O mês de novembro traz um tema que proporciona diversas discussões. Mulheres cada vez mais têm conquistado sua voz e seu espaço na sociedade, principalmente no empreendedorismo. Especificamente no dia 19 deste mês é comemorado o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino e, como um único dia não seria suficiente, produzimos uma série com 30 entrevistas de mulheres fantásticas para falar sobre o tema.
A convidada de hoje é Ionita Lunelli, gerente regional do Sebrae Vale do Itajaí, para falar sobre iniciativas e o panorama de mulheres empreendedoras no estado. Confira abaixo:
Quais iniciativas o Sebrae possui para impulsionar o empreendedorismo feminino?
São várias: Sebrae Delas, Cidade por Elas (do programa Cidade Empreendedora), Entre Elas (desdobramento do Delas, mas com enfoque regional), entre outros produtos e serviços que visam auxiliar na gestão dos negócios e desenvolver comportamentos empreendedores, como por exemplo, o Empretec.
Qual a importância de fomentar iniciativas voltadas a mulheres que querem empreender?
O empreendedorismo feminino e sua importância precisam ser reforçados. Essas iniciativas auxiliam as mulheres para conquistar mais espaço no mundo dos negócios, fomentam uma rede de apoio e motivação para impulsionar outras mulheres ao empreendedorismo, geram independência financeira, mostram que é possível empreender com o respeito da família e da sociedade.
Que suporte é possível encontrar nos programas e quais benefícios são oferecidos?
Consultorias, rede de apoio, conhecimento e informações sobre tipos de negócios, trocas salutares com outras empreendedoras, conhecer histórias inspiradoras, apoio na gestão.
Qual o panorama de empresas fundadas ou lideradas por mulheres em Santa Catarina?
O universo da mulher empreendedora é, acima de tudo, um ambiente para pessoas de coragem. Neste universo, elas sentem a necessidade de grupos de apoio com objetivos em comum, sem haver o hostil ambiente da competitividade. Uma rede de ajuda com soluções em comum. O desejo de empreender é grande, entretanto, as responsabilidades e obrigações das tarefas cotidianas nem sempre se mostram conciliadoras. Buscam oportunidades que sejam satisfatórias, resultando, principalmente, na independência financeira e aprovação da sociedade e família, especialmente quando ainda se mostram como parte de menor contribuição na renda doméstica ou dependente dos recursos dos maridos e/ou companheiros.
Quais os maiores desafios relatados pelas empreendedoras no início de sua jornada?
O maior desafio ainda reside no medo de empreender. Não existem dificuldades exclusivas somente para o sexo feminino. As dificuldades são inerentes ao ambiente econômico, à burocracia, às altas cargas tributárias. Um dos fatores críticos de sucesso é conciliar as múltiplas atividades. Em alguns casos há grandes dificuldades em conciliar atividades domésticas, cuidados com os filhos com as atividades empresariais; esta dificuldade se apresenta mais em empresas não formalizadas. As mulheres nos negócios em alguns casos possuem menos poder de barganha frente aos fornecedores e clientes. A voz feminina é menos valorizada e reconhecida. Por vezes, para alguns funcionários, a figura feminina é menos respeitada, seja para cobrança de resultados ou como uma imagem a ser idealizada.
Empresas lideradas por mulheres encontraram mais dificuldade para enfrentar a pandemia?
Sim. As mulheres tiveram mais necessidade de dedicar-se a atividades domésticas durante a pandemia. Neste período as crianças estavam em casa e o cuidado com os idosos aumentou por serem grupo de risco. Por motivos culturais, estas tarefas sempre recaem sobre as mulheres. Um estudo do próprio Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas apontou que 52% dos micro e pequenos negócios liderados por mulheres paralisaram de vez ou temporariamente as atividades durante a pandemia. Enquanto entre homens no mesmo segmento, o índice foi de 47%.
De que maneira a troca de experiências pode potencializar o ambiente de negócios para mulheres?
A troca de experiências e compartilhamento de informações favorece o aprendizado e a possibilidade de através de experiências já vividas por outras empreendedoras evitar o erro, a perda de tempo, aplicando as melhores práticas para potencializar as ações e focando em resultados efetivos.
Quais os diferenciais da gestão feminina?
Primeiro a sensibilidade. A mulher consegue perceber os aspectos sutis das relações e usar essa percepção para melhorar os relacionamentos nos negócios. Cabe destacar aqui também a questão de que o sexo feminino de maneira geral tem a habilidade de realizar mais tarefas simultâneas, o que agiliza alguns processos no ambiente de negócios. Além disso, tem desenvolvido habilidades interpessoais e boa comunicação.
Que características a mulher precisa desenvolver para iniciar a jornada empreendedora?
Aprofundar conhecimento em gestão financeira, tributos, gestão de pessoas, marketing digital. Desenvolver habilidades comportamentais (soft skill), como: resiliência, autoconfiança, segurança, coragem.
Que conselhos você, como gerente regional de uma entidade tão grande representativa nacionalmente quanto o Sebrae, pode dar para as mulheres que buscam empreender ou assumir cargos de liderança?
Posso falar da minha experiência até o momento. Primeiramente, é entender o contexto e compreender os desafios, se conhecer para poder compreender as pessoas que trabalham com você, aprender a olhar as situações com paciência e equilíbrio e trabalhar suas lacunas como profissional. À medida que temos consciência de quem somos, fica mais fácil buscar conhecimento e trocas que irão desenvolver habilidades que ainda precisamos incorporar no processo de gestão.
Estudos como o divulgado recentemente pela B3 apontam que a cada 100 empresas que possuem ações negociadas na Bolsa de Valores, apenas 6 contam com 3 ou mais mulheres em cargos de direção. Com dados assim sendo vistos frequentemente, que fatores propiciam este cenário e como é possível alterar esta realidade?
Ainda temos traços culturais que delegam as atividades domésticas às mulheres, o que pode limitar a atuação delas no universo de negócios. Acredito que o medo de empreender pode ser outro fator que traga limitação e que aos poucos será vencido, até porque existem muitas iniciativas de apoio, o próprio Sebrae, como já falamos, tem essa função. É preciso empreender muitas ações para estímulo ao empreendedorismo feminino e temos muitos exemplos de liderança feminina inspiradora no nosso país. Cabe à mulher continuar buscando seu espaço com coragem e determinação, para que tenhamos um equilíbrio de homens e mulheres no mundo dos negócios.