Por Guilherme Abdala, sócio e headhunter na Evermonte Executive & Board Search.
À medida em que o ano se encerra, um movimento previsível se repete nas altas lideranças das organizações: as reuniões de planejamento voltam às agendas, os relatórios são revisitados com lupa e as metas, quase sempre ambiciosas, são ajustadas para o próximo ciclo.
Esse ritual corporativo, que mistura análises detalhadas e projeções entusiasmadas, marca o encerramento de uma etapa e prepara o terreno para o futuro. Mas, em meio a essa engrenagem precisa e tradicional, uma pergunta incômoda – e essencial – precisa ser feita: o que, de fato, ainda vale dentro das Diretorias?
Performance além dos números: o que estamos realmente medindo?
A performance continua sendo medida, majoritariamente, por números. É compreensível: resultados concretos oferecem segurança, traduzem esforço em gráficos e alimentam os conselhos com indicadores claros. Mas será que, em um mundo cada vez mais complexo e interdependente, ainda vale reduzir a performance a entregas numéricas?
Onde ficam as relações construídas, a resiliência da equipe, a capacidade de inspirar e sustentar uma cultura organizacional coerente? Se essas dimensões não estão sendo mensuradas, talvez o que chamamos de alta performance esteja deixando lacunas críticas.
Curto prazo, longo prejuízo: os riscos de adiar o essencial
Outro ponto sensível diz respeito ao foco de curto prazo. Ainda vale defender metas trimestrais com unhas e dentes, enquanto discussões sobre sucessão, governança e perenidade seguem sendo empurradas para depois?
A postergação desses temas é perigosa: compromete a continuidade saudável da organização e alimenta estruturas frágeis, dependentes de poucos nomes e vulneráveis a mudanças abruptas. Uma diretoria estratégica precisa ter coragem para pensar além do trimestre e investir no que sustenta a organização a longo prazo.
Lideranças técnicas ou humanas? Chegou a hora de escolher
E quanto à liderança? Ainda vale manter executivos tecnicamente brilhantes, mas emocionalmente ausentes? Profissionais que entregam resultados, mas falham em construir ambientes equilibrados, saudáveis e coerentes com os valores da companhia?
Uma liderança que não sustenta a cultura desejada é, na prática, um entrave à sua consolidação. O desafio é claro: ou as diretorias passam a valorizar e desenvolver lideranças completas – técnica e emocionalmente –, ou continuarão enfrentando ambientes frágeis e desconectados.
Fim de ano ou começo de ciclo? O momento ideal para reavaliar decisões
O fim do ano precisa ser mais do que o fechamento de metas e a entrega de resultados. Precisa, sobretudo, marcar o início de um novo ciclo de decisões – decisões mais conscientes, alinhadas com o futuro que a organização deseja construir.
Talvez a decisão mais estratégica de todas seja repensar o que não pode mais continuar igual. Revisar práticas, atualizar valores, transformar lideranças. É preciso coragem para mexer no que está estabelecido. E, mais ainda, para assumir que parte do que foi feito até aqui não serve mais.
Refletir para evoluir
O encerramento do ano é um convite à reflexão estratégica. É tempo de perguntar, mais do que responder. De escutar, mais do que afirmar. Porque só assim será possível iniciar o novo ano com menos certezas automáticas e mais decisões intencionais – aquelas que realmente constroem o futuro.
E você, já começou a refletir sobre o próximo ano?