“É, Neto, a crise pegou todo mundo”. Esse pode ter sido o teu pensamento ao ler o título da coluna. Afinal, o que mais faria alguém abrir mão do próprio negócio para voltar a ser “funcionário”? Qual outra explicação, além de dificuldades, para que um profissional ousasse repensar a carreira e voltar a ser empregado?
No meu caso, foi a certeza de que apoiei o crescimento de um negócio a ponto de ele chamar a atenção de uma multinacional que resolveu adquiri-lo. Foi isso o que aconteceu recentemente com a PagueVeloz, empresa para a qual dediquei meus últimos 6 anos. Vendemos a companhia para o Serasa, que pertence ao grupo Experian, presente em 44 países, com mais de 20 mil funcionários, o maior grupo empresarial de serviços de dados do mundo.
Nesse processo, é claro, muitas coisas foram levadas em consideração. Pessoalmente, uma das oportunidades que mais me atraiu para dizer sim à decisão de venda foi a visão de que, com o apoio do novo investidor, a PagueVeloz pode mudar a vida dos brasileiros. Mudar pra melhor. Com a operação mantida de forma independente, meu cargo segue como antes. Com, é claro, uma mudança legal: agora, tenho carteira assinada e sou colaborador da companhia, assim como tantos outros colegas.
Além do sentimento único de ter carteira assinada, agora também me sinto ainda mais responsável pelo impacto das minhas decisões. Quando empreendemos, temos a ilusão de uma liberdade, que na verdade nada mais é do que saber que o que definimos no dia a dia vai afetar especialmente a nossa rotina. Quando você é empreendedor, o risco é seu: quem ganha pelos acertos das decisões é você, mas quem paga pelo prejuízo dos desacertos também é o seu bolso.
Agora em carreira executiva como contratado, tenho a clara visão de que minhas decisões precisam respeitar as políticas de risco definidas pela empresa e aceitas pelos seus milhares de acionistas. Não sou mais o sócio que vai ser afetado se o negócio não der certo, mas sou um dos executivos responsáveis, perante a autoridade reguladora, o Banco Central do Brasil, por áreas específicas da PagueVeloz, arcando pessoalmente por decisões e execuções equivocadas. O senso de dono, para mim, aguçou ainda mais a partir da CLT. Não é o senso de dono da empresa ou do negócio, mas o senso de dono do propósito: estamos construindo um negócio de impacto global, para resolver problemas que vão ajudar as pessoas.
Obviamente uma das questões que me chama muita atenção é o fato de muitas pessoas acharem que CLT não é sinônimo de sucesso. Mal sabem elas o prazer que é iniciar uma carreira executiva com N oportunidades de interação, aprendizagem e crescimento. Tenho certeza de que aquelas lideranças que percorreram um árduo caminho até chegar a altos cargos de gestão devem se orgulhar tanto quanto quem toca o próprio negócio.
CLT ou empreendedor, o fato é que ambas as situações são igualmente importantes e cheias de oportunidade. Tive a honra de fazer o caminho inverso a muitos amigos e conhecidos, escolhendo ser um profissional contratado depois de empreendedor. Agora, sigo com uma série de oportunidades e grandes desafios ao construir um negócio de impacto global.
Ah, e esteja ciente: se você faz juízo de valor entre CLT e empreendedor, entendendo que o segundo é mais importante que o primeiro, dificilmente será bem-sucedido se resolver abrir o próprio negócio. Quem não tem senso de dono em uma empresa que garante sua renda e crescimento profissional não terá resiliência para abraçar um negócio que exigirá de si todas as decisões primordiais da empresa.
Seja CLT, seja empreendedor, mas seja, acima de tudo, obstinado nas suas entregas.