A presença feminina no setor de tecnologia vem sendo cada vez mais incentivada. Porém, o caminho até a equidade de gênero ainda está longe de acabar. Para discorrer sobre o tema, o Economia SC Drops de hoje conversa com a jornalista, empreendedora, comunicadora de empresas inovadoras e startups e colunista do portal, Beatriz Bevilaqua. Confira abaixo:
Temos visto grandes empresas ampliando a oferta de capacitação em tecnologia para mulheres. Qual a importância desses programas e como isso vai afetar o mercado futuramente?
Beatriz: De fato tem aumentado bastante a oferta de capacitação em tecnologia para as mulheres. Vejo que, mais do que nunca, as empresas estão mais conscientes e querem diminuir o abismo de gênero entre profissionais na área. São super válidas essas iniciativas, no entanto vejo que o maior desafio ainda é reter essas profissionais, incentivá-las e dar oportunidades de crescimento para que alcancem altos cargos de liderança. Ainda hoje apenas 35% das mulheres têm cargos e salários mais altos nesse setor.
Quais os obstáculos que ainda impedem maior inserção feminina neste setor?
Beatriz: O mercado de tecnologia é dominado quase que exclusivamente por homens. Além da falta de referências femininas nas áreas de exatas, vivemos em um cenário em que poucas escolas incentivam suas alunas desde cedo. Isso acontece não só por aqui, mas em diferentes regiões do mundo. No Brasil, somente 15% dos alunos matriculados em cursos de Ciências da Computação e Engenharia são mulheres. A maioria delas desistem já no primeiro ano. É preciso incentivo, apoio, parceria das instituições, colegas, professores e parceiros. Uma pesquisa da consultoria americana McKinsey estima que, se houvesse equidade de gênero no mundo, o PIB global teria um aumento de aproximadamente US$ 28 trilhões em 10 anos.
Qual a importância em trazer mais diversidade ao setor de tecnologia? Como a diversidade pode beneficiar esse segmento?
Beatriz: A diversidade é essencial em todos os segmentos, sobretudo na tecnologia. Quanto mais diverso o time, maiores são as possibilidades de criação, inovação e complementaridades que consequentemente tornarão uma equipe muito mais forte e resiliente. Hoje já existem departamentos de recursos humanos que fazem uso de “recrutamento às cegas”, baseados somente em algoritmos e inteligência artificial. A partir dessas ferramentas, os recrutadores não têm acesso a nenhuma informação do candidato além de suas habilidades, eliminando qualquer viés inconsciente que ele possa ter, seja pela raça, deficiência física ou gênero.
Quais medidas empresas e sociedade devem tomar para a maior inclusão feminina em setores majoritariamente masculinos?
Beatriz: Acho que é um trabalho conjunto de toda a sociedade. Não teremos qualquer avanço enquanto esperarmos que as mulheres deixem o trabalho após a maternidade. Ou se aceitarmos que elas optem por um emprego ruim e mal remunerado para conciliar a vida profissional com os cuidados da casa. Há muito que avançar por parte das empresas, do governo, das leis e da própria cultura e mentalidade patriarcal. Precisamos nos unir (mulheres e homens) para abrirmos juntos novas portas e possibilidades para um mundo menos desigual e sexista.