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O ano da decolagem das startups brasileiras

Crédito da foto: Leo Franco

Por Ivan Netto, jornalista e Head de Atendimento na Pineapple Hub.

O mercado brasileiro de startups vem apresentando um crescimento extraordinário. Para todo lado que se olhe, números recordes saltam aos olhos. Nos cinco primeiros meses do ano as empresas brasileiras receberam US$ 3,2 bilhões (cerca de R$ 16,25 bilhões), o equivalente a 90% do total investido em todo o ano passado e 4 vezes mais que no mesmo período de 2020. No início de junho, com o investimento de US$ 500 milhões da Berkshire Hathaway no Nubank, o total de aportes de 2020 foi oficialmente batido.

Entre janeiro e maio, foram 261 aportes em startups, segundo o Distrito, o equivalente a 2,37 transações a cada dia útil. Para o Distrito, o ano deverá ser fechado com algo entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5 bilhões em aportes.

O investimento em startups não acontece em um vácuo: o mercado de venture capital está bastante aquecido por conta de um cenário mundial de juros baixos e muita liquidez que estimula aportes em negócios em geral. Em um mundo de transformações cada vez mais intensas, se abrem oportunidades cada vez maiores para empresas inovadoras, focadas em solucionar problemas dos clientes e em desafiar o status quo.

Mas onde se concentram os investimentos em startups e o que eles indicam para o desenvolvimento do mercado brasileiro?

Siga o dinheiro!

O setor mais efervescente continua sendo o de fintechs. Somente neste ano, segundo o Distrito, houve 57 aportes em startups de soluções financeiras, movimentando US$ 1,158 bilhão. A presença do Nubank entre as 50 empresas mais inovadoras do mundo (única empresa brasileira na lista) é um indicador da força do setor, mas não o único:

  • O ecossistema financeiro brasileiro é referência mundial, pela capacidade de lidar com milhões de consumidores em tempo real e entregar produtos e serviços com enorme agilidade;
  • O setor de serviços financeiros é tradicionalmente um pilar importante do relacionamento com os clientes;
  • As fintechs têm funcionado como uma forma de aumentar o acesso da população desbancarizada ao sistema financeiro. Segundo a Mastercard, no ano passado as fintechs foram capazes de reduzir em 73% o número de desbancarizados no País.

O crescimento do número de bancos digitais, plataformas de financiamento para negócios e serviços de back office para empresas de todos os portes reforça a digitalização do relacionamento com os clientes e aumenta a eficiência e produtividade de todo o mercado.

Construa e eles virão

O segundo setor mais importante no número de aportes em 2021 vem sendo o imobiliário. Construtechs (construção de imóveis) e proptechs (gestão imobiliária) somam 839 startups no Brasil, de acordo com um estudo da ACE e Terracotta Ventures, e estão moldando um novo ecossistema imobiliário:

  • Compras de materiais de construção de forma digital para aumentar o escopo de fornecedores e reduzir os custos;
  • Novas tecnologias e materiais para levantamento dos imóveis, diminuindo o custo e o tempo das obras;
  • Compra ou aluguel dos imóveis a partir de plataformas digitais, diminuindo muito a burocracia do setor, empoderando os clientes e gerando mais negócios;
  • Automação residencial, por meio de dispositivos de controle, segurança e Internet das Coisas.

Um dos grandes entraves do setor imobiliário, historicamente, é a assimetria de informação. Um dos lados das transações tem pouquíssima visibilidade sobre o que acontece do outro lado (pense na dificuldade em negociar preços ou encontrar bons imóveis na região desejada por você). Tanto no B2C quanto no B2B, as construtechs e proptechs estão apresentando respostas para essas questões e modificando as relações entre compradores e vendedores.

Por uma melhor experiência

A oferta de uma experiência de compra mais agradável e que otimiza o tempo dos clientes, ao mesmo tempo em que oferece mais dados para que as empresas sejam mais assertivas, tem revolucionado o setor de varejo. As retailtechs avançam no mercado brasileiro em um momento em que a pandemia mostrou claramente que negócios sem uma base digital têm pouca chance de sobreviver.

Com a necessidade de integrar negócios online e offline, as retailtechs passam a ser cada vez mais procuradas e, muitas vezes, incorporadas ao ecossistema de empresas varejistas. Seja como parceiras de negócios, ou até mesmo sendo adquiridas para levar a inteligência, a tecnologia e um novo mindset para um setor que sempre foi high touch, mas nunca foi high tech.

Saúde é o que interessa

Mas em nenhum setor as startups se mostraram tão relevantes quanto na saúde. A pandemia deixou claro o gap entre as necessidades da população e a capacidade de execução das empresas do setor. Healthtechs vêm ganhando espaço por conseguir oferecer soluções inovadoras, entregando aplicações que parecem saídas da ficção (como Realidade Virtual para treinamento em UTIs ou o uso de impressão 3D para imobilizadores).

Dos materiais usados na medicina a novos modelos de negócios que democratizam o atendimento médico em um país que tem um grande déficit no cuidado pessoal, as healthtechs têm aberto oportunidades para solucionar problemas seculares do mercado brasileiro.

Nascidas para solucionar problemas não percebidos ou não atendidos pelas empresas tradicionais, as startups têm crescido e se desenvolvido com muita velocidade. A agilidade trazida pelas empresas nativas digitais tem revolucionado setores tradicionalmente analógicos, como a construção civil e o varejo. Ao mesmo tempo, têm trazido um novo impulso inovador a mercados como o financeiro e a medicina. Quem ganha com isso somos todos nós.

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