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Você não é melhor e nem pior que ninguém por não gostar de Carnaval

Foto: divulgação.

Todos os anos é a mesma coisa: ao começar o período de carnaval no Brasil, os workaholics de plantão surgem das profundezas para proclamar seu amor ao trabalho e ódio à diversão alheia. 

Às vezes, o simples fato de ter um feriadão já vira motivo para o chilique. É como se o Brasil recuasse 10% no PIB em função de um feriado estendido, é como se todas as entregas fossem comprometidas porque sua empresa liberou todo mundo. 

É uma revolta tão desproporcional que demonstra não só uma invejinha adormecida pela diversão dos outros como também um desconhecimento sobre a relevância social, cultural e econômica do carnaval do Brasil.

Além disso, vejo dois sentimentos muito intensos aí. Primeiro, as diferenças regionais e o preconceito de classe ao associar o período carnavalesco como algo somente atrelado aos grandes centros (e mais economicamente ativos) e aos mais pobres, como se o carnaval fosse unicamente coisa de gente menos favorecida.

E segundo, o sentimento do desempenho, da performance, da produção, do resultado e da meta, como se a única forma de entregar as responsabilidades fosse trabalhar durante 24h por dia, 7 dias por semana, tomando BulletProof Coffee, acordando às 5h da manhã, tomando um banho gelado e economizando 10% da sua renda para investir no futuro.

Esse segundo ponto, aliás, pode servir muito bem para vender cursos online de produtividade que só dizem obviedades, vendendo o sucesso do primeiro milhão como se tudo fosse uma receita pré-definida de hábitos diários.

As redes sociais são as principais vitrines desse tipo de comportamento. “Trabalhe enquanto os outros se divertem”, diz o funcionário do mês num pós-burnout. É tudo um misto de autoafirmação, egocentrismo e preconceito disfarçado de cidadão de bem que muitos nem disfarçam quando publicam suas opiniões.

Socialmente, o carnaval fortalece pautas importantes sobre a nossa desigualdade, sobre a nossa história, sobre as nossas conquistas, colocando assuntos importantes para o debate por meio de diferentes meios no nosso dia a dia.

Culturalmente, o carnaval nos ensina sobre o passado do Brasil, suas religiões, seus contextos sociais e políticos, além de trazer muito ritmo, cor e poesia para as ruas.

Economicamente, o carnaval movimenta empregos e renda para muita gente. Apenas no setor turístico, uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que o Carnaval 2024 movimente R$ 9 bilhões acima do habitual para o período.

Isso representa um crescimento de 10% em relação a 2023. O setor deve faturar R$ 2,3 bilhões em Santa Catarina durante todo o mês de fevereiro e a folia tem um grande papel nesse montante.

Outra expectativa positiva é em relação ao mercado de trabalho. A CNC projeta que o Carnaval 2024 gerará 66.699 postos de emprego temporário no setor de serviços em todo o País.

Ao mesmo tempo, o carnaval não deixa de ser uma grande vitrine de oportunidades para evoluirmos como país. Ainda há preconceitos nas avenidas, violências nos bloquinhos de rua, lavagem de dinheiro e desigualdade social até nos preços dos ingressos. 

Tudo isso não deve passar em branco.

Saber colocar isso tudo na balança é saber usar a inteligência quando olhamos o contexto do Brasil como um todo. Mas se, ao invés disso, você condicionar o carnaval apenas ao seu mundinho, você não estará usando essa inteligência a seu favor. 

Se todo carnaval tem seu fim, que você possa esperar por ele no conforto da sua casa, descansando, fazendo o que você achar mais interessante, sem despejar ódio gratuitamente nos outros. 

Viva a maior festa do mundo! 

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Líder de gestão de mudança e cultura na Central Ailos.

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