Enfrentando uma guerra desigual contra um vírus letal e mutante, o dilema de proteger a vida ao mesmo tempo em que precisam garantir a sobrevivência da atividade econômica, do emprego e da renda dos seus cidadãos e, especialmente, uma gestão federal negacionista que vem sacrificando o país com poucas vacinas, UTIs, kits de intubação, oxigênio e o péssimo exemplo de autoridades distantes no Palácio do Planalto que se recusam a usar máscara, manter o distanciamento e nem qualquer outro dos protocolos preventivos, os prefeitos brasileiros e catarinenses são verdadeiros heróis.
Em Santa Catarina, os prefeitos vêm dando exemplo na luta pela obtenção de mais e novas vacinas além da Coronavac do Instituto Butantan, que hoje representa cerca de dois terços dos imunizantes que estão sendo aplicados nos braços brasileiros.
Mas os prefeitos não têm apenas que vencer a guerra contra a pandemia. Eles precisam pensar que, ao vencerem essa terrível etapa de pico pela qual estamos passando em todo o país, ainda terão que planejar e se preparar para uma retomada econômica que garanta o futuro de seus municípios. Para isso serão obrigados a criar, inovar e encontrar novas fórmulas, uma verdadeira revolução, para fazer crescer o comércio, os serviços, a indústria, a agricultura, gerar emprego e renda, melhorar a qualidade de vida da população depois dessa devastadora crise.
Como ex-ministro e atual secretário do turismo do Estado de São Paulo, ex-presidente da Embratur, ex-diretor nacional do Sebrae e ex-secretário em SC por sete anos no Governo Luiz Henrique, eu não poderia apontar aqui outro caminho para essa revolução: Viagens & Turismo, a dimensão econômica mais impactada pela pandemia em todo o planeta e que certamente, no novo admirável mundo novo que viveremos em breve, será a que mais se desenvolverá por conta da necessidade, hoje represada, que temos de viajar, conhecer, sentir a natureza, a arte e a cultura, nos divertir e trocar experiências inesquecíveis com as pessoas.
Por isso não posso deixar de registrar aqui minha emoção e até uma certa surpresa ao ter coordenado há alguns dias semana passada uma reunião virtual com nada menos do que 380 prefeitos e representantes dos 645 municípios paulistas, todos em busca desse caminho de retomada econômica que é Viagens & Turismo. São Paulo é o estado que mais recebe turistas no país e o turismo é uma atividade que que movimenta 10% do PIB local, gera empregos e impulsiona os indicadores sociais.
Na reunião, compartilhamos o andamento de grandes projetos e ações, muitos criados para atender ao setor durante a pandemia. O objetivo é ampliar o alcance de suas iniciativas e mobilizar os líderes municipais, ainda em início de gestão. Os prefeitos foram apresentados a uma cartilha com a estrutura da secretaria, seus objetivos e canais de comunicação, assim como o Plano 2030 do Turismo de São Paulo, documento que presenta as diretrizes e metas paras os próximos dez anos.
A área técnica da Setur esclareceu as possibilidades de obter crédito sob medida a partir das linhas pensadas para o turismo e pleitear investimentos em infraestrutura com o Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur), que no ano passado repassou R$ 223 milhões para estâncias e Municípios de Interesse Turísticos (MITs).
O nosso desejo é que os municípios se aproximem ainda mais da Secretaria e que a gente possa multiplicar os benefícios que o turismo é capaz de oferecer. Um município que é bom para o turista, também é bom para os seus moradores.
A nossa pasta ainda apresentou a evolução dos projetos de Rotas Cênicas e Turísticas pelo estado, a nova legislação para distritos turísticos, a plataforma de melhores práticas, que será lançada em abril, e a implantação do conceito de politurismo, que visa tornar São Paulo um centro de tecnologia e informação do turismo, com o apoio do CIET, o Centro de Inteligência da Economia do Turismo.
No evento, também foi lançado um curso de gestão de crise para gestores e empreendedores do turismo, com conteúdo desenhado pela Fundação Instituto de Administração (FIA-USP), e inscrições já abertas, com o objetivo de apoiar os gestores em um cenário desafiador de pandemia.
O que fizemos e o que estamos fazendo em São Paulo – e considero importante linkar isso com Santa Catarina – é um projeto de mobilização, que prioriza o turismo de proximidade, o turismo interno, enquanto os brasileiros não podem viajar para o exterior, nem para regiões mais distantes, e as pessoas estiverem fazendo viagens pela mais pura necessidade de “sair de casa”.
Com isso começamos a recuperar os 128 mil empregos que Viagens & Turismo perdeu em SP no ano passado, enquanto tinha conquistado 50 mil novos postos de trabalho em 2019. Importante salientar que a indústria e o agronegócio, por exemplo, são importantes no aspecto do emprego, porém, não foram tão afetados e até cresceram, mas agora o fundamental da geração de postos de trabalho é a recuperação daqueles que mais perderam.
As viagens de proximidade são o link ao qual me referi com relação a SC: o turismo será o caminho mais curto para retomar a receita, emprego e renda, já aqui também setores tradicionais da economia também vão bem, mesmo na pandemia. A flexibilidade do turismo catarinense, com seu próprio movimento interno, e também em relação ao Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, é o caminho da retomada.
A parada do mundo foi a parada do turismo. A volta do mundo será a “volta pelo turismo”, seja pelas viagens de lazer, negócios, eventos, esportes, experiências, enfim, por todos aqueles motivos que nos levam a outros lugares – com os quais sonhamos agora.
Por isso, tenho absoluta convicção de que o futuro de SC vai depender muito do que fizermos daqui para frente, com esse sentimento que os prefeitos têm de fazer uma revolução em todas as dimensões – nas regiões, nas cidades – que o turismo alcança. Cabe colocar aqui que isso tem sido buscado pela força do movimento municipalista que hoje promove o intercâmbio e a cooperação entre cidades, prefeitos e ações de Santa Catarina, pelas mãos da Fecam, e de São Paulo, pela Associação Paulista de Municípios, ações que tenho apoiado como articulador entre entidades e associações.
Esse movimento, que tem o turismo como mola mestra, cria assim um novo patamar na lógica da descentralização por regiões, o chamado desenvolvimento regional integrado. Para corroborar com essa lógica, me reporto ao estudo Programa de Desenvolvimento Industrial Catarinense (PDIC 2022), da Fiesc, no qual todas regiões do nosso Estado elegem o turismo como primeira ou segunda prioridade, ou seja, como indutor de crescimento social e econômico – e aí miramos a própria “revolução do turismo”.
O turismo oferece um forte e variado arsenal para municiar os nossos prefeitos na guerra contra as consequências da pandemia e na revolução que iniciam para se saírem vitoriosos também no pós-guerra.