Em um cenário de avanços tecnológicos, gestão guiada por dados e novos desafios, o serviço público precisará se reinventar.
Um estudo da Fundação Brava mostra um novo perfil do servidor do futuro, que será incentivado a atuar mais como solucionador de problemas do que como um operador da engrenagem.
A inovação nas últimas décadas embalou a discussão sobre a eficiência dos serviços públicos e a modernização de processos, que ainda são manuais em grande parte do Brasil, especialmente nas cidades.
Essa pauta tem ganhado espaço nos governos. Os gestores públicos estão assimilando que somente a tecnologia é capaz de levar a cabo o cumprimento de promessas, o sucesso dos indicadores de resultado e, sobretudo, o atendimento eficiente ao cidadão.
As atividades de quase 54 mil servidores públicos federais poderão ser automatizadas a partir de 2030, quando esses funcionários estarão aptos a se aposentar.
O dado é da Escola Nacional de Administração Pública e revela que esse movimento se expande com o tempo. O número deve passar de 90 mil ocupações em 2050.
Atividades de servidores substituídas por automação reforçam uma mudança de foco, com atribuições menos operacionais e mais complexas para encarar os desafios de um futuro que está logo ali.
Nesse cenário de escassez de servidores, não existe uma estratégia que dê conta de gerar eficiência, reduzir despesas e melhorar os serviços sem considerar colocar parte do trabalho do governo no piloto automático.
A automação de processos consiste no uso de tecnologia e na integração entre sistemas e dados para aprimorar o fluxo e o controle do trabalho.
Pode ser empregada em qualquer esfera ou setor governamental e alivia a sobrecarga de trabalho ao reduzir a necessidade de tarefas manuais. Também é um antídoto eficiente contra falhas humanas, já que um sistema realiza sozinho boa parte das validações e checagens durante um atendimento.
No cenário da aprovação de projetos, o analista não precisa mais calcular parâmetros construtivos, como taxa de ocupação, ou fazer o cadastro de áreas aprovadas.
O piloto automático também dispensa o trabalho manual do servidor para atualizar o cadastro de contribuintes, gerar inscrição municipal, além de realizar consultas de viabilidade para abertura de empresas e obras. As possibilidades são infinitas.
O gestor público tem a oportunidade de aumentar seus resultados, entregar mais em menos tempo e direcionar os servidores para atividades mais complexas, sem comprometer o orçamento ou descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O município mineiro de Varginha investiu em automação para destravar atividades que estavam paralisadas devido à grande demanda de trabalho e pela falta de pessoas e tempo.
Com a aprovação dos projetos realizada de forma 100% digital na Secretaria de Obras e Planejamento, os servidores puderam se dedicar à atualização do cadastro imobiliário, o que resultou no aumento da arrecadação para o Município.
A tecnologia está sendo adotada na construção de uma nova lógica na prestação de serviços públicos. Não se trata de substituir o trabalho humano pela automação, mas de incorporar a tecnologia para reduzir a sobrecarga e aumentar a eficiência.
Florianópolis é um exemplo de como a automação de processos contribui para que os servidores se dediquem a atividades mais estratégicas e essenciais para o crescimento sustentável da cidade.
A capital de Santa Catarina adotou o alvará declaratório, que pode ser emitido instantaneamente para engenheiros, arquitetos, responsáveis técnicos de obras de residências unifamiliares.
Todas as etapas do processo são realizadas pela plataforma digital, sem interferência humana. A automação permitiu que os analistas tivessem o tempo necessário para outras tarefas, que máquina alguma pode substituir.
A automação pode começar por processos básicos, porém elementares para o bom funcionamento da máquina pública. Ela fecha a lacuna entre as novas tecnologias e os sistemas legados, possibilitando mais eficiência do balcão para dentro e qualidade acima da média para a população.