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Demissões nas empresas de tecnologia: o que estamos aprendendo com tudo isso

Foto: divulgação.

O ano era 1999 e a virada do milênio tinha chego. O maior temor daquela época era o quanto nossos equipamentos eletrônicos iriam aguentar essa virada de ano. O mundo estava passando por diferentes situações e a bolha das .com era um tempero a mais. 

Quando o relógio marcar o ano 2000, o país ficará sem eletricidade, os trens não circularão mais, os bancos entrarão em colapso e hordas de moradores da cidade procurarão comida”, saiu na Forbes em 1998.

Um medo global que se baseava principalmente em uma mudança de dois números: a mudança de “19” para “20” entre 1999 e 2000, que não seria levada em consideração pela maioria dos hardwares e softwares.

O último dia de 1999 acabou e os anos 2000 chegaram, mas nada aconteceu. O que ficou daquela época foram apenas as notícias catastróficas que nunca se consolidaram.

Além disso, também foi uma passagem simbólica que tanto representou para as empresas de tecnologia e que antecipava as duas maiores décadas de avanço tecnológico que a humanidade já viveu.

Os vinte anos que seguiram nos trouxeram uma explosão de soluções tecnológicas e conectividade, deixando a todos e todas atentos às novidades, além de sedentos por fazer parte desse momento.

Provavelmente você tem a mesma imagem dessas empresas que eu e seus colegas. Aqueles escritórios incríveis projetados como se fossem grandes centros recreativos para adultos, com recursos de trabalho à vontade, festas nos finais de semana, comidas e bebidas espalhados por todo o espaço, além de altos salários, benefícios e remunerações variáveis. 

As contratações eram em peso e todo mês havia alguma injeção de ânimo (e dinheiro, claro) para crescer ainda mais.

Pouco mais de 20 anos se passaram e o cenário começou a mudar. Com a chegada da pandemia, novos comportamentos de consumo foram desenvolvidos e grandes plataformas digitais entraram com tudo para atender tamanha demanda.

Entre investimentos com capital de risco para sustentar seus servidores e a contratação de pessoas mundo à fora, tudo aconteceu para justificar o potencial dos negócios que estavam surgindo. 

Com o controle da pandemia, foi ficando cada vez mais difícil sustentar essa conta e outros impactos também foram sentidos. Junte à isso a escalada da inflação, conflitos armados como o da Rússia e Ucrânia, além de outros fatores e pronto. Um novo cenário está criado.

Hoje, Janeiro de 2023, estamos vivendo um momento tão emblemático quanto 2000. Desde 2022, o setor de tecnologia mundo à fora vem passando por grandes desafios, principalmente quando vemos as demissões em massa que vem acontecendo semanalmente. 

Em 2022, foram 155.126 demitidas de 1.032 empresas de tecnologia, segundo o site Layoffs.fyi.

O Google, a Amazon e o Salesforce, só para citar algumas das maiores que conhecemos, estão na lista daquelas que realizaram demissões em massa somente em Janeiro deste ano. Ao total, já foram 55.324 pessoas demitidas nesse mês. 

No Brasil, a Pagseguro já desligou 481 profissionais.

A questão é simples: tudo tem seu ciclo que alcança números e cenários de excelência porém cai tenuamente até se reestabelecer. Não está sendo a primeira vez e tampouco será a última. Inclusive, espera-se que 2023 tenha ainda mais demissões pela frente. 

A Microsoft anunciou um plano de cortar 10 mil pessoas do seu quadro até o final de Março deste ano. 

O que precisamos entender disso tudo é aqui nada é certo nessa vida. Ciclos são contínuos e todos os empregos estão sujeitos a instabilidades,  sejam por novas tecnologias, comportamentos ou cenários macroeconômicos. 

O nosso maior desafio é poder antecipar possíveis instabilidades mesmo que essas incertezas não sejam nossas responsabilidades. Estarmos sempre com o a mente visando o novo, buscando o aprendizado e entendendo que sempre poderá ser possível (nem sempre fácil) aprender algo novo. 

Assim como eu escrevi no meu primeiro artigo de 2023, criar uma capacidade de aprendizado pode ser um ótimo diferencial para a sua carreira em 2023.

Para complementar, listo aqui 4 aspectos que não ajudam o aprendiz adulto e que precisamos desamarrar das nossas crenças de aprendizagem:

  1. Dependemos de outra pessoa para organizar o nosso aprendizado: desde a infância, nos ensinaram que para aprender alguma coisa, basta sentar numa sala de aula, ouvir um professor/a e reproduzir o conteúdo em uma prova para sermos avaliados. Na vida adulta, esse professor/a não estará mais tão próximo para dizer o que você precisará aprender.
  2. Achamos que aprender é um mal necessário: sabe aquela leitura de 5 páginas deitado na cama, com sono e por obrigação? Pois é, a gente se esforça para algo que nem sempre é legal e isso torna o aprendizado ainda mais difícil. Busque sempre algo que seja importante para você e consuma em um momento ideal para tal.
  3. Desconsideramos o aprendizado informal: escrever textos assim me permite desenvolver meu raciocínio crítico e também me abre a novas curadorias de conteúdos. É algo informal, dentro do meu próprio tempo e interesse. Faz toda a diferença. Encontre a sua informalidade também, nem que seja um cafezinho semanal com alguém.
  4. Confundimos aprendizado com aquisição de conteúdo: ler dois livros por mês, assistir cursos online a cada semana, além de artigos e podcasts todos os dias. Ao mesmo tempo que é um esforço louvável, é preciso cuidar com o volume de informação. Para facilitar, considere um objetivo para você fazer melhor o que você faz hoje e os ‘comos’ vem depois. Consuma o que você quiser buscando considerar o quanto você está aprendendo.

Tão certo quanto as reviravoltas do mercado é a nossa necessidade evolução e transformação.

Se um dia você precisar de um plano B para a sua carreira, não deixe de começá-lo agora. Talvez nem seja uma preocupação para você nesse momento, mas nunca é demais poder rascunhar uma nova etapa de carreira. 

Nem sempre será fácil, mas podemos nos ajudar a tornar isso tudo muito possível. O que as empresas de tecnologia estão passando não é exclusividade do segmento e tampouco será a última vez. Todo e qualquer mercado de atuação está sujeito à reinvenção. 

Inclusive você. E se você não fizer um plano B por você, alguém fará e daí poderá ser pior.

Leia outras colunas do Rodrigo Oneda Pacheco clicando aqui.

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Líder de gestão de mudança e cultura na Central Ailos.

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