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Sobre sabotadores silenciosos: 4 tipos de cinismo visto na organização

Foto: divulgação.

Aprender sobre cultura organizacional é sempre abrir uma porta para novos aprendizados sobre negócios e pessoas. Digo isso porque, além de tudo aquilo que vimos nas paredes, nas comunicações internas, no jeito de se vestir, nos sistemas internos da organização e assim por diante, há os fatores subjacentes (mais profundos, invisíveis) que deixam tudo ainda mais intenso. 

E são esses, de fatos, os aspectos que sustentam tal cultura no longo prazo. Sendo assim, os mais difíceis de alcançar, de declarar e de eliminar. 

Com isso, quando falamos sobre esse tema, os inúmeros fatores que influenciam a sua concepção estão sempre por aí e nem sempre são vistos ou declarados como deveriam, o que faz o nosso trabalho ser ainda mais difícil, e intrigante. 

Eu sempre fui uma pessoa que busca, na curiosidade e na escuta, melhores formas de aprendizado. Além de tentar sempre ouvir primeiro antes de querer fazer qualquer apontamento, também vejo na arte de fazer boas perguntas, uma outra forma de aprender coisas novas.

Porém, nesse exercício constante (e difícil) de questionar sobre as coisas, há um cuidado que é necessário ter e que nem sempre é percebido, tampouco declarado ou assumido por você: é o cuidado do cinismo. 

E esse cinismo esconde um comportamento sabotador muito silencioso que pode contaminar a sua cultura organizacional quando não identificado e tratado com responsabilidade.

SENSO CRÍTICO versus SER CÍNICO NO TRABALHO

Tem uma diferença importante entre uma coisa e outra. Nesses casos, quem atua com pensamento crítico parte da premissa de desafiar as ideias para sempre melhorá-las, pensando no ganho coletivo. Enquanto o cínico atua no intuito de sabotá-las, boicotando a colaboração e o senso de coletividade da sua equipe.

E como eu falei, comportamentos que fomentam o cinismo no ambiente de trabalho nem sempre são declarados e tampouco fáceis de identificar. 

Os cínicos são sabotadores silenciosos em sua maioria. Geralmente se mostram mais intelectuais ou com pensamentos mais críticos como forma de dificultar ainda mais a sua identificação. Porém, por trás dessa atuação, há um comportamento invisível que impactará diretamente a moral, a produtividade e o sucesso da sua equipe. 

O cinismo chega a ser mais que uma atitude negativa — é o oposto de ser confiável. 

Enquanto os profissionais mais confiáveis assumem constantes intenções positivas (não confunda com ingenuidade, falarei mais a frente), aqueles mais cínicos são considerados mais egoístas, mais ambiciosos e desonestos. 

É importante entender que o cinismo pode ser um sintoma de problemas mais profundos, com origens desde experiências profissionais até pela própria influência da cultura organizacional da sua empresa. É um alarme silencioso de algo está errado.

Bom, mas então você quer que eu seja ingênuo para tudo? Não é isso. 

Aqueles autoproclamados como cínicos usam essa denominação como um sinal de sabedoria. Porém, essa pesquisa aqui derruba essa afirmação, apontando que o cinismo não comprova melhores resultados em testes cognitivos assim como não são melhores socialmente, ao contrário do senso comum no qual aponta que os cínicos são mais espertos que os outros.

