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Como a Fórmula 1 escapou da falência investindo em experiências?

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Foto: divulgação.

Na última semana estive em São Paulo para uma imersão do meu MBA em Gestão, Liderança e Inovação da Escola Conquer e tive a oportunidade de ouvir o case de reposicionamento estratégico da Fórmula 1 pelo próprio diretor executivo do Grande Prêmio Brasil, Francisco Mattos. Não só isso! A palestra se deu dentro de um dos camarotes do autódromo de Interlagos, enquanto inúmeros carros rasgavam a reta do autódromo e mergulhavam no “S do Senna”. Uma experiência memorável.

Bom, pode nem parecer verdade, mas a F1 passou por desafios que quase causaram sua falência, nos anos 2000, mas se reergueram depois que voltaram a escutar ao público-alvo e investiram em experiências.

HISTÓRIA

Bom, a F1 possui mais de 70 anos de tradição e começou como uma competição de garagistas. Bernie Ecclestone, lá no início dessa jornada, enxergou uma oportunidade de negócio e virou o “dono”, fazendo com que o esporte conquistasse o mundo. Entre os anos 80 e 90, era de ouro do cigarro, a F1 também virou sinônimo de glamour, com luxuosas festas, iates e lifestyle.

No entanto, a partir dos anos 2000, principalmente com o crescimento da internet, o mundo e a forma de consumo mudaram radicalmente. Numa atitude um tanto quanto desatenta, a F1 literalmente “parou no tempo”. Não ingressaram à era digital, não estudaram os públicos de interesse e não criaram conteúdos, muito por causa da falta de inovação e flexibilidade durante a gestão de Ecclestone. Há uma frase marcante dita por ele que mostra a falta de empatia, visão, e que até mesmo soa preconceituosa: “o público jovem não interessa, pois não consegue comprar um rolex”, disse.

Essa visão limitada também se estendia à produção de conteúdo. Para vocês terem uma ideia, até meados de 2017, quando a F1 foi vendida para o grupo norte-americano Liberty Media, os pilotos eram proibidos de compartilhar os bastidores em suas redes sociais. Dá para acreditar nisso?

A FORÇA DO ENTRETENIMENTO

Para a nova era da F1, que mantém as rodas girando e continua registrando aumentos exponenciais de faturamento, o lema se transformou em produzir o “espetáculo ainda mais espetacular”. A partir de então a corrida acaba ironicamente se tornando apenas mais um detalhe de toda a experiência, tornando o público legítimos fãs da marca.

Naquele momento, a grande questão era: Como manter o público engajado e entretido fora do tempo da corrida? Com base nessa premissa, algumas mudanças definitivamente conquistaram o público: em 5 etapas, foi criada a Sprint Race, uma corrida de 30 minutos, aos sábados, onde há menos estratégias e mais emoção, parceria com a Netflix com a série F1: Dirigir para Viver, onde o público pode acompanhar os bastidores das corridas e da vida dos pilotos, que deixaram de ser apenas atletas de alto rendimento e se tornaram celebridades globais, F1 – E-Sports, uma plataforma muito próxima da realidade onde qualquer um pode ser um piloto virtual (inclusive os próprios pilotos realizam treinos na plataforma), e muito, mas muito entretenimento com shows, festivais, interações e ativações com outras marcas famosas para entreter o público.

SUSTENTABILIDADE

Ademais, com o crescimento do ESG (ambiental, social e governança, em inglês), investiu-se muito em diversidade, inclusão e sustentabilidade. No Grande Prêmio Brasil, por exemplo, você pode pagar para dar uma volta de Ferrari no autódromo durante o GP e toda verba arrecadada destina-se a projetos sociais.

Novas cidades-sede sede foram incluídas e impactadas, como o GPs do Bahrain (o primeiro do oriente médio), Dutch (com forte entretenimento nas arquibancadas), Miami (circuito de rua ao redor do Hard Rock Stadium) e Mexico City (em torno de 6.400 empregos temporários gerados). Há projetos em desenvolvimento para voltarmos a ter um piloto brasileiro no grid principal, e, também, para a presença feminina nos cockpits.

GRANDE PRÊMIO BRASIL

Já no Grande Prêmio Brasil, houve recorde de público no ano passado, com 235 mil pessoas presentes, 75% turistas, gerando um impacto econômico de R$ 1,37 bilhão para São Paulo. Segundo a pesquisa de satisfação, 96% das pessoas pretendem voltar este ano, onde os ingressos foram vendidos em menos de 1 hora após a abertura oficial.

Tudo isso demonstra que uma visão apurada no público-alvo, entretenimento, experiências e presença digital pode tirar qualquer negócio do buraco. Não somos donos da Fórmula 1, mas somos donos de vários negócios e, na corrida do empreendedorismo, precisamos estar sempre atentos ao movimento para não quebrar no caminho.

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Sócio-fundador do Villa do Vale Boutique Hotel

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