Do alto do Corcovado, o nonagenário Cristo Redentor é um símbolo do Brasil. Não há que não o associe a imagem ao país. Essa cristalização é favorável ao turismo nacional, em particular ao Rio de Janeiro. Poucos lugares têm algo tão límpido. A ele, naturalmente, somam-se outros: a Amazônia, imensa e muitas, Foz do Iguaçu que rivaliza com o Redentor como símbolo internacional, as praias do Nordeste, o skyline da Av. Paulista, o bucolismo do Pantanal, o perfil arquitetônico de Brasília. Entre os intangíveis, o samba, os saberes culinários e até a amabilidade dos brasileiros.
Em Santa Catarina também temos bons exemplos: a Ponte Hercílio Luz, nosso eterno cartão postal, unindo ilha e continente, a Pedra Furada em Urubici e a imponente Serra do Rio do Rastro, o Farol de Santa Marta e os botos pescadores de Laguna, enfim, uma riqueza enorme, sem contar nossas festas étnicas, que têm o ponto alto na Oktoberfest de Blumenau, e que nasceram das tradições que trouxemos dos nossos antepassados, como eles faziam e ainda fazem na Europa.
Mas, voltando à dimensão nacional, tudo junto e misturado, temos acima, no primeiro parágrafo, dez entre dez possíveis descrições dos ativos turísticos brasileiros. Façamos uma reflexão: o que foi “criado” visando o desenvolvimento turístico nacional ou local? Donga, ao gravar o primeiro samba, não estava pensando que aquela seria a trilha sonora do Brasil no mundo, quando sonhou com o Cristo em 1859, Pierre-Marie Boss não considerou o place branding. Talvez a única exceção, do ponto de vista da iconografia, seja a arquitetura de Oscar Niemeyer na Capital Federal.
Esse conjunto, contudo, faz com que 6 milhões de estrangeiros visitem o Brasil, quase 2 milhões vão ao Cristo, 44 milhões de viagens internas por SP. Podemos acrescentar: os 6 milhões de turistas em Gramado, de 37 mil moradores, 60 milhões que vão para Nova York, resultados que alteram o ritmo das cidades e cidadãos.
Olhar o consumo de um destino como resultados do que se convencionou chamar de turismo empobrece o debate e dificulta a tomada de decisões que ajudarão no desenvolvimento da chamada “economia do visitante”.
Pelo conceito, ainda não definitivo, são desconsiderados os esforços que cidades, estados e países, e seus moradores, fazem para a criação de um lugar melhor para todos, independente se locais ou visitantes.
Ao fechar o foco das análises econômicas e sociais no turista, temos resultados que mostram parte da história. Exemplificando: 2 milhões de turistas visitaram o Cristo, com impacto econômico de R$ 1,4 bilhão. É um dado, mensurável, que mostra a importância do cartão postal. Mas é somente isso? E os investimentos feitos, independente do acesso por van ou no trenzinho? Existiriam, hoje, sem o afluxo de turistas? E o consumo em cascata e democrático desses visitantes, que escapa das análises e vai da construção civil ao agro e aos serviços diversos que são gerados? Não se trata apenas de olhar a conta satélite ou atividades induzidas.
A “economia do visitante” procura ampliar o olhar: sai o foco no turista e entra em tudo o que é feito ou motivado, total ou parcialmente, a partir daquela expectativa de consumo. Nova York e outros destinos ainda sofrem com o consumo autóctone e a ausência dos turistas.
Os serviços que atendem diretamente quem vem de fora, transportes, hotéis, agências de receptivo, são usados como parâmetro quando se pensa na dimensão economia e social das “viagens e turismo”. Não está errado, mas não é só isso. É importante tirar o foco do turista e colocar em tudo o que é feito para recebê-lo, com exclusividade ou de forma compartilhada, isso é a “economia do visitante”.
Um novo conceito que precisa ser aprofundado, para que se possa compreender em toda a sua dimensão aquilo que hoje chamamos de turismo, e ultrapassar esse limite, inclusive para muito além dos 58 setores (já se fala em mais de 100) que hoje são impactados por ele.