Dito isso, podemos identificar uma diferença nos tipos de comportamentos cínicos que vemos nas organizações. Essa diferença foi classificada em 4 diferentes conceitos:

  1. Bagagens anteriores: essas pessoas trazem experiências negativas anteriores para o momento presente. É o caso daqueles que passaram por alguma promoção no emprego anterior ou sofreram com as políticas internas da organização e com a sua liderança tóxica. Seu cinismo é resultado de situações ruins do passado, mas que ainda estão vivas no momento presente. 
  2. Cínicos da Vida: esses são os mais trágicos: são aqueles que mais reclamam da vida como um todo, com sinais de ingratidão constante culpando “o sistema” regularmente. Eles enxergam apenas o pior nas pessoas, apontando inconsistências a todo o momento. Geralmente são aqueles que recusam assumir responsabilidades sobre as coisas justamente por não acreditar no todo.
  3. Os desiludidos: são os heróis/heroínas em ladeira abaixo. São aqueles que já foram comprometidos com a organização, mas agora estão frustrados com o que veem diariamente. Geralmente apontam incoerências nos valores e nos comportamentos praticados na empresa.
  4. Os ressentidos: esses são os vilões da história. Aqui é onde vimos um poço de negatividade que transborda para seus pares, sejam eles líderes ou colegas de trabalho. Esse perfil é alimentado pelas incoerências da organização, mesmo quando não há. Um exemplo poderia ser um colaborador que se sente prejudicado e mal avaliado pois acredita que uma promoção ou reconhecimento foi dado para outro(a) injustamente. Ou quando quer acreditar na sua própria versão da história para se sentir menos culpado.

Mas e aí, o que poderia ser feito para neutralizar tais comportamentos? 

  1. Incentive e seja o exemplo da positividade:

Positividade é um antídoto poderoso para o cinismo organizacional. As lideranças podem projetar emoções e comportamentos desejados nos outros, dando exemplos e sendo coerentes nas suas práticas. Isso não significa que ignorarão os problemas ou maquiá-los, mas provocarão uma aproximação construtiva, com uma mentalidade orientada à solução.

Celebrar as conquistas também pode ser uma boa forma de gerar positividade, mesmo que sejam conquistas relativamente menores. 

  1. Tenha conversas regulares com o seu time:

Como o cinismo é algo que pode impactar diferentes pessoas em um piscar de olhos, tentar evitar tal viralização se torna necessário. Para isso, buscar as pessoas diretamente promotoras do comportamento para conversas semanais ou quinzenais, demonstrando apreciação evitando o favoritismo, endereçando problemas com soluções factíveis mesmo que demorem para gerar resultados.

  1. Construa uma cultura de respeito genuíno:

Respeito é outro fator poderoso no combate ao cinismo. Essa tal ‘cultura do respeito’ vai além de uma convivência básica. Ela refere-se ao reconhecimento das pessoas pela sua singularidade como pessoa e profissional.

A percepção de injustiça é combustível para o cinismo organizacional. Assim, é importante conceder tratamentos justos para todos(as), colocando os reconhecimentos, méritos e promoções sem apelar para o favoritismo ou politicagem. 

  1. Encorajar a transparência:

Cinismo tende a crescer quando há falta de confiança ou quando há algo mais obscuro no ar. As pessoas tendem as serem menos cínicas quando entendem o porquê das coisas, sejam decisões ou ações tomadas. 

Compartilhar mais informações sobre a estratégia da organização, seus desafios e seus sucessos podem prevenir as fofocas e a quebra de informação. 

Por fim, busque sempre entender a causa raiz desse comportamento. Ao entender os 4 tipos de cinismo descritos anteriormente, você conseguirá navegar por esse desafio com mais segurança. 

Por exemplo, se alguma pessoa vem agindo de forma cínica por algo que aconteceu no passado (Bagagem), uma boa orientação por coaching ou mentoring pode ser uma solução. Ou se o problema vem das falhas organizacionais (Desiludidos), é hora de mergulhar nos desafios sistemáticos da empresa e encarar uma revisão profunda nos seus valores e comportamentos desejados. 

A consistência é a chave. Você não conseguirá resolver esse problema sozinho e tampouco imediatamente. Lembre-se que nem todo problema é percebido de imediato e declarado. Saiba identificar alguns padrões comportamentais e não deixe seu time isolado quando esse comportamento florescer. É seu papel apoiá-los nessa evolução.

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Líder de gestão de mudança e cultura na Central Ailos.

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