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Pesquisa revela potencial catarinense para produzir café especial

Foto: Wirestock/AdobeStock

Há gerações, cafezais crescem em Santa Catarina sob a sombra da Mata Atlântica ou de outros cultivos agrícolas.

Famílias agricultoras optaram pelo cultivo do grão, que vai dar origem a um café especial, com alto apelo econômico e ambiental.

Um estudo comprovou que o café arábica, produzido sob a sombra de bananais orgânicos em Araquari, se enquadra como café especial excelente.

A pesquisa foi feita por profissionais da Epagri em parceria com o Instituto Federal Catarinense (IFC) e Instituto Federal do Sul de Minas.

O levantamento concluiu ainda que o estado possui áreas com condições climáticas potencialmente aptas para o cultivo de café arábica especial, considerando a colheita seletiva e adequado processamento pós-colheita para explorar a máxima qualidade sensorial e evitar defeitos físicos nos grãos.

Além disso, apontou a necessidade de mais estudos, tanto sobre a adaptabilidade ao grão ao litoral catarinense, como do manejo de cultivo e pós-colheita.

Wilian Ricce e Fábio Zambonim, pesquisadores da Epagri/Ciram, delimitaram o mapa com a região potencialmente apta para o cultivo, de acordo com o clima.

“Queremos mostrar o potencial que o café especial arábica tem na região litorânea de Santa Catarina. Cultivado em sistemas agroflorestais, ele pode ser usado como estratégias de restauração e uso econômico de áreas de preservação permanente nas propriedades rurais familiares”, descreve os pesquisadores.

Bandeira mostra tradição do café no estado

A cafeicultura já foi uma atividade de expressão econômica em Santa Catarina.

Prova disso é a bandeira do estado, criada em 1895, que traz a imagem de um ramo de café com frutos.

“As primeiras plantações de café em Santa Catarina foram estabelecidas no final do século XVIII e, apesar de sua pequena escala, quando comparada às grandes lavouras da região Sudeste do Brasil, o produto catarinense sempre se destacou pela sua qualidade”, avalia Fernando Prates Bisso, professor do IFC/Araquari e um dos autores do estudo.

Ele conta que, frequentemente, os grãos colhidos no território catarinense eram utilizados para compor e melhorar lotes exportados para mercados mais exigentes, como Uruguai e Holanda.

O cenário mudou na década de 1960, como resultado de uma política pública nacional de erradicação de cafezais para regulação dos estoques mundiais do grão.

A partir daí a produção de café no litoral catarinense migrou do status comercial para uma cultura de subsistência.

No entanto, levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, mostrou que pequenos cultivos isolados se mantiveram em 15 municípios da costa catarinense, evidenciando a adaptabilidade da cultura às condições de clima e relevo da região.

Resgate da cafeicultura

A Associação dos Bananicultores de Corupá (Asbanco), idealizadora do projeto de Indicação Geográfica (IG) de Denominação de Origem (DO), da Região de Corupá como produtora da Banana Mais Doce do Brasil, agora vislumbra o potencial econômico de cafés especiais, sombreado pelas lavouras de banana, principal atividade econômica do município.

“Corupá é uma região rica em história e nossos agricultores mantém a tradição do cultivo de café para consumo da família há mais de 80 anos. Não imaginávamos que nosso café teria os atributos e seria classificado como café especial, o que muito nos orgulha”, comenta Eliane Müller, diretora administrativa da Asbanco.

O agricultor Guido Tandeck, primeiro em Corupá a participar do projeto de resgate da cafeicultura desenvolvido pelo IFC/Araquari, relata que em sua casa nunca se comprou café no mercado, sempre se consumiu a produção própria.

“Depois de colher, secamos os grãos no sótão da casa e deixamos descansar por um ano para depois torrar e moer, tradição que aprendi com meus pais e hoje repasso para meu filho. Nunca imaginei que poderia ser especial, para nós era só café”, relata.

O projeto de resgate da cafeicultura catarinense conta com a colaboração de Leandro Carlos Paiva, mestre em torra, barista e professor titular de agroindústria e qualidade do café do IF Sul de Minas:

“Santa Catarina é privilegiada por uma latitude que, para quem entende de cafés especiais, não oferece a necessidade de ter suas lavouras em altitude, para que o café apresente qualidade diferenciada. O que falta é um estudo sobre esses efeitos, para descobrir como e quanto é especial o café catarinense”.

Os resultados iniciais do estudo com amostras de cafés de Santa Catarina foram bastante promissores, com algumas chegando a obter pontuação média dos descritores superior a 85 pontos, revelando cafés especiais de qualidade excelente, de acordo com a escala de classificação da Specialty Coffee Association of America.

Amostras recentes de café procedentes de vários municípios, como Araquari, Itapema e Corupá, e que foram beneficiadas pelos próprios agricultores, também revelaram pontuação de cafés especiais de muito boa qualidade, entre 81 e 84,17 pontos.

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