses, de 2,5%, abaixo da inflação, o que significa perda real de poder de compra. Os estoques cresceram e a confiança do mercado segue abalada.
Com isso, a Black Friday surge como um possível respiro. Não de lucro, mas de movimento. É a oportunidade de girar mercadorias que ficaram tempo demais nas prateleiras, renovar o portfólio e recuperar ritmo para o próximo ciclo. Em tempos de crise, não é hora de ganhar, é hora de girar.
A ABComm projeta 13,34 bilhões de reais em vendas neste ano, um otimismo moderado em relação a 2024, quando o comércio faturou 9,3 bilhões de reais. Ainda assim, o resultado só fará sentido para quem entender que a disputa não é apenas por preço, mas também por credibilidade.
Na Black Friday, o preço pesa e costuma abrir a conversa, mas a decisão final acontece quando o consumidor percebe que a marca cumpre o que promete. Prazos reais, política de troca simples, frete transparente e atendimento que resolve dão sustentação ao desconto e transformam uma compra de ocasião em um relacionamento que pode se repetir.
Do lado das empresas, a estratégia precisa ser pragmática: usar a data para oxigenar o negócio. Transformar produto parado em caixa, ajustar o mix e preparar o terreno para lançamentos que impulsionam o fim do ano. Girar não é liquidar sem critério, é organizar o estoque, manter o fluxo e preservar a vitalidade da operação.
Na comunicação, o foco deve deixar a urgência de lado e se voltar para a relevância: transparência em preços e condições, com promessas claras e cumprimento rigoroso; segmentação para falar com quem realmente importa, evitando anúncios genéricos; e uma experiência fluida entre o digital e o físico, em que agilidade e conveniência valem mais do que slogans.
A Black Friday 2025 talvez não salve o ano, mas pode reorganizar o tabuleiro. Pode destravar o caixa, reengajar o público e, principalmente, atrair novos clientes que podem se tornar recorrentes, dependendo do quanto a marca conseguir marcar positivamente essa experiência. O desafio não é apenas fechar a venda, e sim abrir caminho para a próxima.