Por Felipe Ribeiro, sócio e headhunter na Evermonte Executive & Board Search.
Dias atrás, ao acompanhar à distância a apresentação do nosso estudo Out of Brazil pelo sócio Guilherme Abdala, em Londres, vi o Brasil ocupando um espaço que sempre fez sentido, mas raramente lhe é reconhecido globalmente. E com isso, a convicção: os executivos brasileiros são o futuro.
Não é um otimismo vazio. É uma leitura baseada em dados e na vivência diária. A liderança brasileira foi forjada em cenários desafiadores: juros altos, instabilidade regulatória, ciclos econômicos incertos… Em qualquer outro lugar, isso seria exceção. Aqui, é uma regra. E, mesmo assim, entregamos. As empresas andam, os times performam, a economia se reinventa. Existe uma musculatura executiva construída na adversidade que não é comum no resto do mundo.
Um Brasil que o mundo ainda não viu
Ao desenvolvermos o estudo Out of Brazil, conversamos com headhunters de diferentes países. O que mais observamos foi um posicionamento de não conhecimento sobre o executivo brasileiro. Não era rejeição, mas neutralidade – uma espécie de invisibilidade que revela desconhecimento.
A realidade aqui dentro é outra: temos um mercado maduro, empresas resilientes e setores em expansão. O que falta não é competência – é visibilidade. Performamos acima da percepção. Contamos pouco sobre o que fazemos, transformamos poucas histórias em benchmarks ou estudos de caso. E a apresentação em Londres foi uma tentativa de mudar isso: mostrar um Brasil que ainda não é plenamente enxergado.
O que vemos no dia a dia das lideranças brasileiras
Na Evermonte, temos contato com executivos em diferentes fases de suas trajetórias. O que se destaca é um padrão: esses líderes foram moldados em ambientes de instabilidade. Sabem que regulações mudam, contextos oscilam, e por isso tomam decisões com mais cautela e base.
Também se destacam pela clareza na comunicação. Muitos buscam envolver os times nas decisões, reduzir ruídos, evitar imposições desconectadas da realidade da equipe. Isso fortalece a confiança e diminui a política interna desnecessária.
Outro diferencial é o equilíbrio entre profundidade técnica e simplicidade. Sabem de tecnologia, governança, finanças – mas traduzem tudo em impacto prático: na operação, no cliente, no resultado. E há, ainda, a criatividade na limitação: quando os recursos são escassos, ajustam, reorganizam, criam soluções viáveis com o que têm em mãos.
Prontos para o mercado global
O estudo reforça algo que já percebíamos: nossos executivos estão prontos para atuar globalmente. Eles já operam em setores complexos, lidam com pressão, lideram transformação. Falta apenas presença: mais publicações, mais casos compartilhados, mais inserção em fóruns globais.
Essa visibilidade não é vaidade. É responsabilidade com o potencial que já existe. Presença significa entrar na conversa global não para buscar validação, mas para oferecer uma contribuição sólida e legítima.
O futuro exigirá líderes preparados para a complexidade, que saibam equilibrar agilidade com empatia, dados com visão humana. E esse perfil já está se consolidando no Brasil. Vejo executivos inquietos, buscando impacto real, querendo fazer parte de algo maior do que a própria trajetória.
Nosso desafio é fazer o mundo enxergar isso. Mostrar que o Brasil não é apenas um mercado de consumo promissor, mas também uma fonte potente de excelentes executivos. E, quando essa percepção mudar, será bastante claro: os executivos brasileiros não apenas têm lugar no futuro – eles já estão ajudando a escrevê-lo agora.