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A saúde mental em tempos de coronavírus

Por Kethe Oliveira, psicóloga clínica do Hospital Dona Helena, de Joinville


O cenário atual, vivenciado em todo o mundo, trouxe muitas mudanças. Mudanças necessárias para a manutenção da vida, porém de grande desafio – como realizar transformações que envolvem uma nova rotina do trabalho e dinâmica familiar, e ainda a restrição de convívio social e o gerenciamento de sentimentos, como o medo e a insegurança? Essas situações podem ocasionar sofrimento e, consequentemente, um desgaste psíquico, podendo culminar em prejuízo na saúde mental.

Desde a disseminação da doença, muitos profissionais passaram a fazer sugestões de como manter a saúde mental. Penso que todas essas sugestões são bem-vindas, mas é preciso entender que cada sujeito, diante de sua história e de sua estrutura psíquica, irá se adaptar àquilo que lhe faz mais sentido. Não existe uma receita pronta para todos, mas pontuações que possam auxiliar nesse momento de crise.

Manter um equilíbrio entre mente, corpo e espírito pode ser eficaz na maior parte do tempo. Recomenda-se realizar atividades físicas, como os alongamentos; tentar meditar, ler e ouvir músicas; resgatar atividades que gerem prazer, como pintar e brincar (com jogos de tabuleiro, de cartas e de mímica). E utilizar, também, dos recursos eletrônicos para estar em contato com familiares e amigos, fazendo da distância uma barreira simbólica. Uma outra sugestão, que considero eficaz, seria a possibilidade de iniciar um processo terapêutico, ou mantê-lo para quem já o faz, utilizando esse espaço para falar sobre seus sentimentos e ter acesso às sensações provocadas por eles.

O momento de crise também traz como possibilidade o fato de estar consigo mesmo. No “seu” silêncio surge a angústia de um certo vazio, mas um vazio que pode ser fonte de descobertas, e elas, provavelmente, irão servir de impulso no movimento da vida. Para ilustrar esse pensamento, cito uma fala da professora, filósofa e psicanalista Denise Maurano: “O vazio é impossível de ser extirpado, mas cabe-nos encontrar meios menos nefastos de abordá-lo. Como li em um folhetim: ‘não se pode mudar a direção do vento, mas pode-se alterar a posição das velas’”. Poder olhar para esse momento como um processo de adaptação e aprendizado traz a possibilidade de ressignificar e tornar-se resiliente.

Os profissionais da saúde, que estão no atendimento direto aos pacientes com sintomas da doença, sofrem com outras questões, além das já mencionadas anteriormente. Por essa razão percebe-se um grande movimento para oferecer um serviço de acolhimento e escuta para essas pessoas. No Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), a direção da instituição já se preocupou com isso desde o início, não só equipando-os com recursos de proteção, mas também criando um programa de cuidado com a equipe, formado por profissionais como psicólogos, assistente social e capelã, que diariamente estão envolvidos com os colaboradores, de forma remota ou presencial, com visitas nos postos de trabalho. 

Cuidar de si, cuidar do outro e buscar o espírito da coletividade podem ser estratégias de enfrentamento para esse momento de crise, que nos possibilitam manter o equilíbrio emocional diante do desconhecido, do invisível, que trouxe sentimentos diversos, mas que também sinaliza meios de olhar para o movimento da vida de forma diferente.

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