O desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus será coordenado pelos pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) André Báfica e Daniel Mansur, ambos do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia.
O financiamento foi aprovado na chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O projeto é uma parceria dos professores da UFSC com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Cambridge (Inglaterra), Instituto Butantan e Karolinska Institutet (Suécia).
A proposta é uma BCG recombinante: aproveitar a plataforma vacinal da BCG (uma vacina antiga e segura) para o coronavírus através da expressão de proteínas que induzam uma resposta imune efetiva contra o vírus por mais tempo.
“Um dos achados recentes na literatura (médica) é que as respostas imunes contra este vírus também envolvem linfócitos T, por exemplo, CD4 e CD8. Com a BCG recombinante, hipotetizamos que haverá indução deste tipo de resposta. Se isso for verdade, pensando lá no futuro, teríamos na mesma injeção uma vacina dupla, contra a tuberculose e contra a Covid-19, que as crianças tomam quando ainda estão no hospital. Claramente isto está muito longe. Estamos na parte inicial, desenhando os alvos do ponto de vista molecular”, explica André Báfica.
A esperança é que os primeiros experimentos sejam realizados em janeiro de 2021.
“Inicialmente, vamos trabalhar nos vetores vacinais. Essa primeira parte, construir a bactéria recombinante, demora cerca de seis meses para que fique pronto. Depois, é preciso testar se este protótipo de vacina induz uma resposta imune contra o coronavírus. Temos algumas formas de medir, como por exemplo se a vacina induz anticorpos neutralizantes contra os vírus que estão circulando em nossa região”, planeja o pesquisador.
Em paralelo a estas investigações, os pesquisadores irão se debruçar sobre a ciência básica na dinâmica da resposta imunológica: quais os anticorpos foram gerados e onde eles se encaixam.
“Para o vírus entrar na célula humana, ele precisa de um receptor, um espécie de encaixe molecular. O que queremos com uma vacina? Que os anticorpos impeçam este encaixe, para que não infecte a célula. Os anticorpos neutralizantes têm uma alta afinidade contra estas proteínas do vírus”, exemplifica.
“O pró da BCG é ser uma vacina administrada em 500 milhões de pessoas por ano, no mundo inteiro. Se a primeira meta do projeto funcionar de acordo com o plano, a vacina vai expressar proteínas do vírus, num vetor seguro, e, segundo nossa hipótese, induzirá uma resposta de células T mais eficientes do que alguns dos vetores que estão circulando por aí. Mas para saber de fato, precisamos testar, ciência é isso”, indica o professor.
O financiamento aprovado pelo CNPq prevê a contratação de bolsistas de desenvolvimento tecnológico para apoio dos grupos de pesquisa.
A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação no Estado de Santa Catarina (Fapesc) vai abrir chamada de um edital de bolsas de pós-doutorado e pós-graduação para quem receber financiamento do CNPq.
A verba alocada pelo CNPq não irá garantir um laboratório com nível III de biossegurança (NB3) completo, a falta de laboratório e financiamentos impediam pesquisas sobre o novo coronavírus.
De R$ 2 milhões, a verba foi diminuída para R$ 1,7 milhão, e ainda precisa ser dividida com as instituições parceiras.
“Os experimentos para verificar o funcionamento das vacinas requerem um NB3. Nós não teremos um NB3 completo, mas uma boa parte dele. Ainda falta atrairmos recursos para compra de um último equipamento, e que estamos participando de editais em outras agências”, diz André, que visitou recentemente o novo prédio do Centro de Ciências Biológicas (CCB): uma empresa especializada em laboratórios NB3 aprovada pelo Ministério da Saúde já analisou o espaço destinado à estrutura no edifício.
Com o laboratório, será possível avançar em outros aspectos da ciência na UFSC.
“Será um espaço construído com dinheiro público e, poderá contribuir com outros projeto de pesquisa biomédica e para uma resposta mais rápida para nossa sociedade”, finaliza o pesquisador.