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Perspectivas para o mercado 2021

Foto: divulgação

Por Jorge Barbato Neto, CEO na JB3 Investimentos

O ano passado foi ímpar, que muitos de nós vamos demorar para digerir, não apenas pela pandemia, mas pelas inúmeras lições que esse período conturbado nos deixou. A crise causada pela pandemia atingiu diversas áreas, gerando um maior desemprego e a necessidade do isolamento social. Por consequência, a economia mundial sofreu uma retração, deixando um clima de incerteza em todo o mundo.

Mas como em toda crise, uma enxurrada de oportunidades apareceram: tivemos muitas empresas se reinventando e atingindo um mercado antes nunca imaginado, além de grandes avanços tecnológicos. Outra grande reflexão disso tudo foi também a diminuição nas reuniões presenciais e viagens a trabalho, as quais passaram a ser feitas somente quando estritamente necessário. 

O efeito 2020 na Bolsa de Valores

A Bolsa de Valores teve a maior baixa entre as bolsas globais, recuando 42% no mês de março e gerando forte problema de falta de liquidez financeira. Empresas do setor de viagem e turismo chegaram a cair 75%, visto que o mundo inteiro entrou no alerta mais grave e todos estavam em lockdown.

Na época, o colapso não foi apenas na saúde, a bolsa passou por 6 circuit breakers em um intervalo de 14 dias. Entrando, assim, para a história como uma das maiores crises financeiras já vistas. E, se uma queda tão rápida, chegou a assustar a recuperação assídua dos mercados, por outro lado, as notícias de vacinação e empresas se reinventando deixaram muitos investidores animados. A recuperação da mínima até o final do ano foi de 90%,  com destaque às empresas exportadoras como Vale do Rio Doce e a Usiminas

Economia Brasil 2021

Se por um lado a Bolsa vem se recuperando em relação ao ano passado, política fiscal preocupa, dado que as contas públicas estão em desarranjo em relação à razão entre dívida/PIB, a qual serve como comparativo frente à outras economias. 

Conforme gráfico que segue, é notório que houve (sem entrar no mérito da necessidade ou não) um aumento das despesas públicas para minimizar os impactos da pandemia que há quase um ano já nos assola. Isso significa que o país já não tem o mesmo “poder de fogo” para aumentar suas despesas, transferindo ainda mais a responsabilidade de um ajuste fiscal (seja via reformas e/ou privatizações), sob pena do Brasil perder credibilidade junto aos credores, e assim, desencadear uma série de consequências ruins para a economia como um todo, não apenas pública, mas também privada, descontrole inflacionário, etc.

Renda Fixa

Para o cenário de juros, a Taxa SELIC chegou na mínima histórica de 2% a.a., um patamar nunca antes imaginado (ou previsto), uma vez que há pouco mais de 5 anos chegamos no pico de 14,25% a.a., nos anos de  2015 e 2016.

Sendo assim, o investidor passivo, ou seja, com perfil rentista que aplicava seu dinheiro em títulos com rentabilidade acima da inflação, quase que sem risco, passou a se frustrar com a rentabilidade dos títulos atuais. Isso fez com que grande parte desses investidores migrassem para renda variável, assumindo maiores risco, ao invés de mantê-los na renda fixa, sofrendo as consequências do juro real (juro nominal menos inflação) negativo, especialmente no curto prazo. 

Em razão dessa queda na taxa de juros, essa migração de investidores para a bolsa tem sido bastante expressiva nos últimos anos. Fechamos 2019 com 1.681.033 CPFs cadastrados, ao passo que finalizamos 2020 com 3.229.318 investidores, segundo dados da própria B3, o que significa um aumento de 92% no total de investidores na Bolsa de Valores.

Taxa de Juros

De acordo com a mediana das expectativas do mercado, o Relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central do Brasil, verifica-se que há uma tendência cada vez mais evidente de aumento da SELIC no ano de 2021, fazendo frente à pressão inflacionária, conforme será comentado logo abaixo.

Entretanto, além de outras variáveis econômicas, é fundamental acompanhar o Índice de Atividade Econômica (IBC- Br) também divulgado pelo Banco Central e que é utilizado para antecipar o PIB uma vez que é medido mensalmente. Na figura 1, é possível verificar as expectativas para 2021 até 2024.

Inflação

A tendência da inflação deverá acelerar durante o primeiro semestre de 2021, devido ao efeito de base, preços mais altos das commodities e uma menor incidência futura da pandemia, graças à vacinação. Ainda assim, não se vê a inflação subindo de forma consistente. Os modelos mostram que o hiato do produto não deve fechar antes de 2023 e o hiato do emprego não deve fechar antes de 2025.

A equipe especializada em macroeconomia da XP Investimentos acredita que a alta da inflação continuará pressionando os juros de mercado, projetando os juros dos títulos de 10 anos do Tesouro Americano em 1,3% ao final de 2021.

Além disso, entendem que o Fed pode optar por uma estratégia de controle da curva de juros, para proteger a expansão econômica em curso e a saúde do mercado imobiliário se em algum momento durante o ano os mercados começaram a evidenciar um comportamento que se assemelhe ao “taper tantrum” de 2013.

