Siga nas redes sociais

Search

Quando você não é capaz de lidar com a sua vaidade numa cadeira de liderança

Compartilhe

Foto: divulgação.

Viver o mundo de hoje é dormir e acordar todos os dias sabendo que você será muito mais reconhecido por estar certo sobre as coisas do que estar curioso em compreendê-las.

Podemos dizer que estamos muito mais propensos a reconhecer as lideranças super convictas do ambiente de trabalho do que aquelas que se disponibilizam ao autoconhecimento, a vulnerabilidade e a humildade.

Nos últimos meses, venho me responsabilizando cada vez mais por essa busca por autoconhecimento. Seja nas sessões de terapia ou mentoria que estou realizando, além das conversas com minha liderança na empresa, tudo me faz refletir sobre algumas das minhas atitudes como líder.

Há um pensamento perfeccionista que transforma qualquer tipo de erros em falhas, principalmente no mundo corporativo que transforma esses erros em sinais de fraqueza. E quando isso bate em você, a teimosia vem com força no modo reativo de lidar com isso.

O mundo da polarização daqueles que estão certos e os errados; o binarismo da sociedade impondo que todos tenham convicção sobre tudo mesmo que não estejam certos a respeito do que pensam. A sociedade do cansaço mostrando sua variação.

Assumir uma posição de liderança numa empresa pode ser uma jornada cheia de armadilhas. É comum dizer: quanto mais alto você sobe na hierarquia organizacional, mais difícil se torna você assumir que está errado. A maioria da liderança sempre fará de tudo para proteger sua reputação.

E isso pode ser visto nas coisas mais comuns do dia a dia. A escalada desses degraus corporativos o acompanha com a sombra da falta de transparência e honestidade, sendo cada vez menos possível receber um simples feedback de alguém, por exemplo.

Isso é um resultado tanto pela falta de interesse e solicitação por feedbacks quanto pelos inúmeros filtros que são utilizados quando seus liderados se pronunciam.

Para mim, muitas lideranças tendem a sofrer uma síndrome do herói. Se por um lado, você quer salvar o mundo; por outro, o seu time o percebe como um controlador implacável.

Bons líderes não só reconhecem seus erros como também sabem admitir quando estão errados. Esses fatores exigem humildade intelectual e autoconhecimento que, convenhamos, muitos não se interessam por desenvolver ou já acreditam possuir.

Estar certo não se trata, apenas, sobre se sentir mais esperto. É uma arma estratégica para a arena intelectual que vivemos – um jeito de evitar ser percebido como a última pessoa mais inteligente da sala.

É como se olhássemos os fatos como algo que pudesse nos ajudar a ganhar, sendo nossos aliados ou inimigos. Se eles confirmarem nossas crenças, logo queremos eles para vencer. Entretanto, quando eles comprovam o oposto do que pensamos, nossa intenção é eliminá-los imediatamente.

Ao entrar nessa arena como mais um jogador entrando em um Fla vs Flu, nossa mente sempre direcionará nossos esforços para atacar ou defender.

A teimosia tende a ser uma responsabilidade para os lideres, especialmente quanto eles estão trancados na armadilha do custo envolvido. Quanto mais investem em um projeto, mais difícil é deixá-lo de lado. Para justificar suas más decisões, eles continuam em frente mesmo que aumente suas perdas.

É o modo de prevenção ativado na sua mais intensa condição.

Mas esse jogo não precisa ser assim e dar o primeiro passo para reverter esse ambiente de vaidades pode ser um ato de coragem, para não dizer, de inteligência.

E se eu fosse aquele que estivesse errado sobre a discussão? Seria uma ótima pergunta para você mesmo entender suas limitações. Ou seja, antes mesmo de você tentar provar que esta certo, dê aos demais o beneficio da dúvida.

Esse benefício da dúvida refere-se aos questionamentos de hipóteses que podem contrariar suas próprias ideias. Se você for capaz de antecipar tais possibilidades, as surpresas serão cada vez menores lá na frente.

Ou se você pudesse criar mais espaços seguros para compartilhar os próprios erros com o seu time? Esse, particularmente, é algo que busco fazer com frequência com os meus liderados: assumir quando estou errado.

Assim como dizer eu não sei com mais frequência também o levará para uma zona de humildade intelectual e tirará a responsabilidade de ter sempre respostas na ponta da língua. Uma forma poderosa de exercitar essa humildade é trabalhar em perguntas poderosas para que o seu time chegue nas respostas: saímos do modo “sabemos de tudo”para o modo “aprendemos sobre tudo”.

Essas e outras possibilidades para admitirmos nossas limitações, podem te ajudar na construção de um ambiente mais justo e coerente na sua organização.

Ninguém jamais ganhará uma batalha somente admitindo estar certo sobre algo. Há uma grande diferença entre desistir de uma discussão e entender que é hora de sair.

Saber chegar nessa hora certa de sair é uma matemática na qual você conseguirá cortar as perdas por uma decisão sensata evitando demais prejuízos ao insistir provar que você está certo.

Compartilhe

Líder de gestão de mudança e cultura na Central Ailos.

Receba notícias no seu e-mail

Leia também