Um ecossistema de inovação sólido não nasce apenas da tecnologia ou de investimentos: nasce também de uma visão de futuro clara e compartilhada. Essa constatação foi uma das que me marcaram durante a missão internacional que a ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia) participou, em junho, por três países que vêm moldando ativamente os rumos da ciência e da inovação no mundo: Japão, China e Catar.
Esses países são referências não apenas pelos avanços técnicos, mas por adotarem planos estratégicos de longo prazo — e por colocarem em prática políticas consistentes que integram educação, ciência, infraestrutura e internacionalização. Essa capacidade de pensar e agir com visão de futuro é algo que Santa Catarina também pode se inspirar para cultivar com ainda mais intensidade.
Nosso ecossistema já é reconhecido no Brasil como um dos mais inovadores, com forte presença de empresas de base tecnológica, startups, universidades e centros de pesquisa. Mas, para nos tornarmos um verdadeiro hub global de inovação, precisamos ampliar conexões com mercados estratégicos e aprender com quem já percorre esse caminho há décadas.
A escolha dos destinos da missão, feita ao lado do governo do Estado de SC, não foi por acaso. China e Japão estão entre os principais polos de ciência e tecnologia do mundo segundo estudos recentes. A China, por exemplo, é hoje líder global em depósito de patentes e tem investido fortemente em áreas estratégicas como inteligência artificial, telecomunicações, energia limpa e manufatura avançada. Já o Japão segue como referência internacional em robótica, automação e pesquisa aplicada, sempre com foco em soluções de longo prazo. Embora não tenha integrado a missão, a vizinha Coreia do Sul é frequentemente mencionada ao lado desses países por seus avanços tecnológicos e políticas nacionais voltadas à inovação. Ou seja, trata-se de uma região do globo impossível de ignorar quando se trata de tecnologia e inovação.
Estar próximo a esses ecossistemas nos permite aprender com quem está moldando os rumos da tecnologia global, e reforça o quão estratégico é para Santa Catarina estreitar laços com esses mercados.
Um dos principais encontros da missão foi uma reunião com diplomatas da Embaixada do Brasil na China. Há um entendimento crescente entre investidores e empresas chinesas de tecnologia de que o Brasil pode ser o próximo grande passo na expansão internacional dessas companhias, depois de consolidarem seus mercados doméstico e regional no Sudeste Asiático.
Enquanto o mercado europeu apresenta maior resistência e forte domínio de players norte-americanos, países como o Brasil surgem como destinos estratégicos. Nesse contexto, Santa Catarina, com sua base tecnológica já consolidada, é vista como uma porta de entrada promissora. A aproximação realizada nesta missão pode gerar frutos concretos nos próximos anos, em especial na forma de investimentos diretos no nosso ecossistema.
Já no Catar, nos chamou a atenção a clareza de visão de longo prazo. Desde 2008, o país segue um plano estruturado, chamado de Visão Nacional do Catar 2030 (QNV 2030), que busca transformar sua economia baseada em petróleo e gás para um modelo sustentável e orientado ao conhecimento.
O país investe fortemente em projetos emblemáticos de cidades inteligentes – como Lusail, ao lado de Doha, e o bairro de Msheireb – combinando infraestrutura moderna, inteligência artificial, eficiência energética e urbanismo sustentável. Mas talvez o maior ativo dessa visão esteja na educação: o governo tem trazido para o país universidades de elite como Georgetown, Texas A&M e Cornell, para formar talentos locais com o mais alto nível de excelência.
Esse movimento reforça dois pontos essenciais para nós, em Santa Catarina: a importância de termos metas transformadoras de longo prazo, algo que ainda é raro no Brasil, e o investimento contínuo em pessoas. Formar e reter talentos tem que ser prioridade.
Tudo isso se conecta com o planejamento estratégico da nossa entidade, em que colocamos de forma clara nossa ambição de internacionalização. Como tenho dito com frequência neste espaço, queremos que a ACATE seja uma ponte para o mundo, que nossos empreendedores estejam lado a lado com os principais polos de inovação do planeta, portanto conexões como essa missão internacional são mais do que encontros institucionais: são sementes de um futuro que precisamos construir hoje.