Bolsa de Valores

A expectativa genérica para a bolsa brasileira para o ano de 2021, melhor representada pelo índice Ibov, é de alta. Obviamente, não deve ser uma linha reta, no entanto, projeta-se o Ibov para o fim de 2021 na ordem de 130 mil pontos. Lembrando que, logo na segunda semana deste ano, o índice superou os 125 mil pontos e voltou a faixa dos 115 e 120 mil pontos.

Importante destacar que há um fluxo de capital externo significativo na bolsa nacional, parte devido à desvalorização do Real, parte devido à expectativa da efetividade das vacinas do coronavírus, e também, dos pacotes de estímulos nas economias desenvolvidas, sobretudo a norte-americana em que se está esperando uma forte expansão monetária por meio do FED (Banco Central Norte-americano).

Outro fator que favorece a concentração de recursos na bolsa de valores brasileira é que, mesmo com a taxa de juros subindo, a renda fixa ainda deverá rentabilizar abaixo da inflação. Isso faz com que os investidores mantenham seus aportes nesta classe de investimento financeiro com maior risco.

De qualquer forma, é importante que o investidor tenha ciência que a bolsa brasileira é mais volátil e quase que irrelevante em relação ao volume financeiro movimentado, quando comparada com bolsas de países desenvolvidos.

Também é importante salientar que somente em 2021, 13 empresas já abriram capital por meio dos IPOs (Oferta pública inicial, tradução do inglês) e outras 31 aguardam autorização para tal.

O que 2021 já nos trouxe

Autonomia do Banco Central

2021 mal começou e já teve uma grande conquista para a economia brasileira: a aprovação do projeto de lei que confere autonomia ao Banco Central, uma novela de quase 30 anos que foi encerrada com sucesso no último dia 10.

A Câmara dos Deputados aprovou com 339 votos a favor e 114 votos contra a tão sonhada autonomia do Banco Central, discutida e debatida com frequência nestas últimas três décadas. Desta forma, o Banco Central alcança uma conquista histórica, conseguindo se blindar da política através de mandatos fixos e não coincidentes entre os diretores da instituição.

O projeto aprovado no Congresso estabelece que o presidente da autoridade monetária brasileira, bem como seus oito diretores de Comitê de Política Monetária, tenham mandatos fixos de quatro anos, com o presidente iniciando seus trabalhos sempre no terceiro ano de governo do presidente da República. Já os demais diretores iniciam seus trabalhos em janelas espaçadas durante os quatro anos de mandato do presidente da República. Existe, também, a possibilidade de o presidente e seus diretores obterem mais quatro anos de atividades no Banco Central.

Outra alteração relevante é com relação aos objetivos da autoridade monetária. Além de trabalhar pela estabilidade de preços (alcançar as metas de inflação), o Banco Central terá um objetivo secundário de fomentar o status de pleno emprego na economia.

O novo formato do Banco Central brasileiro, com a tão sonhada autonomia alcançada, ficará bem parecido com o que se observa nos Estados Unidos, por exemplo, considerado referência para todos os demais banqueiros centrais.

Ainda que existam uma série de críticas, a conquista da autonomia para o Banco Central pode ser considerada a primeira grande vitória do governo em 2021. A aprovação também veio num timing importante, pois até pouco tempo atrás existia excesso de percepção negativa com a agenda de reformas.

Interferência na Petrobrás

Na última sexta-feira (19/02), o presidente da república, Jair Bolsonaro, pegou o mercado de surpresa ao demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e, logo em seguida, anunciar o general Joaquim Silva e Luna para comandar a empresa.

Na segunda-feira (22/02), a Petrobras perdeu cerca de 102 bilhões de reais em valor de mercado, com uma queda superior a 20% nas ações negociadas em bolsa. Antes da demissão de Roberto Castello Branco, Bolsonaro criticou algumas vezes a política de reajustes de combustíveis. Com a demissão, a percepção de risco para as ações subiu significativamente, assustando muitos players de mercado.

Bolsonaro afirma por um lado que não haverá ingerência na Petrobrás, além de não interferir na gestão. Porém, por outro lado, defende publicamente a queda nos preços dos combustíveis.

Portanto, a mudança de comando na Petrobras pode ser considerada uma forma de o governo ceder à pressão popular, bem como eliminar um risco de greve dos caminhoneiros. Apesar de nenhuma medida ainda anunciada na nova gestão, existe a expectativa de que os preços dos combustíveis irão cair.

Por conta dos traumas do passado ocorridos em intervenções na Petrobras, o mercado teme que a troca de comando poderá resultar novamente na mesma estratégia praticada nos governos anteriores, principalmente no desastre ocorrido na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.

Além disso, a mudança na presidência da Petrobras alimenta rumores de que o governo possa estar praticando um distanciamento do liberalismo, aproximando-se do populismo, já pensando nas eleições presidenciais que ocorrerão no ano que vem.

Em função da interferência na estatal brasileira, o risco-país (CDS – credit default swap) disparou 14,02% e o dólar chegou a subir mais de 2% no dia. Com a desvalorização do real perante a moeda americana, o Banco Central teve de intervir e leiloou US$1 bilhão por meio de swap cambial, um tipo de contrato com efeito equivalente à venda de dólares no mercado futuro.

De toda forma, na terça-feira, 23 de fevereiro, o preço das ações já deu início a uma correção, principalmente após a UBS emitir um relatório informando que a queda no dia anterior foi exagerada. Assim, o dia fechou com alta de 12% nas ações preferenciais e quase 9% nas ordinárias.

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