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Por que o bem-estar precisa estar na pauta das empresas para 2026?

Foto: divulgação

Roberto estava no seu terceiro ano de empresa quando começou a sentir um cansaço diferente. A carga de trabalho era a mesma, mas lidar com clientes insatisfeitos parecia mais pesado a cada semana. Com o trânsito piorando e a chegada da segunda filha, a rotina virou um caos. As caminhadas com a esposa e as idas à academia ficaram para trás. Terapia sempre foi um desejo, mas impossível encaixar no orçamento em meio ao custo de vida, aluguel e fraldas.

Sem tempo para cuidar da saúde, tudo começou a desandar. A ansiedade cresceu. O engajamento caiu. As finanças apertaram ainda mais quando a filha mais velha desenvolveu sinusite crônica e precisou de consultas particulares. A vida pessoal ficou tensa. E o trabalho começou a sentir os primeiros sinais.

Roberto passou a faltar nos momentos mais críticos do mês. Isso sobrecarregou o time e elevou a sinistralidade do plano de saúde com idas constantes ao pronto-socorro. Até que veio o afastamento — ele se tornou mais um dos quase 500 mil brasileiros fora do trabalho por questões de saúde mental.

A história de Roberto é a realidade de milhares. 

Mostra que o bem-estar é multifatorial. E quando ignorado, impacta produtividade, custos, clima e resultados. É por isso que o tema precisa entrar na pauta das empresas em 2026. 

A seguir, os motivos que líderes já estão considerando para priorizar o bem-estar.

1. Evitar multas provenientes da nova NR-1 (a partir de maio/26)

A atualização da NR-1 torna a gestão de riscos psicossociais uma obrigação legal dentro do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). A vigência, que seria em 2025, foi adiada para 26 de maio de 2026, mas não foi cancelada: as empresas terão que mapear, avaliar e mitigar riscos ligados à saúde mental, assédio, sobrecarga, clima tóxico, etc. 

Na prática, isso significa que saúde mental sai do campo do “legal falar” e entra no campo do “obrigatório comprovar”. Empresas que não se adequarem podem sofrer multas e até interdição de atividades em casos graves, como já ocorre com outros tipos de risco ocupacional.

Investir em bem-estar ajuda a empresa a:

  • Ter diagnóstico estruturado (pesquisas, indicadores, mapeamento de fatores psicossociais);
  • Mostrar ações concretas de mitigação (programas de apoio psicológico, gestão de carga, liderança treinada, canais de acolhimento);
  • Construir lastro documental para auditorias e fiscalizações em 2026 em diante.

Ou seja: bem-estar deixa de ser só pauta de RH e passa a ser também pauta de compliance e de continuidade do negócio.

2. Atrair e reter mais talentos

As pessoas estão escolhendo onde trabalhar também pela qualidade de vida que a empresa oferece. Pesquisas da McKinsey mostram que suporte à saúde e bem-estar já aparece entre os principais fatores que levam alguém a ficar ou sair de uma organização, sendo inclusive uma das razões mais citadas para pedidos de desligamento. 

Estudos ainda indicam que empresas com uma “cultura de saúde” têm taxas de turnover 11 pontos percentuais menores do que aquelas que não tratam o tema com seriedade. 

E pesquisas ligadas à Harvard reforçam que ambientes que priorizam bem-estar aumentam produtividade, reduzem rotatividade e impulsionam inovação e receita. 

Ao mesmo tempo, o mercado manda um sinal claro: o segmento de bem-estar corporativo já movimenta centenas de milhões de dólares no Brasil e segue em crescimento. Pesquisas de mercado já mostram que cerca de 70% das empresas oferecem benefícios de bem-estar. 

Tradução para o CFO e para o CEO:

  • Quem oferece bem-estar competitivo vira “empregador desejado” — atrai e retém melhor;
  • Quem não oferece começa a perder talentos silenciosamente para quem cuida melhor das pessoas.

3. Reduzir o absenteísmo

Os afastamentos por saúde mental saíram da exceção e viraram pressão estrutural para as empresas. Em 2024, foram registrados cerca de 470 mil afastamentos relacionados a transtornos mentais ligados ao trabalho, um crescimento de mais de 60% em poucos anos e cerca de 68% a mais do que em 2023.

Isso significa:

  • Mais tempo de pessoas fora;
  • Mais custo com afastamentos e substituições;
  • Mais instabilidade para times e operações.

Ao mesmo tempo, muitas empresas recorreram a telemedicina de baixíssima qualidade, focada em emitir atestados rápidos, o que acabou aumentando afastamentos desnecessários e, em alguns casos, estimulando uso oportunista do benefício.

Centralizar o cuidado em uma telemedicina de qualidade, integrada com:

  • protocolos clínicos sérios,
  • visão ocupacional,
  • acompanhamento contínuo e dados, ajuda a:

  • reduzir afastamentos desnecessários e fraudulentos;
  • identificar precocemente casos reais de adoecimento;
  • melhorar a saúde geral dos colaboradores e, com isso, reduzir absenteísmo e presenteísmo (pessoa presente, mas improdutiva).

Bem-estar, nesse contexto, deixa de ser “custo extra” e passa a ser ferramenta de gestão de risco e produtividade.

4. Aumentar a eficiência salarial – fazer o salário render mais

Em um cenário de inflação alta e custo de saúde nas alturas, um ponto pouco explorado é: benefícios de bem-estar aumentam o “salário percebido” sem necessariamente aumentar a folha na mesma proporção.

Se um colaborador tiver acesso, via benefício corporativo, a:

  • academia ou estúdio: algo entre R$ 100 e R$ 250/mês;
  • psicólogo 4x/mês: facilmente de R$ 600 a R$ 1000;
  • nutricionista 1x/mês: cerca de R$ 250 a R$ 400;
  • psiquiatra 1x/mês: muitas vezes acima de R$ 500;

A conta de mercado chega rápido a algo próximo de R$ 2.000/mês em serviços de saúde e bem-estar que ele deixaria de pagar do próprio bolso.

Quando a empresa oferece isso de forma acessível (ou subsidiada), ela:

  • melhora a qualidade de vida do colaborador;
  • aumenta a percepção de valor do pacote de remuneração;
  • reforça a sensação de “vale a pena ficar aqui”.

Estudos ligados à Harvard e HBR mostram, inclusive, que programas de bem-estar bem desenhados podem gerar retorno financeiro direto, com economia em custos de saúde e redução de absenteísmo para cada unidade investida. 

No fim, bem-estar não é só um “custo novo”: é uma forma inteligente de aumentar o poder de compra real do salário, proteger saúde, reduzir afastamentos e fortalecer o vínculo com a empresa.

Em 2026, não faltam motivos estratégicos para olhar para o bem-estar como uma ferramenta fundamental para sua empresa chegar nos objetivos audaciosos que toda Diretoria está traçando nesse momento. 

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CEO da GoGood

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