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Mercado de capitais terá papel estratégico no período pós-pandemia

Avançar em iniciativas para fortalecer o relacionamento com o associado é a prioridade de Carlos Ambrósio para o seu segundo mandato à frente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Reeleito em assembleia geral promovida na última semana, ele quer estreitar ainda mais a interlocução com as instituições.

Em entrevista, ele também destaca os desafios que o mercado de capitais e a indústria de gestão têm pela frente, a fim de que exerçam o papel estratégico que lhes cabe na retomada do crescimento econômico:

“Estamos olhando à frente para dimensionarmos o que precisa ser feito para que os nossos mercados tenham papel decisivo na retomada do crescimento”.

Carlos Ambrósio fala também sobre a revisão do nosso plano de ação para 2020 e sobre as lições que o mercado tira da crise, confira:

Que balanço você faz do seu primeiro mandato?

Carlos: O foco é sempre o associado. Nos últimos dois anos, direcionamos esforços para a reorganização da estrutura de governança de representação, que entrou em vigor em julho do ano passado. Os comitês deram lugar aos fóruns, estruturas com representantes de maior senioridade. Com isso, ganhamos agilidade na tomada de decisões.

Como é imprescindível ouvir todos, criamos outras formas de interlocução. Lançamos canais digitais, que nos permitem interagir com os associados, levando até eles as discussões em curso na Associação, ao mesmo tempo que eles ganharam um canal de comunicação direta com a gente.

O trabalho de advocacy também foi fortalecido nos dois últimos anos. Historicamente, tínhamos agendas para o desenvolvimento dos mercados que representamos, mas esse trabalho ganhou um novo enfoque. Começou em 2018, com o lançamento da Agenda de Mercado de Capitais, quando estimamos os benefícios econômicos e sociais que o desenvolvimento do mercado traria para o país. Ano passado fizemos o mesmo para a indústria de gestão de recursos. Além de reforçar o papel da ANBIMA como porta-voz, esses estudos são importantes para sensibilizar os governos e a sociedade sobre a relevância do mercado de capitais e da indústria de gestão.

O que o associado pode esperar do seu novo mandato?

Carlos: Ainda mais engajamento na defesa dos interesses dele, o que será desafiador dadas as incertezas do cenário econômico. Neste primeiro momento, nossas ações estão muito focadas em medidas emergenciais para reduzir os impactos da pandemia sobre o dia a dia das instituições, dada a situação de contingenciamento. Mas já estamos olhando para a frente, mais a médio e longo prazo, para dimensionarmos o que precisa ser feito para que os nossos mercados tenham papel decisivo na retomada do crescimento. A agenda da Associação vai girar em torno disso.

Ainda não temos a dimensão exata dos impactos econômicos dessa crise, mas é certo que o Brasil terá pela frente uma situação fiscal bastante complexa. Os recursos públicos, que já eram escassos, serão ainda mais difíceis e prioritariamente direcionados para saúde, educação e segurança. Será preciso encontrar outras formas de financiamento para a infraestrutura ou para as necessidades de recursos das empresas. E essa é a vocação do mercado de capitais.

A indústria de gestão de recursos, que se mostrou tão resiliente em momentos de crise, também terá um papel estratégico. Com as taxas de juros na mínima histórica, as pessoas perceberam a necessidade de diversificar e buscar mais e mais informação para a tomada de decisão. A indústria oferece um número enorme de instrumentos para empresas e pessoas físicas gerirem suas necessidades de caixa e investimento, considerando o perfil de risco, prazos e objetivos.

Tudo isso envolve outros pontos importantes que já estavam na nossa agenda e agora ganham ainda mais relevância, que são a gestão de liquidez para a indústria de fundos e os processos de distribuição dos produtos de investimento, juntamente com a questão do suitability, que se mostra tão necessária em cenários de instabilidade.

A revisão das regras de acesso aos mercados internacionais é outro ponto que já estava no nosso radar, e agora merecerá ainda mais atenção. A diversificação, com a possibilidade de aquisição de ativos no exterior, favorece gestores e investidores, especialmente no atual cenário de prêmios tão baixos na renda fixa.

Os desafios são enormes, mas temos uma agenda que nos permite avançar na adoção das medidas necessárias para que o mercado de capitais e a indústria de gestão exerçam o papel decisivo que lhes cabe na retomada do crescimento econômico. Eu não tenho dúvidas de que será um mandato muito rico, durante o qual a ANBIMA mostrará aos associados que a missão dela é cada vez mais atual: apoiar a evolução de um mercado de capitais capaz de financiar o desenvolvimento econômico e social.

