No mês de maio tive a oportunidade de representar a ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia) nos Estados Unidos, junto de missão organizada pelo governo do Estado de Santa Catarina durante a Brazilian Week em Nova York. Ao longo de uma série de agendas com investidores e grandes players do setor de tecnologia global, ficou evidente que o Brasil desperta atenção e respeito no cenário internacional, especialmente quando o tema é tecnologia. Em diversos encontros, uma frase foi recorrente: “Brazil is almost there”. Estamos próximos de algo maior, mas ainda temos desafios a superar para transformar potencial em protagonismo.
A inovação brasileira chama a atenção. Casos como o do Pix, elogiado por diversos interlocutores, mostram que temos capacidade técnica e soluções avançadas. Contudo, para que essas conquistas se convertam em liderança sustentável no cenário global, é preciso seguir fortalecendo nossa credibilidade, estabilidade fiscal e ambiente de negócios.
O cenário macroeconômico ainda representa um desafio. A volatilidade cambial e o grau de investimento abaixo do ideal limitam o acesso do Brasil a recursos relevantes do mercado global. Nossa participação no mercado financeiro global é reduzida: a Bolsa brasileira representa apenas 1% do total mundial. Isso reforça a necessidade de avanços estruturais, como reformas e maior previsibilidade, que nos permitam atrair investimentos de longo prazo e ampliar nosso protagonismo.
Apesar dos desafios, o momento é promissor — especialmente com o avanço da inteligência artificial, que tende a gerar forte demanda por infraestrutura digital. O Brasil reúne diversos atributos valorizados nesse novo contexto: oferta de energia limpa e competitiva, disponibilidade de água, infraestrutura em desenvolvimento e mão de obra qualificada. Há aqui um ponto chave em que Santa Catarina pode se beneficiar perante a alta demanda que o mundo terá por datacenters. A criação de políticas públicas que incentivem investimentos em datacenters, além de uma regulamentação equilibrada sobre uso e privacidade de dados, pode transformar o país e o estado em um polo estratégico para a nova economia digital.
A tecnologia tem sido vetor de crescimento para diversas nações nas últimas décadas. Nos Estados Unidos e na China, foi determinante para a expansão econômica e a redução da pobreza. O Brasil tem agora a oportunidade de aproveitar essa nova onda, talvez a mais impactante de todas: a revolução da inteligência artificial.
Com planejamento, incentivo à inovação e fortalecimento de ecossistemas empreendedores, podemos estimular o surgimento de empresas brasileiras com atuação e influência globais. O país tem tudo para se posicionar como referência em tecnologia, com impacto direto na geração de empregos, na competitividade e no desenvolvimento sustentável.
O pragmatismo norte-americano e a criatividade brasileira são qualidades distintas, mas complementares. Ao unir essas forças, é possível construir pontes que beneficiem ambos os países e estimulem colaborações em áreas como infraestrutura digital, inteligência artificial e inovação aberta.
O Brasil tem uma nova chance de se inserir com mais força na economia global. Com visão estratégica, colaboração entre setores e estímulo à inovação, podemos transformar potencial em protagonismo.