Como está a revisão do plano de ação?

Carlos: Muitas das medidas emergenciais que eu citei anteriormente já constavam no nosso plano de ação e foram antecipadas por conta da crise. Ou seja, a situação fez com que andássemos mais rapidamente com algumas demandas, em especial aquelas relacionadas à digitalização. Com isso, a ordem de prioridade de muitas ações que estavam no plano foi alterada.

Em paralelo, a crise gerou novas demandas, que antes não eram tão relevantes. Estamos justamente na fase de consolidação dessas iniciativas, trabalho que vem sendo feito com uma participação muito grande dos nossos associados. Ninguém melhor do que o mercado para saber do que ele precisa neste momento. Daí a importância da rodada de discussões que está em curso nos nossos fóruns.

A ANBIMA e a B3 estavam desenvolvendo um estudo sobre mercado de capitais, que seria apresentado no Congresso Brasileiro de Mercado de Capitais. Agora esse material ganhará um novo rumo?

Carlos: Sim, a agenda que tínhamos no período anterior à crise mudou, assim como muitas das demandas do setor financeiro. Nossos fóruns, especialmente o de Estruturação de Mercado de Capitais, sob a liderança do José Eduardo Laloni, trabalha nesta nova agenda. Vamos apresentá-la nos próximos meses, com foco no mercado de capitais de que o Brasil precisa para alavancar os financiamentos de longo prazo que serão tão necessários para que o país retome o caminho do crescimento econômico e social.

Durante o seu primeiro mandato, a ANBIMA fortaleceu os convênios com a CVM. Esse relacionamento muda nesse novo contexto?

Carlos: Temos um diálogo muito produtivo com a CVM, fruto de anos de parceria. Os convênios que temos com o órgão só são possíveis graças à confiança depositada no trabalho da ANBIMA e à legitimidade alcançada na representação do mercado.

Nosso relacionamento não muda, mas ganha a cada dia um papel mais estratégico. Essa proximidade e facilidade de diálogo são importantes para trabalharmos juntos por melhorias regulatórias e por soluções para os desafios que se apresentam. Na essência, buscamos potencializar sinergias, eliminar redundâncias e reduzir custos de observância. Os convênios traduzem isso, com ganhos importantes para o mercado e para o regulador.

Em tempos de crise, a educação financeira se faz ainda mais necessária. Isso muda alguma coisa na estratégia de educação da ANBIMA?

Carlos: A crise mostrou que estávamos certos ao dar à educação um papel tão estratégico. Em momentos como esse, cresce a procura por conteúdo de qualidade e produzido por fontes seguras. Reforçamos nossa atuação nas redes sociais, importante canal de comunicação com os investidores e com os profissionais de mercado que estão na linha de frente das instituições, bem como abrimos gratuitamente nossa plataforma de cursos para quem busca conhecimento. A estratégia não muda, até porque ela se mostra acertada. Os movimentos do mercado observados até então foram pontuais e reforçam a busca do investidor por diversificação e maiores retornos, aprendizado dos últimos tempos de Selic no menor patamar histórico. Nosso compromisso é fortalecê-la, colaborando para a educação de profissionais e de investidores.

Quais lições o mercado tira da crise?

Carlos: Vimos que temos um arcabouço regulatório e autorregulatório que respondeu muito bem à crise. Diante de toda a volatilidade registrada pelos mercados, a indústria de investimentos se mostrou sólida. As instituições foram proativas na identificação de demandas urgentes, enquanto a ANBIMA e os reguladores responderam com prontidão. Tivemos retornos muito positivos da CVM, do Banco Central e da Receita Federal, que se mostraram bastante sensíveis ao momento.

Isso nos dá a certeza de que estamos preparados para atender aos desafios que o atual cenário nos apresenta. Também acredito que muitas mudanças adotadas de forma emergencial ficarão como legado para a indústria, a exemplo das assembleias digitais.

Outra lição importante que tiramos da crise é a enorme capacidade de inovar, que emerge em momentos como esse, quando praticamente todas as instituições, incluindo a ANBIMA, adotaram o home office e outras atividades online, como as reuniões, sem comprometer operações e processos. Essas inovações serão importantes no momento pós-pandemia, quando reavaliarmos nossas práticas à luz da experiência adquirida durante a crise.

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